O Partido Comunista Chinês foi fundado em julho de 1921, comemorou, portanto, há uns dias, os seus 100 anos.
Não é uma data comemorativa qualquer, ou não estivéssemos nós a falar do Partido Comunista há mais anos no poder em toda a história. A República Popular da China é hoje o exemplo maior, talvez até o único, de que um modelo baseado no comunismo pode ser implementado de forma bem-sucedida política e economicamente. Com efeito, o modelo chinês, já sobejamente conhecido como o “socialismo de mercado com características chinesas”, é muito peculiar. Diria que aquilo que faz deste socialismo de mercado um modelo bem-sucedido são precisamente as suas “características chinesas”, o que, para o contexto específico da República Popular da China é ótimo, mas talvez o torne irreplicável noutras partes do mundo.
Certo é que o Partido Comunista Chinês conta atualmente com cerca de 95 milhões de membros, não obstante ter passado por dificuldades ao longo do seu século de existência. Nem sempre teve a mesma postura diante dos desafios que se lhe apresentavam pela frente e essa postura era em boa parte ditada pelo seu líder, em cada momento histórico. Mas há uma coisa que podemos destacar como uma constante: a sua grande capacidade de resiliência e de se reinventar ao longo dos tempos.
Poderíamos neste espaço falar dos diversos líderes desde a fundação da República Popular da China em 1949 até à atualidade: Mao Tse-Tung, Deng Xiao Ping – um líder muito astuto – ou ainda Jiang Zemin, mas haveria imenso para dizer. Falemos apenas da liderança atual: a de Xi Jinping que se iniciou em 2012 e que já tem feito correr muita tinta na imprensa internacional. Com efeito, a imagem da China nestes últimos dois anos caiu um pouco em desgraça, junto da comunidade internacional, sobretudo no Ocidente. São vários os fatores explicativos para que tal esteja a ocorrer: uma administração americana claramente “anti-China” com Donald Trump (e agora também com Joe Biden, apesar das formas de atuação serem diferentes entre os dois presidentes); o nacionalismo exacerbado do líder Xi Jinping que pretende realinhar a República Popular da China com alguns ideais típicos da era maoísta (o que é visível em vários domínios públicos, como sendo a questão das liberdades individuais, o desenvolvimento do poderia militar do país, entre outros aspetos); e, não menos importante, o impacto negativo inicial da gestão da crise pandémica, para o qual nada contribuiu o discurso do “vírus chinês”, muito pouco credível e sustentado do ponto de vista científico.
Contudo e apesar desta tendência, o Partido Comunista Chinês está empolgado na sua luta pelo “Sonho Chinês” e isso foi bem visível nas comemorações do Centenário do partido. Vemos um Secretário-Geral do Partido e Presidente na emblemática praça de Tianamen, sob o olhar atento de milhares de chineses que ostentam orgulhosamente a bandeira nacional, proferindo um discurso que destaca de forma inequívoca as grandes conquistas do partido, a maior de todas: a erradicação total da pobreza extrema do seu país. E, diga-se de passagem, em tempo record, pois em 1978, antes do início da reforma de abertura económica, a China era ainda um país desgastado por anos de guerras e opressão – o “século da humilhação” – e um dos mais pobres do Mundo.
Segundo Xi Jinping, o seu país avança agora rumo a um novo objetivo, fecha-se um ciclo e já está outro em marcha: “(…) fazer da República Popular da China um grande país socialista e moderno em todos os níveis". De acordo com a ideologia do atual presidente, tal objetivo só pode ser alcançado prosseguindo com o esforço de reunificação e revitalização da nação chinesa. Esta ideologia central está imbuída em todos os atos de propaganda do Partido, sendo o socialismo de mercado com características chinesas apontado como o "caminho único para a civilização chinesa" e "um novo modelo para o progresso humano".
Não é por isso de estranhar que para o outro Centenário importante que se aproxima – o da proclamação da República Popular da China – em 2049, este enfoque no “Sonho Chinês” de um país rejuvenescido e num estado avançado de prosperidade em todos os aspetos esteja firmemente assente nos Valores Socialistas Fundamentais: prosperidade, harmonia, civilidade, liberdade, equidade, justiça, estado de direito, democracia, dedicação, patriotismo, integridade e amizade.
O que é pedido à população chinesa neste aniversário do Centenário do Partido Comunista Chinês? Que continue a vê-lo como o meio indispensável à construção de uma sociedade próspera, o único instrumento ao dispor da nação para “atravessar o rio tateando as pedras” (provérbio da sabedoria chinesa) e para liderar num caminho rumo à revitalização da nação chinesa com o confucionismo e os princípios marxistas-leninistas como pano de fundo num constante jogo de equilíbrios marcado pelo contexto económico-social da China. A partir daí, (quase) tudo o resto se faz.
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