Detenho-me no esplendor da alteridade enquanto princípio de conduta e, sem qualquer diferença, enquanto princípio literário
Caricata, obscena, aterradora e de um mistério abismal, eis como James Agee vê a situação de escrever sobre pobres a troco de dinheiro. Verão de 1936, viaja com Walker Evans ao Alabama profundo para ver os efeitos da Grande Depressão na vida de lavradores (de que resultará a obra-prima, “Let Us Now Praise Famous Men”). Caricata, obscena e aterradora, de mais a mais por encomenda da revista “Fortune” e, no caso de Evans, sob contrato do governo americano. Se de consciência tranquila se autorizavam, por um lado, iludir as entidades patronais (das quais se achavam “inimigos perigosos”), esticando a oportunidade para escrever e fotografar como bem entendessem, temiam, por outro lado, desiludir os hóspedes; traí-los. Na posição melindrosa de “espiões, guardiães e trapaceiros”, viram-se responsabilizados pelas circunstâncias: responsáveis, se quisermos, pela vulnerabilidade da alteridade, pelo esplendor da alteridade.
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