Opinião

De volta ao mercado da arte com os modernistas

De volta ao mercado da arte com os modernistas

Mário Roque

Colecionador e Antiquário

Ao longo dos últimos anos a instabilidade global tem afetado os investidores de forma variável, embora com reflexos diferentes nos diversos tipos de aplicações financeiras.

O valor global do Mercado de Arte atingiu em 2019 os cerca de 64 mil milhões de dólares, o que representa uma contração de 5% relativamente ao ano anterior. Este facto reflete a volubilidade política e comercial nos três países que acumulam 84% desse mercado: os Estados Unidos da América (44%), o Reino Unido (21%) e a China (19%). No entanto, a retração não foi idêntica em todos os sectores, tendo o mercado de arte sido menos afetado do que a maioria dos outros investimentos.

Efetivamente, este mercado de arte tem, em geral, um comportamento diferente das restantes formas de aplicação de capitais. Durante as grandes crises económicas que conduziram a fortes crashes financeiros, o saldo foi em geral positivo, tendo havido um incentivo à transação de obras de arte, com grande agitação no mercado.

A situação actual não é excepção.

A forma repentina e global com que a pandemia se instalou, pondo em risco de forma incontrolável a saúde da população foi responsável por uma apatia inicial nestes dois meses. No entanto com o desconfinamento, sente-se já uma grande animação no mercado de arte, quer nacional, quer internacional.

Em 2018 cerca de 46% do valor global do mercado correspondeu a transações efetuadas em feiras de arte e de antiguidades. Este facto ilustra a importância destes eventos no comércio de arte internacional, onde inúmeros investidores recorrem para investir os seus capitais, como é o caso da Tefaf Maastricht, a Masterpiece London a Biennale Paris ou a ARCO Madrid. Esta tendência reflete-se também em Portugal que, embora numa escala mais reduzida tende a acompanhar o mercado internacional.

Esta dinâmica foi contudo suspensa com a pandemia do Covid-19, que forçou o cancelamento de todos estes eventos a partir de Março. A Tefaf em Maastricht, apanhada pela situação durante a sua realização encerrou precocemente as suas portas e a Biennale Paris anunciou há poucos dias o adiamento da sua 32ª edição para Setembro de 2021. O mesmo aconteceu com a Masterpiece em Londres, a Tefaf em Nova Iorque, a Lisbon Art and Antiques Fair em Lisboa e com outras feiras pelo mundo fora.

As dificuldades atuais na divulgação de obras de arte obrigam a reinventar este mercado e a procurar novas formas - High-Tech - de chegar não só aos habituais colecionadores, mas também aos novos investidores, através de websites, instagram shows, twitter e facebook, com consulta e acesso de casa.

Em paralelo ao investimento, o mercado de arte tem um aspecto lúdico muito importante, uma vez que é uma das poucas formas em que é possível conciliar a aplicação de capitais com o seu usufruto diário.

Ao permitir-nos conviver no dia-a-dia com os nossos investimentos, constitui uma forma saudável de lazer no espaço que habitamos, com um papel importante na nossa vida e bem-estar contribuindo igualmente para o nosso enriquecimento cultural.

No presente caso, tem contribuído para minimizar o isolamento a que fomos obrigados e a ansiedade que daí resulta, como que se de um antídoto, se tratasse.

A arte pode ter assim um papel importante na retoma económica, pelo que urge tomar iniciativas que a promovam e dinamizem o sector. Não podemos ficar estáticos. Temos de agir rapidamente.

Inaugurámos uma exposição que reúne 82 trabalhos inéditos de Costa Pinheiro, da série “D´Os Reis”, o ponto mais alto da sua carreira, com uma analise profunda que permitiu dissecar e descobrir a génese iconográfica destes trabalhos.

Se grande parte dos connaisseurs considera uma grande ousadia, e advoga que esta exposição pode estar condenada pela apatia que o confinamento provocou. Não concordo. Temos todos a obrigação de colaborar ativamente para reverter o desaire que se instalou, contribuindo para reedificar os eventos culturais do país.

A arte constitui, assim, uma boa alternativa e um dos investimentos menos arriscados a breve / médio prazo e poderá ter um papel relevante na retoma económica e divulgação da Cultura.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

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