Observatório da Maioria

Ceder, em Democracia, não é vergonha: é progresso (uma carta aberta a Pedro Nuno e Montenegro)

Ceder, em Democracia, não é vergonha: é progresso (uma carta aberta a Pedro Nuno e Montenegro)

David Dinis

Diretor-adjunto

Atente bem nas palavras de Nuno Melo à TVI, há pouco mais de duas semanas:

“Se o PS vencer as eleições, quem vence deve governar. É isso que é suposto. Aplico aos outros aquilo que reclamo para nós. Se a AD vencer as eleições, deve governar; o que reclamo para a coligação deve ser aplicável a todos os outros. Falo por mim enquanto presidente do CDS. Tento ler a política dentro da normalidade possível e a normalidade possível diz-me que quem vence deve governar. Outros entendem que não é assim. Logo se verá.”

Estas foram as palavras mais razoáveis que ouvi um responsável político dizer nesta pré-campanha. Mas o que se seguiu provou como André Ventura já conseguiu a mais importante das suas conquistas: fazer com que a negociação, o compromisso e a cedência – palavras fundamentais nas Democracias Liberais nascidas das revoluções francesa, mas sobretudo britânica e americana –, já sejam encaradas como motivo de vergonha, de censura, de pecado.

Sim, foi exatamente o que aconteceu quando Nuno Melo disse aquelas palavras: o líder do Chega atirou-se sem demoras a Montenegro, desafiando-o a “responder se prefere dar a mão ao PS ou à direita; os comentadores elogiaram a destreza do líder do Chega, o PSD envergonhou-se e remeteu-se ao silêncio; o presidente do CDS remeteu-se à triste figura de dar o dito por não dito. A direita moderada, que andou os últimos meses a jurar a pés juntos que ”não é não", encolheu-se com o ataque e não conseguiu afirmar o mais básico dos princípios: sim, se os portugueses derem a vitória ao PS, ainda que exista uma (alegada) maioria de direita, o PSD prefere que sejam os socialistas a governar do que levar o Chega ao poder.

Bastava dizer isto e acrescentar o óbvio: não só os portugueses teriam eleito o PS e não o Chega para governar; como o Chega não é um partido “de direita” – é um partido radical que banaliza o ódio e a desordemsempre que isso lhe é conveniente (como se vê pela infiltração no protesto dos agricultores e pela presença nos movimentos anti-imigração). Se não fosse suficiente, acrescentaria isto: pela sua natureza e pelo seu líder e acólitos, é um partido incapaz de dar qualquer estabilidade a qualquer Governo, como se provou pelos Açores.

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