Foquemo-nos nas soluções. Os últimos números reconhecidos pela União Europeia são alarmantes. Entre outubro e dezembro de 2021 foram emitidas para a atmosfera 1.041 milhões de toneladas de CO2 e equivalentes (como o metano), valor que excede as 1.005 milhões de toneladas emitidas pela Comunidade no último trimestre de 2019. Como contrariar esta tendência?
Em Portugal, a produção endógena de energia é fator crucial para o desenvolvimento económico do país. Se estruturalmente não vamos desenvolver uma estratégia de industrialização focada em riquezas minerais que não possuímos, cabe-nos encontrar alternativas. E a posição geográfica do país é um garante de crescimento, que não se cinge ao Turismo, pois tem à disposição uma vasta costa atlântica, proximidade ao norte de África e um clima que, embora temperado, é ventoso.
Sejamos otimistas, Portugal já começou a desenvolver uma política que lhe permitirá ganhar maior destaque no desenvolvimento energético com base em fontes renováveis. Mas devemos ser, em simultâneo, realistas. Há ainda um longo trabalho pela frente, também para não ferir ainda mais uma economia que nos últimos anos tanto tem sofrido por via das mais variadas circunstâncias conjunturais.
Centremo-nos nas boas notícias. Desde logo, o crescimento da potência instalada para produção de energia elétrica, que registou um aumento de cerca de 4 GW, em larga medida por via de centrais de produção de eletricidade a partir de fontes renováveis. Perante o peso da produção elétrica com origem em fontes renováveis a atingir os 60%, o Plano Nacional de Energia e Clima (PNEC) aponta para que no final da década 80% da eletricidade consumida em território nacional venha de fontes renováveis.
Numa perspetiva mais macro, em 2019, as renováveis representaram 30,6% do consumo final bruto de energia, o que deixou Portugal na interessante sétima posição entre os Estados europeus. O PNEC estabeleceu para 2030 uma meta de 47% das renováveis no consumo final bruto de energia. Com a crescente ambição a nível europeu, decorrente do REPowerEU, os Estados Membros terão de rever os seus planos em conformidade, sendo plausível admitir que também Portugal revirá em alta as suas metas de penetração de renováveis.
Outros aspetos podem parecer positivos, como a redução do saldo importador de produtos energéticos, que em 2020 foi de 2.914 milhões de euros, menos 38,6% em euros face a 2019. Resta saber qual o impacto da pandemia nestes dados; sem esquecer que o setor dos transportes continua a ser aquele que mais energia consome (36,1% em 2019), e a utilização das fontes renováveis a este nível continua algo residual – pese embora todas as boas intenções quanto à mudança de paradigma no mundo automóvel, dos motores de combustão interna para o mundo híbrido, antes da completa adoção das motorizações elétricas.
Para que haja uma cabal transformação, há que incentivar à mudança com o intuito de promover políticas de desenvolvimento económico, social e territorial. Se tal permitirá o cumprimento de metas e objetivos sustentáveis a médio e longo prazo, esperamos todos que sim. Pelo menos, os decisores assumem um discurso otimista ou não tivesse o Governo assegurado que “Portugal bateu recordes mundiais nos leilões de energia solar, e será possível antecipar em cinco anos o cumprimento das metas estabelecidas no Plano Nacional de Energia e Clima 2030”.
O setor energético ainda tem muito que crescer e a inovação e digitalização caracterizam-se como pilares cruciais para a concretização deste processo, uma vez que permitem reforçar a eficiência e competitividade das empresas. Mas, para responder adequadamente à transição energética, é necessário focar nos negócios de distribuição e geração de energia. O futuro das energias renováveis tem que ser positivo, para o futuro económico do país e de sustentabilidade das sociedades. Este tipo de energia é sem dúvida a solução para muitos problemas globais e, por isso, é importante notar a necessidade de acelerar os procedimentos. Portugal está no bom caminho. Resta-nos cumprir o nosso desiderato e fazer deste um caminho com futuro.
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt