Alzheimer e obesidade: estudo associa gordura visceral a sinais da doença 20 anos antes do início dos sintomas
Valentin Rusu / Getty Images
Investigação relaciona gordura visceral com a presença de proteínas no cérebro características da doença de Alzheimer. Resultado surge a partir de análise com um grupo na casa dos 40 e 50 anos de idade
Uma nova investigação apresentada esta semana no encontro anual da Radiological Society of North America (RSNA), em Chicago, associa um tipo específico de gordura corporal às proteínas no cérebro que são caraterísticas da doença de Alzheimer, uma situação que se verificou 20 anos antes do aparecimento dos primeiros sintomas.
A conclusão resulta de um estudo com pessoas com idades entre 40 e 50 anos, quando a doença está “nas fases mais precoces” e num momento em que “potenciais modificações como a perda de peso e a redução da gordura visceral são mais eficazes como meio de prevenir ou atrasar” o aparecimento, indica em comunicado uma das autoras, Mahsa Dolatshahi, investigadora do Mallinckrodt Institute of Radiology.
Dos 80 participantes, aproximadamente 57,5% eram obesos e o índice de massa corporal (IMC) médio do total era de 32,31. “Investigámos a associação do IMC, da gordura visceral, da gordura subcutânea, da fração de gordura do fígado, da gordura da coxa e do músculo, bem como da resistência à insulina e do HDL (colesterol bom), com a deposição de amiloide e tau na doença de Alzheimer”, enumera a investigadora.
Os resultados revelaram que níveis mais elevados de gordura visceral estavam relacionados com o aumento da amiloide, sendo responsáveis por 77% do efeito do IMC elevado na acumulação de amiloide. Os outros tipos de gordura não explicaram o aumento da doença de Alzheimer relacionado com a obesidade.
“Tanto quanto sabemos, o nosso estudo é o único a demonstrar estes resultados na meia-idade, quando os participantes estão a décadas de desenvolver os primeiros sintomas da demência que resulta da doença de Alzheimer”, aponta Dolatshahi na nota divulgada pela RSNA. O estudo mostrou também que uma maior resistência à insulina e um HDL mais baixo estavam associados a um nível elevado de amiloide no cérebro.
Uma das principais implicações do trabalho desenvolvido, que expõe “informações importantes sobre a razão pela qual a obesidade pode aumentar o risco de doença de Alzheimer”, é que a gestão do risco de Alzheimer na obesidade “terá de envolver a abordagem dos problemas metabólicos e lipídicos relacionados que surgem frequentemente com o aumento da gordura corporal”, afirma outro dos autores, o professor de radiologia Cyrus A. Raji.
Dados de 2022 contabilizavam mais de mil milhões de obesos em todo o mundo. Em Portugal, a obesidade atingia 2,3 milhões de adultos e 107 mil crianças e adolescentes. A Federação Mundial para a Obesidade prevê que, até 2035, mais de metade da população mundial deverá tornar-se obesa ou ter excesso de peso.
Lançado em 2022, Longevidade é um projeto do Expresso – com o apoio da Novartis – com a ambição de olhar para as políticas públicas na longevidade, discutindo os nossos comportamentos individuais e sociais com um objetivo: podermos todos viver melhor e por mais tempo. Este projeto é apoiado por patrocinadores, sendo todo o conteúdo criado, editado e produzido pelo Expresso (verCódigo de Conduta), sem interferência externa.