9 abril 2021 11:56

Se há uma coisa que Ivo Rosa tem demonstrado ao longo da sua carreira é que não teme a forma como os outros magistrados o encaram. E é daí que vem a sua imprevisibilidade
9 abril 2021 11:56
Talvez a imagem da justiça portuguesa não recupere tão depressa do que vier a sair esta sexta-feira da sala de audiências do Tribunal Central de Instrução Criminal, também conhecido por “Ticão”, um petit nom que se tornou habitual entre magistrados e advogados. Talvez José Sócrates não venha a ser julgado. Talvez venha a ser julgado apenas por fraude fiscal e branqueamento de capitais, mas não pelo que seria o seu maior pecado: corrupção. São muitos talvezes. É difícil prever o que irá acontecer naquela sala e a dúvida só se coloca porque, dos dois juízes que compõem o Ticão, o sistema aleatório de sorteio para a instrução do primeiro processo-crime em Portugal em que está acusado um primeiro-ministro deitou para fora o nome de Ivo Rosa.
A discussão seria outra se o sorteado tivesse sido Carlos Alexandre, o juiz que acompanhou toda a fase de investigação da Operação Marquês, aprovou todos os passos do Ministério Público ao longo dos anos e acabou por mandar prender Sócrates. Nessas circunstâncias, seria uma soma fácil. Com Rosa, os sinais são em sentido contrário. Logo à partida, porque demorou mais de dois anos para construir a decisão que profere agora sobre quem vai ou não a julgamento, assente num despacho de seis mil páginas. Seriam necessários tanto tempo e tantas páginas para simplesmente confirmar a acumulação de indícios que vinham de trás?