Opinião

O preço da chuva

A chuva, como diz o povo, pode faltar nos meses, mas não falta no ano. E para descer o seu preço é preciso mais do que passar 6 anos a varrer escada acima

O preço da chuva

Hugo Carvalho

Deputado do PSD

Durante as últimas décadas, muito do desenvolvimento da nossa economia desconsiderou o preço da poluição. O CO2 foi “ao preço da chuva” e durante demasiado tempo construímos, comprámos, vendemos e criámos sem contabilizar a destruição do nosso planeta e o risco em que colocámos o nosso futuro coletivo. Hoje a chuva é mais cara. O CO2 faz parte do preço das coisas que compramos de vez em quando, mas também da energia que compramos, todos os dias, a todos os segundos, em quilowatts-hora (kWh) e, por estes meses, cada vez mais cara.

A eletricidade passou a ser vendida em mercado aberto em 2007, quando se quebraram os monopólios da sua venda e produção na União Europeia e se estabeleceu a concorrência neste setor, a bem dos consumidores. Portugal e Espanha criaram um mercado ibérico, no qual se forma o preço em função da oferta e da procura, cujo crescimento aumenta, naturalmente, a probabilidade de ficarmos reféns das centrais a gás e carvão, ou seja, de pagarmos o aumento do preço do gás, e também do CO2 na nossa eletricidade.

Solução? Renováveis. As tecnologias de produção de energia renovável têm a virtude de reduzir substancialmente o preço da eletricidade e o prejuízo ambiental da sua produção. E por isso não vale a pena embarcar em cantos de sereia de quem acha que tudo se resolveria se não tivéssemos investido em renováveis para ter uma central nuclear em Portugal. Basta fazer as contas ao dano que teríamos no preço da energia se tivéssemos ainda mais produção com CO2, neste momento.

A transição energética tem que ser feita com investimento privado, de forma séria, estável e ponderada. É possível fazê-lo beneficiando os consumidores, o país e o sistema elétrico nacional e esse é o rumo que não podemos perder. Também isso nos deve alertar para os que se aproveitam deste tema para fazer politiquice. Como o BE, que andou 8 anos a levantar suspeições a uma lei feita pelo PSD, para arrumar a viola no saco este ano - em que ela entra em vigor - e garante que cerca de 20% da produção nacional vende o MWh a 90€ (em vez dos 190€ do mercado). Caso para dizer que importante mesmo é fazer as contas, ser ponderado, e conseguir ver para lá das próximas eleições.

Com a percentagem de incorporação de energias renováveis estagnada desde 2015, o Governo continua a anunciar investimentos, mas não faz uma única reforma nada para que as centrais possam aparecer; anuncia as políticas para as pessoas, mas continua a deixá-las asfixiadas em burocracia na máquina do Estado, e no momento em que é chamado a agir sob este aumento de preços no mercado, anuncia o pacote de tudo o que há anos está programado, e por concretizar. A chuva, como diz o povo, pode faltar nos meses, mas não falta no ano. E para descer o seu preço é preciso mais do que passar 6 anos a varrer escada acima.

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