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Portugal tem 3,9 milhões de hectares plantados, mas a sustentabilidade leva o seu tempo a criar raízes

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Uma vez por mês, à terça-feira, o SER traz-lhe um tema-chave sobre o meio ambiente, com contexto, notícias relevantes e dicas práticas para facilitar a sua jornada “verde”. Hoje, falamos sobre agricultura sustentável - por que é essencial, os desafios que enfrenta, como está a evoluir em Portugal e de que forma pode apoiar esta transição.

MENOS IMPACTO, MAIS FUTURO

A agricultura é um dos pilares da sociedade e da economia, mas também um dos setores que mais pressionam os recursos naturais - aqueles que, em 2024, conseguimos esgotar em apenas sete meses. O uso intensivo do solo, o desperdício de água, a dependência de fertilizantes químicos e pesticidas, bem como os impactos nas emissões de gases com efeito de estufa (GEE) tornam urgente a adoção de práticas mais sustentáveis.


De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), o setor agrícola é responsável por cerca de 70% do consumo global de água doce e por aproximadamente 24% das emissões de GEE. Num relatório publicado em 2021, a FAO revela que a intensificação da atividade está mesmo a comprometer os meios de subsistência.


Em Portugal, cerca de 43% da superfície territorial é dedicada à agricultura, o equivalente a 3,9 milhões de hectares, segundo o último recenseamento do Instituto Nacional de Estatística (INE), que contabilizou 290 mil explorações. O setor “bebe" 75% da água consumida a nível nacional e contribui para 12% das emissões de GEE, segundo a Agência Portuguesa do Ambiente (APA).


Os dados do INE indicam que a produção agrícola portuguesa registou quebras significativas nos últimos anos em determinadas culturas, como, por exemplo, os cereais e a pêra. As condições meteorológicas extremas são o principal motivo. A seca prolongada, a escassez de água - sobretudo no sul do país - e as alterações nos padrões de precipitação estão a afetar a produtividade do setor e colocam em risco a sua sustentabilidade.

O QUE É A AGRICULTURA SUSTENTÁVEL E COMO ESTÁ A EVOLUIR PORTUGAL?

A agricultura sustentável é um modelo de produção agrícola que visa atender às necessidades atuais do sistema alimentar sem comprometer a capacidade das gerações futuras atenderem às suas próprias necessidades. É, por isso mesmo, um dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas.


Falamos de agricultura sustentável sempre que esta atividade concilie os seguintes fatores:

  • Preservação ambiental, isto é, que faça um uso eficiente dos recursos naturais e opte por práticas que protegem o solo e a biodiversidade e minimizam o desperdício de água;
  • Justiça social, através da oferta de condições dignas para os trabalhares e apoio aos pequenos produtores;
  • Viabilidade económica, no aspeto em que a produção agrícola é rentável, mas não compromete o futuro das próximas gerações;

Em Portugal, algumas práticas sustentáveis têm vindo a ganhar força. A agricultura biológica, que evita químicos e respeita o bem-estar dos animais, é um exemplo. Já representava 19,3% da superfície agrícola útil em 2022, o que coloca o país na terceira posição do ranking entre os 27 da União Europeia (UE), ultrapassado apenas pela Suécia e a Estónia, dá conta o Eurostat. Há dez anos, aquela percentagem estava nos 5,4%.


A evolução neste campo é notória e o Índice de Transição Verde”, realizado pela Oliver Wyman, que avalia o progresso de 29 países europeus em matéria de sustentabilidade e redução de emissões de carbono, diz-nos isso. O país está no 14º lugar, entre os 27 da UE, no que toca à conservação da natureza, precisamente pela melhoria registada no indicador de agricultura biológica.

QUE DESAFIOS ENFRENTAMOS?

Apesar dos avanços, a transição para a agricultura sustentável enfrenta obstáculos, tendo um longo caminho para percorrer.


Os custos elevados associados à implementação de novas práticas exigem investimentos significativos e os pequenos produtores têm dificuldade em aceder a apoios financeiros. A isto, soma-se o facto de as mudanças climáticas tornarem a produção agrícola cada vez mais imprevisível e de o país ser ainda dependente da importação de fertilizantes sintéticos.


Por outro lado, muitos agricultores sentem que as políticas de apoio da UE não são suficientemente acessíveis. O Plano Estratégico da Política Agrícola Comum (PEPAC) tem 2,4 mil milhões de euros até 2027 para apoiar a agricultura sustentável em Portugal, mas a implementação eficaz das medidas será crucial para garantir impactos positivos.

COMO PODE SER PARTE DA SOLUÇÃO

A transição para um setor agrícola mais sustentável não depende apenas dos produtores e das políticas públicas. Como consumidor, pode fazer a diferença com pequenas escolhas no dia a dia. Deixo-lhe quatro dicas.

  1. Prefira produtos biológicos e de origem local: dê prioridade a alimentos produzidos de forma sustentável e com menor pegada de carbono;
  2. Reduza o desperdício alimentar: planeie as suas refeições e aproveite melhor os ingredientes para evitar desperdícios (vale a pena ler esta edição do SER);
  3. Valorize certificações confiáveis: procure selos como os de “agricultura biológica da UE” ou “fair trade”;
  4. Consuma de forma sazonal: opte por frutas e legumes da época, que requerem menos recursos para serem produzidos;

EXCLUSIVO EXPRESSO

José Fernandes

Há cerca de um ano, o antigo Secretário de Estado das Florestas e do Desenvolvimento Rural, Francisco Gomes da Silva, esteve no podcast Ser ou Não Ser. Falou do estado do setor agrícola e de questões concretas como preços, recursos naturais e apoios da UE. Recupere este episódio aqui.




Cada gesto, por mais pequeno que seja, conta para criar um futuro mais “verde”. A newsletter Expresso SER volta à sua caixa de correio no próximo mês, com mais dicas e informação. Para sugestões ou comentários, contacte-me através de: mcdias@expresso.impresa.pt


Até lá, boas leituras e práticas sustentáveis!

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: mcdias@expresso.impresa.pt

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