Legislativas 2019

Bloco embala em Aveiro e desafia Costa: “Esqueceu-se do retirado pela troika e ainda não reposto”

Bloco embala em Aveiro e desafia Costa: “Esqueceu-se do retirado pela troika e ainda não reposto”
José Fernandes

Da feira de Espinho ao jantar-comício em São João de Ver, o Bloco ganhou nesta segunda-feira fôlego no distrito de Aveiro. E se até ontem esteve na defensiva em relação ao PS, hoje passou à ofensiva

Bloco embala em Aveiro e desafia Costa: “Esqueceu-se do retirado pela troika e ainda não reposto”

Paulo Paixão

Jornalista

A frase do dia:

"Você [Catarina Martins] é pura, é uma mulher do povo. Você faz-me lembrar sabe quem? Você e a sua luta? A falecida princesa Diana. Não duvide disso, a sério!"
Ana Cordeiro, 54 anos, apoiante do Bloco, que interpelou Catarina Martins na feira de Espinho

O momento:

A romaria à feira de Espinho corre tradicionalmente bem ao Bloco, por comparação com outras idas do partido a mercados do mesmo tipo. A desta campanha estará certamente entre as melhores. Foi lá que Catarina Martins surgiu mais envolvida numa maré de abraços e foi lá também que pela primeira vez assumiu um discurso solto em relação ao PS, não se limitando a responder às críticas, mas tomando a ofensiva política. O tempo dirá se este dia é um clique na campanha do Bloco que acelera uma trajetória, ou se é um ponto alto fugaz.

O personagem:

Há quatro anos, o Bloco ficou a 117 votos de eleger um segundo deputado por Aveiro (menos de um voto por cada freguesia do distrito, como salientaram os bloquistas no jantar-comício de São João de Ver). Nélson Peralta foi o candidato que perdeu o mandato por um triz. Vai outra vez a votos, no mesmo lugar da lista.

A fotografia:

D. Maria Augusta, 86 anos, vive no centro do Porto, em Miragaia, zona visitada nesta segunda-feira por Catarina Martins, que pretendia chamar a atenção para a especulação imobiliária na cidade. D. Maria Augusta mostrou a Catarina Martins a carta com a ordem de despejo, recentemente recebida, que lhe dá 10 dias para abandonar a casa
José Fernandes

O pavilhão gimnodesportivo de São João de Ver (uma freguesia de Santa Maria da Feira) juntou na noite desta quarta-feira mais de meio milhar de militantes e apoiantes do Bloco no distrito de Aveiro.

Foram eles que ouviram a coordenadora nacional do partido, Catarina Martins, enviar um recado: “António Costa esqueceu-se que há tempo e dinheiro retirados aos trabalhadores durante o Governo PSD/CDS e que ainda não foram repostos”.

Não é que nesta campanha tenham faltado críticas ao Executivo socialista pelo que, no entender do Bloco, não fez ou não deixou fazer. Acontece que na generalidade da intervenções, o “mau da fita” tem sempre outro nome: ou é “o Governo” ou é “o PS”. Ora nesta noite foram pronunciadas duas palavras (“António Costa”), ainda por cima numa interpelação, que mal se haviam ainda ouvido da boca da líder do Bloco no contexto de uma crítica política.

Em São João de Ver, Catarina Martins visou diretamente o primeiro-ministro quando defendeu a necessidade de “combater a precaridade” e se referiu a essa tarefa como uma prioridade do Bloco para a próxima legislatura.

E foi precisamente ao referir-se ao tema mais vasto dos direitos laborais que a líder do Bloco enviou aquela "nota de cobrança" a Costa.

Ainda sobre as leis do trabalho - entraram esta terça-feira em vigor as novas medidas aprovadas pelo PS no Parlamento, com o voto contra de bloquistas (e de comunistas) -, Catarina Martins apresentou o combate ao outsorcing, ao trabalho temporário, e ainda à preponderância do trabalho por turnos e noturno, como frentes da batalha do Bloco.

Quando o tamanho importa

Uma atitude política mais confrontacional do Bloco face ao PS começou de manhã, na feira de Espinho.

Catarina Martins começou por classificar as críticas da véspera de Augusto Santos Silva, que referiu aos riscos de uma “força desmedida” do Bloco, como “fruta da época”.

E uma vez que nessa crítica foi o PS a advertir para uma eventual dimensão futura do Bloco, Catarina fez questão de lembrar as "medidas do fato" que socialistas trajavam em 2015.

“Há quatro anos, o PS não ganhou eleições e mesmo assim conseguimos governar. Com uma solução que foi estável durante quatro anos, porque protegeu salários, pensões, os direitos das pessoas”, disse a líder do Bloco, para quem alguns socialistas querem fazer agora marcha-atrás.

“Há quem, no PS, esteja zangado com estes últimos quatro anos e tenha, eventualmente, vontade de recuar”, disse.

Apelo ao voto

Se o Bloco passou os primeiro dias desta campanha parecendo que só queria dar passos seguros, nomeadamente nas relações com o PS, esta segunda-feira foi o dia em que deu mostras de querer descolar.

Foi já no final do seu discurso desta noite que Catarina fez um apelo expresso aos “indecisos”, pedindo-lhes para fazerem eleger dois deputados por Aveiro.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: PPaixao@expresso.impresa.pt

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