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Solidão sem fronteiras

Solidão sem fronteiras

André Rito

Jornalista

Viva,

Esta é a sua newsletter Expresso Longevidade.

O isolamento e a solidão são dois grandes problemas que os mais velhos enfrentam nos dias que correm.

Não falamos apenas do interior do país mas também das cidades. Em Portugal há poucos dados sobre este assunto - a sinalização dos casos é feita muitas vezes pelas autarquias, autoridades locais e pelas patrulhas de proximidade. Durante a operação "Censos Sénior 2023" da GNR, por exemplo, foram sinalizados 44.114 idosos, que vivem sozinhos e/ou isolados ou que estão em situação de vulnerabilidade. Guarda, Vila Real, Faro, Bragança e Beja foram os distritos onde mais idosos foram sinalizados.

Muitos vivem em situação de grande vulnerabilidade, com frágeis condições de saúde física e psicológica.

Em grande parte dos casos, a própria condição social em que se encontram é um factor de risco para a saúde. E há dados que comprovam que a solidão aumenta com a idade. Ora, vivendo na era da longevidade, e sendo Portugal o país que mais envelhece da União Europeia, é essencial tomar medidas que atenuem este problema e estimulem o contato intergeracional. Nos últimos anos, particularmente depois da pandemia, que expôs ainda mais as consequências do isolamento, têm nascido vários movimentos da sociedade civil que ajudam a promover esta ideia.

Exemplo disso é o projeto Aldeias Sem Fronteiras. A missão? Unir gerações para reduzir o isolamento dos mais velhos e transmitir conhecimento aos mais novos. Trata-se de um projeto em curso até ao final do ano em nove concelhos das Terras do Sousa e da Terra Fria Transmontana. A troca de conhecimento e de histórias com os mais novos é o fio condutor do projeto, que permite preservar a memória, conquistar respeito e admiração – prevenindo o idadismo – garantindo que nada se perde com o envelhecimento. Tudo para inverter uma tendência muito nossa, a de que a velhice nunca vem só: os idosos portugueses são dos que têm menos saúde e qualidade de vida a nível europeu.

O caso do Japão

Portugal tem em marcha o Plano de Ação para o Envelhecimento Ativo e Saudável. Inaugurado no ano passado, com um orçamento de €1300 milhões, têm-se sucedido a inauguração novos pólos dispersos pelo país. O último foi em Moura onde o objetivo passa pela criação de uma rede de transportes articulada que garanta o acesso aos cuidados de saúde da população mais isolada. Outro destes centros foi recentemente inaugurado em Vila Nova de Poiares, com a missão de formar profissionais para oferecerem melhores cuidados de saúde e atividades aos idosos do distrito de Coimbra. O mesmo sucedeu na Guarda com a mesmo objetivo: formar e capacitar prestadores e cuidadores de pessoas idosas.

Talvez assim consigamos ser capazes de evitar o destino do Japão, o país mais envelhecido do mundo (Portugal é o quarto).

Um estudo do Instituto Nacional de Investigação sobre População e Segurança Social daquele país conclui que 10,8 milhões de idosos vão estar a viver sozinhos em 2050, representando 20,6% dos agregados familiares. Trata-se de um aumento significativo em relação a 2020, ano em que 7,37 milhões de idosos viviam sozinhos, ou seja, 13,2% dos agregados familiares.

Por cá são inúmeras as formas que têm surgido para promover o contacto social entre os mais velhos. E se os nossos números ainda estão longe dos dados japoneses no que respeita à solidão, organizações como o Clube Desportivo Xico Andebol dão um forte contributo para a qualidade de vida dos seniores, de forma criativa. Falamos de walking handball, variante de andebol destinada a maiores de 60 anos: não se pode correr, apenas andar. Além de promover a prática de atividade física e estimular o convívio, o projeto em Guimarães inclui acompanhamento psicológico aos jogadores. Para o futuro, o objetivo é dar a conhecer os efeitos positivos e procurar que mais clubes adotem a ideia, proporcionando a existência de competição. O futuro o dirá, mas para já nem tudo são más notícias.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

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