Catarina apela aos indecisos e dá prioridade ao investimento público e leis laborais
José Fernandes
A líder do Bloco de Esquerda fez, em Braga, um apelo mais veemente ao voto dos indecisos e elencou as que serão “seguramente as grandes questões da próxima legislatura”: o investimento público e as condições de quem trabalha
O encontro de Catarina Martins com cuidadores informais, no Porto. Poucas iniciativas no quadro de uma campanha eleitoral fazem um retrato tão íntimo, profundo e perturbador de uma realidade, até há pouco praticamente desconhecida no país. Algo que diz respeito a um universo estimado em 800 mil pessoas, 250 mil das quais a tempo inteiro.
A frase do dia:
“Sei o que é estar 24 anos fechada numa casa. A minha filha, que tinha o seu emprego, fazia-me as compras.” Alice Oliveira, ex-cuidadora informal
O personagem:
Só tinha passado fugazmente pela campanha no primeiro dia oficial, num almoço em Queluz. E teve de sair antes do fim, pois tinha um voo apanhar para Bruxelas. Marisa Matias entrou na campanha esta terça-feira. Primeiro, da parte da manhã, no encontro de Catarina Martins com cuidadores informais, foi várias vezes citadas, como a precursora dos esforços que redundaram na aprovação do estatuto do cuidador informal. Ao início da tarde esteve mesmo presente em Braga, ao lado de Catarina Martins. E no início da arruada foi tão ou mais saudada do que a líder do Bloco. Marisa é um trunfo em campanha e está agora na estrada para a reta final da campanha.
A fotografia:
Carlos Peixoto reapareceu numa campanha eleitoral do Bloco de Esquerda. Em maio, nas europeias, agora nas legislativas. Nos comícios de Braga exibe um cartaz com a sua situação contributiva. Catarina Martins apresenta-o como uma das vítimas das políticas do Governo PSD/CDS, em especial ministro Mota Soares
José Fernandes
“O investimento público e o trabalho (as condições concretas de quem trabalha e o Código do Trabalho) são seguramente as grandes questões da próxima legislatura”, afirmou Catarina Martins no comício desta terça-feira, numa tenda na Praça Central de Braga.
Na noite em que terminou a intervenção com um apelo reiterado ao votos do indecisos (já o fizera na véspera, em Santa Maria da Feira, mas desta vez foi mais incisiva), a líder do Bloco colocou em cima da mesa os dois dossiês que para o BE serão centrais no pós 6 de outubro.
A questão do investimento público fora lançada em Braga por Luís Fazenda, o fundador do Bloco que foi o primeiro orador da noite. Glosando um mantra da política orçamental deste Governo, Fazenda afirmou: “Esqueçam a obsessão do défice; a partir de agora é a obsessão do superávite, o que faz com que o investimento público esteja em causa”.
Se Portugal “cumprir a dívida” - e sem colocar em Bruxelas a “hipótese da sua flexibilização” - e quiser conjugar isso com a manutenção do superávite, deixará de ter condições para o investimento público, explicou o fundador do BE.
Já as questões do trabalho foram introduzidas na noite de Braga por dois candidatos pelo distrito. A número 3 da lista, Sónia Ribeiro, sindicalista, disse que os “os tempos da troika deixaram marcas profundas que é preciso apagar”.
Poucos depois, o cabeça de lista, José Maria Cardoso, lembrou que as novas leis laborais, entradas em vigor nesta terça-feira, foram aprovadas numa “deriva direitista do PS”.
Contra a “ditadura do superávite”
Num dia iniciado com uma reunião com cuidadores informais, na qual prometeu o empenhamento do Bloco na concretização dos diplomas que darão corpo à lei já aprovada pelo Parlamento, Catarina fechou a noite com um toque a reunir para travar uma eventual hegemonia do PS.
“Ainda há muita gente indecisa se vai votar e em que vai votar”, disse. “Há muita gente que não quer maioria absoluta e sabe que o BE é a força que garante sempre a luta pelo salário, pensão, saúde, educação, justiça” e por “um país que seja capaz de responder à emergência climática como responde à emergência social”.
Também Fazenda fizera antes o mesmo tipo de apelo apelo: “É o voto que pode permitir que haja um desenvolvimento, uma superação daquilo que foi a geringonça, não ficarmos reféns, não ficarmos submetidos, não ficarmos dominados da ditadura do superávite”.