Segundo um relatório recente da Bloomberg Intelligence, o metaverso é um mercado de 800 mil milhões de dólares. Embora alguns ainda estejam a debater sobre o que é realmente o metaverso, o volume de capital investido e a curiosidade em torno deste, têm despertado a atenção de todos.
Tal como acontece na realidade, neste novo mundo virtual a inteligência artificial (IA) também desempenhará um papel central, especialmente na facilitação da forma como comunicamos. Contudo, e assumindo o lado bom de possibilitar que estejamos mais ligados do que nunca, uma IA desprovida de qualquer regulação, norma ou código ético pode ter implicações significativas. Assim, a pergunta que se impõe, e que surgiu recentemente nas palavras do CEO da Google, Eric Schmidt, "Quem é que define as regras?”.
Sabemos que os algoritmos de IA são construídos por pessoas e que podem seguir o pensamento e o preconceito do seu criador. O problema é que estes dados podem criar situações de discriminação graves, como, por exemplo, os enviesamentos de género. Recorrendo ao caso conhecido do Apple Card, como é que podemos aceitar que a IA defina um limite superior de crédito para os homens do que para mulheres, ou que certas etnias sejam mais propensas a injustiças? São estas questões que temos de ponderar para criar um metaverso próspero e mais equitativo.
A verdade é que uma grande parte da IA é desenvolvida sem supervisão ética, algo que tem de mudar com a chegada do metaverso. Assim, a solução está na criação de padrões éticos para o desenvolvimento de IA responsável, que sejam transversais a todas as organizações.
Acredito que a tradução e a comunicação entre diferentes línguas está interligada com a responsabilidade de evitar o preconceito no metaverso. Imagine-se que o avatar do Miguel quer falar com o avatar da Maria, mas eles não falam a mesma língua. Como é que a IA traduzirá as suas mensagens? Directamente? Ou terá em conta a intenção da pessoa em vez de traduzir as palavras literalmente, para que a pessoa que recebe a mensagem possa compreender? No metaverso, muitos utilizadores estarão provavelmente a comunicar nas suas próprias línguas, através de potenciais tradutores automáticos. Contudo, se mantivermos a impunidade à qual a IA está sujeita atualmente, o que veremos serão preconceitos perpetuados neste novo mundo virtual.
Como ávido aprendiz de línguas e fundador de uma empresa que usa inteligência artificial, com edição humana, para ligar as pessoas a uma escala global, é com entusiasmo que encaro a perspectiva de todos se poderem tornar poliglotas. Contudo, o que considero ser o maior desafio, e que capta ainda mais a minha atenção é o processo que estará por detrás dos mecanismos de IA que farão isto acontecer.
No metaverso, o quão "humanos" somos importará. As empresas podem utilizar tecnologias de linguagem para traduzir rapidamente interações em diferentes línguas, o que poderá ajudar a criar comunidade online, confiança e inclusão. No entanto, se não tivermos cuidado com as palavras que escolhemos, a tecnologia pode também criar preconceitos ou permitir um comportamentos menos corretos.
Se agora se está a perguntar como é que isto pode acontecer, dou-lhe um exemplo: já alguma vez ouviu uma criança de 3 anos falar com a Alexa? Quando as pessoas sabem que estão a interagir com a tecnologia e não com humanos reais, não sentem a necessidade de serem educadas. É por isso que, muitas vezes, os clientes são mal-educados com os chatbots, com a Alexa ou com as linhas telefónicas automatizadas. Se conseguirmos fazer do Metaverso o novo mundo ideal, teremos inteligência artificial desenvolvida ao ponto de captar as nuances e a empatia necessárias para representar com precisão um humano.
No caso das marcas, que já estão a gastar dinheiro real em moda virtual, precisam de encontrar formas de criar experiências online autênticas ou até melhores, ao ponto de superar a interação presencial. Esta é uma fasquia alta de ultrapassar e a comunicação inteligente da linguagem fará parte dessa jornada.
Em conclusão, se sabemos que a IA é uma ferramenta essencial para “falar a mesma língua” dos consumidores e nenhuma marca quer ficar para a história acusada de discriminar um grupo de pessoas, é fundamental que a tecnologia fique cada vez melhor na previsão de padrões e cada vez mais regulada.
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt