9 setembro 2022 0:02
Salman Rushdie nunca mais será livre e esta sentença é para ele, ao cabo de anos de liberdade, tão má como a das limitações físicas. Nada voltará a ser como dantes. E tudo por causa de um livro
9 setembro 2022 0:02
O que sobra do som e da fúria é um homem com 75 anos internado num hospital com cirurgias, feridas e lesões que irão transformar a vida numa penitência. Um homem que provavelmente perderá metade da visão, o uso de um braço, e cuidará dos órgãos danificados. Como disse o amigo Ian McEwan, se já é difícil carregar os 75 anos, imaginem carregar o peso dos anos com tais dores às costas. E aquilo que o homem mais aprecia, o que o manteve vivo nos anos de esconderijos e guarda-costas, a ideia da liberdade, a vitalidade da liberdade, foi-lhe retirada para sempre. Há uma razão para o hospital deixar de dar notícias sobre o estado de saúde de Salman Rushdie, uma razão simétrica da antiga razão que fazia com que tivéssemos de o ver em lugares secretos e passar por guardas. A segurança do escritor. Os guarda-costas, ou polícias, ou quem tiver de velar pela integridade física de Salman, regressaram para ficar.
Salman Rushdie nunca mais será livre e esta sentença é para ele, ao cabo de anos de liberdade, tão má como a das limitações físicas. Nada voltará a ser como dantes. E tudo por causa de um livro.
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