Opinião

Jorge Martins e a alegria

11 novembro 2022 0:08

Associamos a criação juvenil a uma disruptiva originalidade, a um génio inovador, a uma potência e um rasgo. Mas é também interessante recordar obras maiores de criadores numa idade avançada

11 novembro 2022 0:08

Aos 82 anos de idade, o pintor Jorge Martins permanece incrivelmente jovem, expressando-se numa claridade vigorosa, como se a alegria e a luz fossem o seu alfabeto e, de nenhuma parte, a radiação luminosa, que para este artista é a substância das coisas, recebesse contestação. Veio-me à mente, visitando a exposição inaugurada na Fundação Eugénio de Almeida, em Évora, a palavra “luminífero”, que significa “aquele que possui, produz, transmite ou transfere luz” (Cf. Dicionário Houaiss da língua portuguesa). Na atenção ao visível, na sua tradução em forma e cor, no cuidado com que o desenho descreve a face, a dobra ou a curva podemos reconstituir o mapa das transações da luz. Por isso, o pacto que esta pintura estabelece é, de facto, com a luz: é esse o seu programa, o seu sistema de identidade, a comunicação visual (mas não só visual, também sensorial, também emotiva, também moral...) para quem dela se avizinha. E como não ver que Jorge Martins é, entre nós, um prodigioso vaga-lume, um intensíssimo pensamento aceso que cruza este nosso tempo para nele inscrever uma inequívoca e inesquecível porção de luz?

Este é um artigo do semanário Expresso. Clique AQUI para continuar a ler.