Não lhe sabemos o nome, tão-pouco a história. Não importa, tem todos os nomes do mundo. Talvez, daqui a pouco, lhe conheçamos a vida.
Por enquanto, conhecemos-lhe a morte. E isso, neste caso, é muito.
Uma mulher foi morta. Decapitada. Uma mulher foi decapitada numa igreja.
Uma mulher foi decapitada numa igreja em França. Na Europa.
A sua tragédia é de todos nós.
Por um Deus, mata-se na casa de outro. Os deuses devem estar loucos. Ou os homens, que os usam como desculpa para a sua perdição.
O ataque dentro da basílica de Notre-Dame, em Nice, fez mais dois mortos e dezenas de feridos. O atacante, um tunisino de 21 anos, gritou várias vezes “Allahu Akbar”(Deus é grande). Durante a detenção, acabou baleado pela polícia.
O primeiro-ministro francês elevou o nível de alerta terrorista no país. E o presidente Emmanuel Macron assumiu que a França está a ser atacada.
Mas não é apenas a França que está a ser atacada. Somos nós. E os nossos valores. É a liberdade.
OUTRAS NOTÍCIAS
Covid-19. Os números de ontem não são nada animadores. Nas últimas 24 horas, Portugal registou um novo recorde de infetados( 4224) e 33 mortos.
Foi a contabilidade mais negra de sempre e os piores números de novos casos cabem ao norte do país.
O aumento alarmante do número de casos justifica as medidas restritivas que esta sexta-feira entram em vigor.
A partir de hoje e até dia 3 de novembro está proibida a circulação entre concelhos.
Mas o diploma que enquadra esta proibição está a ser muito criticado pelas tantas exceções em que faz fé.
E Marcelo veio deitar mais uma acha para a fogueira ao dizer que não mudar de concelho nos finados “mais do que uma imposição é uma recomendação agravada”.
E como se isso não bastasse há ainda a iniciativa do Chega que está a ser analisada pelo Supremo Tribunal Administrativo que vai hoje decidir se a proibição de circular entre concelhos se mantém ou é suspensa.
Numa tentativa de combater a pandemia, o Governo poderá vir a decretar o recolher obrigatório.
A medida vai ser discutida no conselho de ministros extraordinário de amanhã. Mas as opiniões dos especialistas dividem-se quanto à eficácia da medida.
O que parece certo é que tanto Marcelo Rebelo de Sousa como António Costa resistem a um novo estado de emergência sem consenso.
O primeiro-ministro recebe os partidos hoje e fala amanhã ao país. Já Macelo deverá falar na próxima semana.
Antissemitismo. O partido trabalhista britânico suspendeu o seu antigo líder, Jeremy Corbyn.
A decisão vem na sequência de um relatório que acusa o principal partido da oposição no Reino Unido de “atos ilegais de assédio e discriminação antissemita”, nos últimos quatro anos, ou seja, durante a liderança de Corbyn.
O antigo chefe dos Labour rejeita as acusações, mas vai deixar de fazer parte da bancada parlamentar do seu partido.
Fim. Sindika Dokolo morreu ontem à tarde, no Dubai. Tinha 48 anos. Era um dos maiores colecionadores de arte em África. Mas para a história ficará como o marido da filha do antigo presidente angolano.
Isabel dos Santos publicou uma fotografia no Instagram onde surge com o marido e um dos filhos. A legenda diz tudo : “My love”.
EUA 2020. O mundo continua em suspenso. Pelo menos até a próxima terça-feira. Donald Trump e Joe Biden contam as últimas espingardas e as sondagens continuam a dar vantagem ao candidato democrata.
A CNN diz que o antigo vice de Obama continua a liderar com 54% das intenções de voto, contra 42% do rival republicano.
Mas o sistema eleitoral nos EUA tem as suas particularidades - não basta vencer nas urnas é preciso ganhar no Colégio Eleitoral, obtendo a maioria dos 538 votos dos delegados.
Futebol. E vão dois. Sporting de Braga e Benfica continuam de vento em popa na Liga Europa.
Ontem, os guerreiros do Minho foram à Ucrânia vencer o FK Zorya por dois a um.
Já os comandados por Jorge Jesus despacharam os belgas do Standard de Liége por três a zero.
Vergonha. No ano passado 2498 crianças foram retiradas às famílias por maus tratos.
Ao que parece são boas notícias porque ao longo da última década o número de crianças e jovens em acolhimento desceu 23%.
Mas como as crianças não são números não podemos dormir descansados enquanto houver uma criança vítima de maus tratos.
Retificação. No Curto de ontem, uma das citações no bloco FRASES estava deslocada no tempo. O deputado José Magalhães fez efetivamente o aparte citado, e foi de facto em réplica a Duarte Marques, mas não no debate de quarta-feira sobre o Orçamento.
Na realidade, foi-o em junho de 2014, num debate no Parlamento sobre o jogo online. As desculpas pelo lapso do autor do Curto de quinta-feira
O QUE EU ANDO A LER
Chegou-me às mãos na semana passada e ganhou lugar certo na minha mesa de cabeceira.
Ainda só vou nas primeiras páginas, mas promete ser meu fiel companheiro nos próximos dias.
Como acontece aos grandes romances, o arranque não deixa ninguém indiferente.
Ora vejam: “Tanta luz nessa manhã e o céu limpo, apenas com uma ou outra mancha branca no azul cálido, mais parecida com um rasto de fumo do que com uma nuvem.
“ A nossa parte da noite”, da argentina Mariana Enriquez, é o livro do momento.
Há mesmo quem o compare com grandes clássicos da literatura latino-americana como “Cem anos de solidão” de Gabriel Garcia Márquez e “2666” de Roberto Bolaño.
Hoje, José Mário Silva, um dos críticos literários do Expresso vai entrevistar a escritora de que tanto se fala.
Na próxima edição da revista, ficará a conhecê-la um pouco melhor.
Mas a melhor maneira de conhecer um escritor é ler os seus livros. Nestes tempos estranhos de pandemia, “A nossa parte da noite” tem sido uma excelente companhia.
O QUE EU ANDO A OUVIR
Já vos tinha falado dela e uma das coisas que tinha escrito é que a sua voz tem chão.
O chão de onde vem e ao qual regressa sempre. O chão que a alimenta. A sua ilha, Santiago, em Cabo Verde.
Élida Almeida, é dela que se trata, tem um novo disco. E, uma vez mais, prova que quem tem chão, tem asas.
E mostra porque é um dos maiores talentos da música das ilhas.
O disco chama-se “Gerasonobu” e, tal como nos trabalhos anteriores, quase todos os temas são assinados por ela.
Desta vez, viaja pelos sons da tabanca, um dos géneros musicais próprio da ilha de Santiago.
Para abrir o apetite, aqui fica “Bidibido”, um dos cabeças de cartaz do álbum.
Tenha um resto de bom dia.
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: JMSAraujo@expresso.impresa.pt