Volta ao Mundo em 8 dias

Preparem-se: isto vai ser a correr

Preparem-se: isto vai ser a correr

Sebastião Bugalho

Eurodeputado eleito pela AD

O protagonista: os primeiros 100 dias de Montenegro

Não é inteligente subestimá-lo, nem prudente subestimar o que enfrentará. Luís Montenegro será indigitado primeiro-ministro antes do mês terminar e disputará novas eleições ‒ as europeias ‒ antes do verão começar. Para os leitores e observadores que se julgavam enfadados com os anos de letargia costista, apertem os cintos, que será uma viagem e tanto.

Montenegro terá menos de três meses para 1. compor uma equipa governamental capaz e credível, 2. implementar medidas definidoras da sua relação com os outros partidos do plenário, 3. cumprir a sua promessa de não liderar um Governo dependente do Chega, 4. disputar as eleições europeias contra um PS que não perdia há 9 anos e um Chega altamente mobilizado, 5. sobreviver a tudo isso.

Serão 100 dias de alta rodagem na velha carrinha social-democrata e, ouvindo Luís Marques Mendes ontem na SIC, há a possibilidade de um atrelado se juntar. Apesar de posições no sentido contrário manifestadas nos últimos dias pelo seu líder e pelos seus deputados, Mendes avança que a Iniciativa Liberal pode vir a integrar o executivo de Montenegro e constituir uma pré-coligação formal para as europeias de junho.

Tal, que à primeira vista poderia não fazer sentido para ninguém, não é inteiramente descabido. É certo que obrigaria os liberais a despirem a confortável capa de partido de protesto, e forçaria os sociais-democratas a outros padrões orçamentais (e judiciais), mas reforçaria as chances de ambos sobreviverem dignamente às primeiras intercalares deste ciclo: as eleições para o Parlamento Europeu em junho.

Com o PS a polarizar à esquerda e o Chega à direita, a direita democrática ganharia força para ombrear com a concorrência que a ladeia.

Uma aposta de alto risco, dirão. Mas Montenegro já nos habituou a elas.

O evento: os meus amigos do PS têm de se decidir

Com franqueza, nem com toda a benevolência do mundo se consegue entender. As eleições foram há uma semana e o Partido Socialista não consegue ter uma opinião consistente sobre o seu posicionamento para a legislatura, nem manter uma sobre os resultados de 10 de março. Na madrugada eleitoral, Pedro Nuno Santos proferiu um acertado discurso, reconhecendo a derrota, assumindo o papel de líder da oposição e reclamando para si a missão de reconquistar os descontentes que escolheram o voto de protesto. Fez bem. De lá para cá, o seu silêncio foi apenas discreto em comparação com a disparidade de visões que se foram acumulando no seu partido.

Com os seus mais próximos a jurarem a pés juntos que não viabilizarão qualquer Orçamento de um Governo AD, Pedro Nuno terá reparado nos apelos “à estabilidade” deixados por figuras tão contrastantes quanto António Costa, Ferro Rodrigues, Santos Silva, Capoulas Santos, Álvaro Beleza (seu mandatário) ou Sérgio Sousa Pinto (seu apoiante) ao longo da última semana.

Enquanto uns referiram a necessidade de não interromper precocemente a legislatura ‒ coisa que um chumbo orçamental teria a elevada chance de provocar ‒, outros apontaram a possíveis consensos com o PSD. Todos, de uma forma ou de outra, procuraram afastar o Partido Socialista da posição excessivamente taxativa acerca de um Orçamento que ninguém conhece e que será apresentado por um Governo que ainda nem sequer existe.

Em simultâneo, a cúpula pedronunista protagonizaria novo volte face, com Alexandra Leitão, que dois dias antes reclamara a responsabilidade de o PS liderar a oposição, a lançar a hipótese de o mesmo PS vir afinal governar o país.

Com a maior simpatia pelos visados, não se percebe nada do que o Partido Socialista está a dizer nos últimos dias. Estabilidade? Sim. Eleições em menos de um ano? Também. Liderar a oposição? Já. Governar caso o resultado se inverta? Porque não?

A advertência: Porque no te callas?

Depois de ter custado certamente uma valente percentagem de votos ao seu partido, Miguel Albuquerque prossegue a sua inusitada campanha de sabotagem da direção nacional do PSD, clamando que o Chega é um partido “imprescindível” no atual quadro de instabilidade, o que vai diretamente contra a posição de Luís Montenegro, que não tenciona depender do Chega para governar.

Não é a primeira, nem a segunda, nem a terceira vez que o ainda líder dos sociais-democratas madeirenses destoa da mensagem do PSD de Montenegro. Nem é a primeira, nem a segunda, nem a terceira vez que parece fazê-lo propositadamente, ainda que sem outro objetivo que não esse.

Demissionário do governo regional por investigação judicial, recandidato ao cargo contra a vontade do presidente do seu partido, Albuquerque, mais do que uma pedra no sapato, força-nos recorrentemente a lembrar a figura de Juan Carlos, antigo rei de Espanha, que diante de semelhantes inconveniências eternizou sábia resposta: por que não te calas?

A sugestão: ‘Gentlemen’

Envoltos em tramas igualmente sombrias, mas seguramente melhor vestidos, são os atores com que Guy Ritchie estreou a série “The Gentlemen” na plataforma de streaming Netflix. Inspirada na narrativa que já produzira um filme, os cavalheiros do realizador britânico navegam nas águas da aristocracia e do crime com idêntico à vontade.

Com tributos a filmes históricos do crime organizado (um irmão mais velho preterido na sucessão do império, a traição do mesmo, entre outros regressos a Coppola), “The Gentlemen” é um êxito para passar um fim-de-semana chuvoso.

Boa semana

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

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