Dia 9 de abril será, aparentemente, recordado como um dia trágico para a democracia e para Estado de Direito em Portugal. O Ministério Público recorreu para a Relação, alguns dos crimes que caíram vão ser reerguidos – apesar dos processos terem sido autonomizados e isso levantar problemas –, vai-se tentar reabilitar parte da investigação e sobram os crimes de branqueamento de capitais, com moldura penal pesada, e de falsificação de documentos. Mas mesmo que tudo o que Ivo Rosa decidiu na sexta-feira venha a ser desfeito, que racionalidade sobra ao sistema, aos olhos dos cidadãos? Quem acreditará no rigor de uma justiça que salta do 8 para 80? E daqui a quanto tempo se fará justiça, se alguma for feita?
Enquanto a raiva se espalha pela rua, pelas redes sociais e pela comunicação social e os oportunistas mediáticos e políticos do costume a usam para proveito próprio, os cidadãos deveriam perguntar-se onde é que o processo que era suposto testar a maturidade do nosso sistema de justiça falhou. E quem falhou? Depois veremos se quem se julga vencedor venceu realmente.
Há coisa que qualquer pessoa dotada do mínimo de inteligência já sabia: que o dinheiro que Carlos Santos Silva “emprestava”, “dava” ou fazia José Sócrates poupar na despesa era do ex-primeiro-ministro ou tinha-o como destino final. Que ele não o declarou ao fisco. E que a sua origem era ilegítima. Isto teria de corresponder a branqueamento de capitais, fraude fiscal e falsificação de documentos. A corrupção era a parte mais complicada.
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