Legislativas 2019

PS em Viseu: “Aqui não há cá cavaquistão nenhum”

PS em Viseu: “Aqui não há cá cavaquistão nenhum”
TIAGO MIRANDA

Pode uma praça cheia exorcisar as memórias do 'cavaquistão'? O PS quer mudar essa história. Com a ajuda dos autarcas, a energia de Jorge Coelho, e o empurrão da taxa de desemprego mais baixa do país

PS em Viseu: “Aqui não há cá cavaquistão nenhum”

Filipe Santos Costa

Jornalista da secção Política

PS em Viseu: “Aqui não há cá cavaquistão nenhum”

Tiago Miranda

Fotojornalista

O momento do dia:

Apesar da noite fria (ou “magnífica”, segundo Jorge Coelho), o comício no Rossio, em Viseu, foi um sucesso. A praça estava cheia e confirmou que a capacidade de mobilização do PS está em alta. O cheiro a vitória ajuda, a rede de autarcas que o partido tem por todo o país também.

A frase:

Assumamos aqui um compromisso de honra, de beirões, perante o nosso secretário-geral, de fazermos tudo para que as nossas famílias, e os nossos colegas, vá tudo votar. De preferência no PS, mas se quiser um outro votar noutro partido, desde que não sejam muitos, não faz mal.
Jorge Coelho, ex-dirigente nacional do PS

A figura:

Jorge Coelho está há bastantes anos afastado da vida partidária, mas continua a ser um dínamo quando aparece nos comícios do PS. Nem precisa de discursos muito elaborados -- é tudo à força de alma e decibéis. Assim voltou a ser esta quarta-feira à noite, em Viseu.

A fotografia:

A arruada em Coimbra, com Marta Temido, foi marcada, desmarcada e remarcada. Com tantas alterações, a mobilização deixou a desejar
TIAGO MIRANDA

Só uma vez o PS venceu as eleições legislativas no distrito de Viseu. Foi em 2005, com José Sócrates - os socialistas ficaram à frente do PSD por pouco menos de 500 votos e, nessa noite, juntaram à grande festa da sua primeira maioria absoluta, o rodapé de terem vencido no 'cavaquistão'. Mas, afinal, esse resultado foi só a excepção que confirma a regra: Viseu veste cor-de-laranja. Nunca mais voltou a haver as vitórias esmagadoras do cavaquismo, mas este continua a ser terreno social-democrata.

No próximo domingo, os socialistas acreditam que podem voltar a virar a história. Levam o embalo de vitórias nas últimas autárquicas (tiveram mais votos no acumulado do distrito e venceram em 11 das 24 câmaras) e europeias. Vinte e quatro horas depois de Rui Rio ter feito em Viseu um raro jantar-comício da campanha do PSD, o PS fez uma prova de força na mesma cidade, com um comício a céu aberto.

Jorge Coelho, que continua a ser o amuleto beirão dos socialistas, subiu ao palco e viu “milhares de pessoas” (a hipérbole continua a ser uma das suas imagens de marca - havia 600 lugares sentados e mais outras tantas pessoas em pé). E do palco proclamou, a plenos pulmões, que “aqui não há cá ‘cavaquistão’ nenhum”. “Não nos chamem nomes, nós somos viseenses. (...) Quem vem para cá, como ontem o líder do PSD veio, dizer que seu objetivo político é que Viseu volte ser o ‘cavaquistão’, eu sinto-me insultado por essas palavras, como todos os que aqui estão.”

O objetivo é “enterrar de vez o ‘cavaquistão’”, como sintetizou António Borges, o presidente da federação viseense do PS. “Está na hora de ganharmos as eleições no distrito de Viseu”, desfiou o cabeça de lista socialista, João Azevedo, presidente da câmara de Mangualde que em 2017 foi reeleito com 69%.

O Coelho é outro, as perguntas são as mesmas

Em Viseu, na sua única incursão ao Interior do país durante o período oficial de campanha, António Costa declarou que “o Interior não pode continuar a ser um espaço esquecido”. O secretário-geral socialista adaptou o seu discurso habitual às especificidades do Interior, com juras de combate às desigualdades territoriais e de prioridade à descentralização.

A chave para o desenvolvimento desta parte do território é a fixação de atividades económicas e, nesse sentido, Costa salientou uma diferença entre as suas propostas e as do PSD e do CDS. “Ao contrário outros que prometem a diminuição indiscriminada dos impostos sobre as empresas, o que nós dizemos é que a margem que temos para reduzir impostos às empresas vamos concentrá-la nos territórios do Interior porque é aí que temos de concentrar os incentivos para as empresas se fixarem”.

Do mesmo modo, Costa lembrou o aumento de vagas nas universidades e politécnicos do Interior, e a opção por reduzir aí as portagens.

Respostas concretas, para problemas reais, frisou Costa, querendo distanciar-se da “bolha político-mediática”. Porque as preocupações que ouve aos cidadãos também são de “coisas simples”, que “têm a ver com a vida do dia a dia”: a demora da Segurança Social para começar a pegar as pensões de reforma ou de sobrevivência, os valores das pensões muito baixas, as doenças crónicas que têm de receber uma atenção maior. “Estes são os problemas das pessoas reais, das pessoas efetivamente, que no próximo domingo vão votar”.

Para essas pessoas, mesmo se não garantiu a resolução “já” dos problemas, o líder socialista assegurou: “Com o PS, com este Governo e comigo têm quem as oiça “. “Não nos distraímos com questiúnculas.”

Também Jorge Coelho fica “triste” e se preocupa com isso de se “discutir na campanha fait divers que não interessam para nada à vida de cada um de nós”. O que interessa mesmo, na sua opinião, é que a taxa de desemprego caiu para metade - e a Região Centro, onde se inclui Viseu, tem a taxa mais baixa do país (4,7%). E interessa que as pensões foram aumentadas nestes quatro anos, e no ano que vêm vão todas subir acima da taxa de inflação, “o que quer dizer que os reformados passaram ter um papel significativo no coração de quem nos governa”.

“Estamos no momento de parar, de mudar, de voltar para trás?”, questionou Coelho. “De nos metermos em aventuras? De nos metermos em magias?” Na última campanha, havia outro Coelho que fazia as mesmas perguntas. Chamava-se Pedro Passos.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: FSCosta@expresso.impresa.pt

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