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A arma do cansaço

A arma do cansaço

João Cândido da Silva

Coordenador do Expresso Online

Bom dia,

O frenesim que está a marcar as semanas iniciais do segundo mandato de Donald Trump deslocou-se para o conflito militar na Ucrânia. O Presidente dos Estados Unidos, que prometeu, antes de ser reeleito, estabelecer rapidamente a paz, conversou nesta quarta-feira com Vladimir Putin e Volodymyr Zekensky.

Os telefonemas de Trump para os líderes da Rússia e da Ucrânia seguem-se a contactos diplomáticos que visaram preparar as linhas de um eventual acordo, bem como a declarações e gestos que parecem ter correspondido a iniciativas para criar uma atmosfera favorável a um entendimento, no curto prazo, destinado a calar as armas.

Ao admitir a troca de territórios com a Rússia, Kiev deu um passo que há escassos meses seria dificilmente imaginável, mas este aspecto é um dos pontos fundamentais na resposta à pressão dos Estados Unidos para obter cedências. Se houvesse dúvidas, Peter Hegseth, responsável pela Defesa na nova administração norte-americana, não podia ter sido mais claro quando declarou como “irrealista” pensar ser possível o regresso à situação que existia antes de Moscovo ter procedido à anexação da Crimeia, em 2014.

Zelensky procura garantias de manutenção do apoio dos Estados Unidos à sua segurança, mas a Casa Branca tem sido parca em afirmações assertivas. Kiev já abriu o acesso às tentadoras reservas de metais raros de que dispõe, numa táctica que visa manter Trump do seu lado. Várias capitais europeias renovaram, ontem, a promessa de não abandonar a Ucrânia perante a evidente mudança de tom de Washington em comparação com os tempos em que Biden garantia que seria feito “tudo o que fosse necessário”.

As promessas de Trump de rapidez nas negociações para a paz são plausíveis ou apenas mais um dos excessos de retórica do Presidente norte-americano? Os Estados Unidos têm um plano coerente e articulado para assegurar, na mesa das conversações e no terreno, uma paz duradoura? Os sinais são contraditórios. O cansaço da guerra será um estímulo forte para encontrar uma solução imediata, mas o conflito poderá ficar apenas congelado.

OUTRAS NOTÍCIAS

Travão nas autarquias. O Presidente da República decidiu vetar a reposição de freguesias que foi aprovada por uma larga maioria no Parlamento e que levaria ao regresso de 302 juntas que tinham sido agregadas através da reforma realizada no tempo da troika.

Remodelação no Governo. O primeiro-ministro mudou seis secretários de Estado. Além de Hernâni Dias, que já tinha sido exonerado e que é substituído por Silvério Regalado, mudam os secretários de Estado da Energia, da Igualdade, da Cultura, da Inovação Educativa e da Segurança Social.

Não há plano. A ministra da Saúde admitiu, na Assembleia, que o Governo ainda não tem um plano para o Hospital Amadora-Sintra, reiterando que a situação do serviço de cirurgia é “muito difícil”, na sequência da saída de 13 cirurgiões.

Novo Banco na Bolsa. A Lone Star deu indicações ao Novo Banco para que comece a preparar a entrada na Bolsa, confirmou a instituição bancária em comunicado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários.

Sim a Gabbard. O Senado norte-americano votou a confirmação da ex-deputada democrata Tulsi Gabbard como diretora das secretas, uma vitória para Trump, que consegue colocar uma das mais controversas escolhas do seu gabinete numa posição de enorme responsabilidade.

Crise na Áustria. O líder da extrema-direita austríaca, Herbert Kickl, anunciou que as negociações para a formação de um Governo de coligação com um partido conservador fracassaram. A solução poderá passar pela realização de novas eleições.

Investigação na Polónia. O primeiro-ministro da Polónia, Donald Tusk, e outras figuras de topo, estão a ser investigados por alegado golpe de Estado. Tudo partiu de uma queixa do presidente do Tribunal Constitucional, que o Executivo acusa de estar dominado pelo partido nacionalista e conservador Lei e Justiça.

Benfica vence. Encarnados ganharam em casa do Mónaco por 1-0 na primeira mão do ‘play-off’ da Liga dos Campeões. O resultado é escasso, tendo em conta que o adversário do Benfica jogou com dez durante cerca de uma hora.

FRASES

“Se [António José] Seguro for o candidato do desalento derrotado do PS, Sampaio da Nóvoa é uma boa alternativa”, Daniel Oliveira

“O PS está anquilosado e por reformar, rodeado de discípulas woke e de quadros e intermediários que se digladiam por causa de Seguro e Vitorino. Patético”, Clara Ferreira Alves

“O envelhecimento demográfico do país é um problema grave e incapacitante. Não será o novo Estatuto do Idoso a desarmar a bomba-relógio”, Rodrigo Tavares

PODCASTS

“Expresso da Manhã”. Paulo Baldaia conversa com o jornalista e comentador José Milhazes sobre o processo de paz na Ucrânia, depois de Trump ter falado com Putin e Zelensky sobre os termos de um eventual fim do conflito.

O Homem que Comia Tudo”. É solteiro e não sabe o que fazer na noite dos namorados? Neste episódio, Ricardo Dias Felner explica como não ter medo de ir jantar a um restaurante sozinho e apreciar a sua própria companhia.

Money Money Money”. Aeroporto, alta velocidade e terceira travessia do Tejo. João Vieira Pereira, João Silvestre, Anabela Campos e Pedro Lima debatem três grandes projetos que vão custar muitos milhões.

Tempo ao Tempo”. Na estreia deste podcast, Rui Tavares propõe uma viagem errante no tempo e na geografia ao encontro de pessoas cujas vidas se desencontraram por dois milénios mas que estão ligadas pela música.

O QUE EU ANDO A OUVIR

Honey From a Winter Stone”, Ambrose Akinmusire. O trompetista que assina este álbum define-o como um “autorretrato”. Estimulado pela obra do compositor Julius Eastman, Akinmusire e a banda que o acompanha constroem música que não conhece fronteiras, nem restrições, que viaja do pós-bop até à ‘clássica’, ou do hip-hop até à livre improvisação. Os temas são longos, aquele que tem a responsabilidade de encerrar dura perto de meia hora, num desfile de paisagens sonoras em constante evolução.

“Some Days Are Better: The Lost Scores”, Kenny Wheeler Legacy. Kenny Wheeler nasceu em Toronto, no Canadá, mas fixou-se no Reino Unido no início dos anos 1950, onde se tornou numa referência do jazz britânico. Neste álbum, a Royal Academy of Music Jazz Orchestra, a Frost Jazz Orchestra e nomes de grande relevo, como Evan Parker e Chris Potter, reúnem-se para recuperar a música que Wheeler criou para uma série de actuações na BBC no dealbar dos anos 1970.

Colouring Hockets”, John Hollenbeck & NDR Bigband. Esta parceria entre o baterista e compositor John Hollenbeck e a orquestra de jazz da emissora alemã Norddeutscher Rundfunk é um projecto notável. Integra nove originais de Hollenbeck que são interpretados com enorme inspiração. A interacção entre os instrumentos de percussão é um dos pratos fortes e há espaço para alguns solistas brilharem, mas é a deslumbrante consistência e articulação do colectivo que faz deste registo uma celebração irresistível.

Música Imaginaria”, Baldo Martínez Sexteto. Um ouvinte menos disponível para sobressaltos é capaz de ficar apreensivo ao escutar o arranque do primeiro tema deste álbum e convicto de que a banda responsável pela gravação decidiu lançar-se numa cacofonia insuportável. Mas a perseverança será compensadora. O sexteto liderado pelo contrabaixista oriundo da Galiza produz música desenvolta e de vistas largas, liberta de amarras, mas não perde de vista um sentido melódico que hipnotiza.

E é tudo. Pelas 23h00, os textos da edição impressa desta semana estarão disponíveis online. Amanhã, pode encontrar o jornal nas bancas. Entretanto, acompanhe a actualidade no Expresso, Tribuna e Blitz, consulte as sugestões do Boa Cama Boa Mesa e tenha um excelente dia.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: jcsilva@expresso.impresa.pt

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