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Uma vez por mês, à terça-feira, o SER traz-lhe um tema-chave sobre o meio ambiente, com contexto, notícias relevantes e dicas práticas para facilitar a sua jornada “verde”. Hoje, falamos sobre a seca em Portugal.
Portugal tem sede, mas a água é escassa
A seca é um dos desafios ambientais mais críticos da atualidade, especialmente em países como Portugal, onde os períodos de escassez hídrica são cada vez mais frequentes e severos. Nos últimos anos, o país tem registado episódios de seca extrema que afetam a disponibilidade de água, a produção agrícola e os ecossistemas.
A última edição do “Relatório do Estado do Ambiente” da Agência Portuguesa do Ambiente (APA) revela que, em 2023, cerca de 90% do território nacional sofreu algum grau de seca, com as regiões do Baixo Alentejo e Algarve a serem as mais afetadas - estiveram todos os meses do ano em seca meteorológica e, no período entre abril e agosto, nas classes de seca severa a extrema.
No final do ano hidrológico 2022/2023, as bacias hidrográficas do Mira, Arade, Ribeiras do Algarve (Barlavento e Sotavento) encontravam-se em seca hidrológica extrema, enquanto a bacia hidrográfica do Guadiana em seca hidrológica moderada e as bacias hidrográficas das Ribeiras do Oeste e do Sado em seca hidrológica fraca. Em janeiro de 2024, era este o cenário.
O Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) faz um ponto de situação mais recente: no final de janeiro deste ano, verificou-se uma diminuição significativa da área e intensidade da seca meteorológica, estando apenas a região litoral do Alentejo e o Barlavento Algarvio na classe de seca fraca.
Já o boletim de armazenamento nas albufeiras de Portugal continental, do Sistema Nacional de Informação de Recursos Hídricos, diz que em março, e comparativamente ao último dia do mês anterior, verificou-se uma subida no volume armazenado em todas as bacias hidrográficas monitorizadas. Das 60 albufeiras monitorizadas, 50 apresentam disponibilidades hídricas superiores a 80% do volume total e uma tem disponibilidade inferior a 40% do volume total.
Dificuldades no acesso até 2050
O desafio não é exclusivo de Portugal. A Agência Europeia do Ambiente diz-nos que cerca de 30% dos europeus vive em zonas com escassez hídrica permanente ou sazonal. Globalmente, a situação também é alarmante, com a Organização das Nações Unidas (ONU) a estimar que dois terços da população mundial poderão enfrentar dificuldades no acesso à água até 2050.
A falta de precipitação e o aumento das temperaturas médias, impulsionados pelas alterações climáticas, tornam este problema uma ameaça crescente para a sociedade e a economia. Os efeitos são visíveis nos reservatórios de água, que apresentam níveis médios historicamente baixos, em atividades económicas como a agricultura e no aumento dos incêndios florestais.
Abastecimento e agricultura comprometidos em Portugal
O setor agrícola é um dos mais afetados pela seca, uma vez que 75% da água consumida a nível nacional é utilizada para irrigação. A falta de água leva a quebras significativas na produção de culturas essenciais, como cereais, olival e vinha - o Instituto Nacional de Estatística (INE) confirmou mesmo que, em 2023, algumas colheitas sofreram reduções superiores a 30% devido à falta de água.
Em termos de abastecimento urbano também soam os alarmes. Os municípios do sul do país, por exemplo, têm enfrentado restrições ao consumo de água e medidas de contingência para garantir o fornecimento às pessoas.
Uma nova estratégia que “une”
Para dar resposta aos desafios hídricos, o Governo português lançou recentemente a Estratégia Nacional de Gestão da Água - “Água que Une”. Em causa está um plano que prevê um investimento de 5 mil milhões de euros até 2030, com um segundo ciclo que se estenderá até 2040. A estratégia baseia-se em três pilares:
- Eficiência: Implementação de medidas para reduzir perdas nos sistemas de distribuição e promover o uso eficiente da água;
- Resiliência: Construção de novas infraestruturas, como barragens, e reforço das existentes para garantir a disponibilidade de água em períodos de escassez;
- Inteligência: Desenvolvimento de sistemas avançados de monitorização e gestão dos recursos hídricos;
A nova estratégia tem cerca de 300 medidas a implementar, algumas das quais com horizonte até 2050, e o seu objetivo principal é aumentar 1139 hectómetros cúbicos (medida da quantidade de água armazenada em barragens) de disponibilidade.
A União Europeia também tem trabalhado para mitigar os impactos da seca ao nível do bloco, através da Estratégia Europeia de Resiliência Hídrica, que inclui metas para aumentar a eficiência hídrica nos Estados-membros e promover também a reutilização da água.
Como podemos ser parte da solução?
- Uso eficiente da água: Técnicas de rega inteligentes, como a irrigação gota-a-gota e a reutilização de águas residuais tratadas, podem reduzir significativamente o consumo de água na agricultura e em áreas urbanas;
- Adoção de culturas resilientes: Apostar em variedades agrícolas mais resistentes à seca e adaptar os calendários de plantação pode mitigar as perdas de produção;
- Reflorestação e proteção dos solos: Árvores e vegetação nativa ajudam a reter água no solo e a reduzir a desertificação;
- Gestão sustentável dos recursos hídricos: Monitorizar e otimizar o uso de barragens, aquíferos e outras fontes de água para evitar desperdícios e assegurar um abastecimento equilibrado;
Mas pequenas mudanças no nosso dia a dia podem fazer uma grande diferença. Deixo-lhe três dicas para reduzir o consumo de água:
- Feche a torneira enquanto escova os dentes ou lava as mãos;
- Reutilize a água da cozedura dos alimentos para regar as plantas;
- Opte por eletrodomésticos eficientes, como máquinas de lavar loiça ou roupa com classificação energética A++;
Exclusivo Expresso
No início de 2024, Maria José Roxo, geógrafa e professora catedrática da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, esteve no podcast do Expresso “Ser ou Não Ser”. Falou sobre a seca no Algarve, os incêndios florestais e a desertificação no Alentejo. Recupere este episódio aqui.
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