Observatório da Maioria

Cuidado com o que desejas: sobre a importância dos (verdadeiros) partidos na Democracia

Cuidado com o que desejas: sobre a importância dos (verdadeiros) partidos na Democracia

David Dinis

Diretor-adjunto

Em França, Emmanuel Macron criou o En Marche, um partido à sua medida, que comanda o país há oito anos. Neste momento, com o partido abaixo dos 20% nas intenções de voto, Macron nomeou Gabriel Attal, de 34 anos, uma última tentativa de (com um substituto exatamente à sua imagem) recuperar terreno face a Marine Le Pen, cujo partido lidera sondagens com 10 pontos de vantagem – a apenas dois anos das presidenciais. Os tradicionais partidos do centro? Mantêm-se abaixo dos 10%.
O cenário político em França está assim.

Em Itália o centro-direita quase desapareceu há muito: a Força Itália, fundada por Berlusconi, afundou nos 10%; o centro-esquerda resiste mal e longe do poder, nos 20%. E a Liga Norte de Salvini ou, agora, os Irmãos de Itália de Meloni, dominam as intenções de voto desde 2018 (com quase 30%), sempre assentes no culto da(o) líder. Eis, em Roma, o caminho que as coisas levam.

Na Alemanha os três partidos do Governo já estão todos abaixo da AfD. Exatamente: o partido irmão do Chega atingiu 22% (em média) nas sondagens, apenas abaixo da CDU que segue com 29% e poucos parceiros potenciais de Governo visíveis no radar. O SPD, central na edificação da democracia alemã, encolheu para 14%. O novo e também populista BFW (mas mais à esquerda), fundado agora por Sahra Wagenknecht com o seu próprio nome, lançou-se com cerca de 10% – prometendo fragmentar ainda mais um cenário político inimaginável há poucos meses.

Podia dar-vos outros exemplos, como o da Áustria, onde a direita moderada ainda está à frente do Governo (numa coligação com os Verdes), mas onde a direita radical da FPO lidera as sondagens há mais de um ano; podia falar-vos dos Países Baixos, onde o novo parlamento tem 17 partidos – e quem ganhou mais votos foi partido unipessoal do nacional-populista Geert Wilders (cujas intenções de voto dispararam logo após as legislativas).

Este artigo não é, porém, sobre a ascensão dos populismos, nem sequer sobre a fragilidade dos partidos moderados. É sobre a erosão rápida de uma das instituições mais centrais das democracias liberais construídas a partir do pós-guerra na Europa: os partidos políticos.

Não se trata apenas de estruturas que nos representam. Os partidos dão uma infraestrutura essencial à democracia, porque ajudam os cidadãos a associarem-se uns aos outros, facilitam a conversa, criam propostas de mudança estáveis e ponderadas. A representação é, assim, o final desse processo de construção.

Já é Subscritor?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para continuar a ler

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: ddinis@expresso.impresa.pt

Comentários
Já é Subscritor?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate