Opinião

Aprendizagem remota versus presencial – Competição ou parceria?

Aprendizagem remota versus presencial – Competição ou parceria?

Pedro Brito

Associate Dean para Formação de Executivos na Nova SBE

O contexto atual acelerou um movimento de transformação massiva na forma como trabalhamos, aprendemos e ensinamos, consumimos e até na forma como fazemos as nossas escolhas, todos os dias.

No ensino, e em particular na formação para executivos, a mudança de paradigma do trabalho presencial para remoto tornou evidente que é possível, em muitos casos, não só trabalhar com eficácia à distância, mas também aprender e ensinar remotamente.

É evidente que nada substitui o contato humano, mas algumas das vantagens do ensino à distância estão já à vista de todos: as plataformas de ensino são cada vez mais interativas e permitem um envolvimento mais equilibrado de todos os participantes, trazendo maior diversidade e riqueza de pensamento para toda a turma; os sistemas de votação automática dotam a sala de aula de uma dinâmica ainda mais interessante; tornou-se mais fácil convidar market leaders para fazer parte das sessões online, reforçando a ligação ao mundo empresarial; etc.

E não são apenas as funcionalidades destas novas tecnologias que “marcam pontos” no processo de aprendizagem. Se a abordagem online for devidamente desenvolvida e implementada, existem certos benefícios económicos que não podem ser menosprezados, a saber, o tempo e dinheiro investidos em deslocações, estadias e, sobretudo, o custo oportunidade que esse tempo “morto” representa para o negócio.

Quererá isto dizer que o futuro da educação passará inevitavelmente pela adoção de sistemas de ensino à distância?

É importante compreender que nem tudo são vantagens e existem diversos cuidados a ter com a aprendizagem online. Em primeiro lugar, é possível verificar que a capacidade de concentração dos participantes diminui e, por outro lado, que se torna necessário estruturar o processo de aprendizagem em blocos de tempo muito mais reduzidos. Em segundo lugar, existe o risco de o participante realizar ou de lhe ser exigido realizar outras atividades em simultâneo com a formação que está a decorrer: uma chefia que marca uma reunião à mesma hora; uma solicitação doméstica que o desvia de momentos críticos do processo de aprendizagem; o próprio participante assumir que é capaz de realizar várias atividades em simultâneo; entre outros exemplos que poderiam ser dados.

Depois existe o fenómeno da fadiga online, passe a expressão. As profissões que exigem um uso frequente ou quase constante das ferramentas de videoconferência impõem um esforço invisível, mas não menos significativo, aos seus utilizadores, que de outro modo não conseguiriam de facto acompanhar o que cada uma das pessoas está a dizer na respetiva reunião. A tudo isto por vezes acresce ainda a falta de rede, o que, entre outras coisas, leva a cortes nas frases e obriga a que os demais participantes tenham de “juntar as peças”. Este processo contínuo de esforço mental contribui para um sentimento de exaustão que não é sustentável a médio-longo prazo.

Finalmente, o online não consegue, pelo menos para já, substituir muitos dos estímulos químicos naturais à presença física. A química resultante da proximidade entre as pessoas e do debate de ideias, a reação coletiva só plenamente experimentada quando nos encontramos na sala de aula ou o cheiro a mar característico do novo Campus de Carcavelos, são apenas alguns exemplos que poderiam ser apontados.

Qual deveria ser então a melhor abordagem para uma aprendizagem eficaz e equilibrada?

O futuro será muito seguramente blended, ou seja, um misto entre a aprendizagem presencial e online. Isto porque existem vantagens e valor a capturar das duas abordagens. Contudo, deve ser enfatizado que um programa blended não passa simplesmente por dividir entre presencial e online. É absolutamente crítico garantir que existem condições adequadas para que possa ser implementado com sucesso, quer do lado da escola, quer do lado da empresa ou dos participantes individuais.

Seja qual for a configuração final assumida, o futuro reservará provavelmente uma realidade mais mista ao nível do ensino, o que irá exigir por parte de todos mais colaboração na forma de trabalhar, aprender, ensinar e viver. Por essa razão, Blended is Good.

Nota: artigo escrito pelo autor na semana em que a Nova SBE é consagrada como a business school portuguesa nº 1 ao nível de Executive Education pelo Financial Times.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

Comentários
Já é Subscritor?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate