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Operação Marquês

Quando Sócrates foi contra o crime de enriquecimento ilícito: era uma “baixeza”, mas havia ‘rabos de palha’

Freitas do Amaral foi ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros durante o primeiro Governo de José Sócrates. Com eles, aparece em primeiro plano António Costa, à época ministro de Estado e da Administração Interna
Freitas do Amaral foi ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros durante o primeiro Governo de José Sócrates. Com eles, aparece em primeiro plano António Costa, à época ministro de Estado e da Administração Interna
Rui Ochôa

Em nome do Estado de direito, Sócrates indignava-se no Parlamento contra o crime de enriquecimento ilícito proposto pelo 'seu' deputado João Cravinho. Não era aceitável numa sociedade moderna

Quando Sócrates foi contra o crime de enriquecimento ilícito: era uma “baixeza”, mas havia ‘rabos de palha’

Vítor Matos

Jornalista

“A isto chama-se baixeza. Isto não tem outro nome, sr. deputado, senão baixeza!” José Sócrates era primeiro-ministro e respondia assim a Luís Marques Mendes, líder do PSD, com aquela indignação muito própria que usava nos debates parlamentares: “É que para combater a corrupção não é preciso fazer asneira! E seria um erro, a propósito do combate à corrupção, pôr em causa valores sólidos do Estado de direito, como, por exemplo, o ónus da prova. Não é aceitável, numa sociedade moderna, que invertamos o ónus da prova no caso do enriquecimento ilícito”, argumentava, com a máxima convicção, perante a pergunta do presidente do PSD: “Porque é que o Governo e o PS hesitam tanto no combate à corrupção?”

Estávamos em janeiro de 2007. O deputado socialista João Cravinho acabava de ver o PS recusar a discussão do seu pacote de luta contra a corrupção, onde o enriquecimento ilícito até deixara de constar porque chocava de frente com o líder e o partido. Na semana anterior ao debate, Cravinho tinha admitido numa entrevista ao Expresso ser “absolutamente incontroversa” a existência de uma “perceção” sobre ‘rabos de palha’ no PS. E essas palavras ecoavam no Parlamento, repescadas pelo líder da oposição, usadas contra a maioria socia­lista: “Este Governo e este PS não têm ‘rabos de palha’, sr. deputado!”, exasperava-se Sócrates. Porém, Cravinho e até Marques Mendes estariam longe de imaginar que aquele primeiro-ministro seria um dia acusado de corrupção por usar uma conta em nome de um amigo com mais de €20 milhões ou que o ex-ministro socialista Armando Vara e outros antigos dirigentes do PS estariam hoje a cumprir penas de prisão efetiva.

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