A posição surge numa carta, com data de 20 de janeiro e à qual a Lusa teve acesso esta quinta-feira, em que o gestor português, considerado o braço direito da empresária angolana Isabel dos Santos, comunica ao conselho fiscal do BFA a sua renúncia ao mandato, conhecida publicamente esta quinta-feira, na sequência do chamado processo 'Luanda Leaks'.
"No final do passado mês de dezembro, o conselho de administração da Unitel aprovou formalmente a lista de pessoas a designar para o conselho de administração do BFA para o triénio que se inicia. Não fazendo parte dessa lista, considero ser o momento apropriado para fazer cessar as minhas funções neste órgão, que integro desde a primeira hora em que a acionista Unitel entrou no capital social do BFA", lê-se na carta assinada por Mário Leite Silva.
Na mesma carta, o gestor português recorda que a acionista Unitel (51,9% do capital social do banco) investiu na aquisição da sua participação no BFA cerca de 510 milhões de dólares: "Este montante foi desembolsado num período que se iniciou em 2008 e terminou no final de 2016".
Acrescenta que do ponto de vista financeiro, entre 2008 e 2019, o BFA gerou resultados líquidos equivalente a 3,95 mil milhões de dólares e distribuiu aos seus acionistas um pouco mais de 42% dos resultados gerados. "Deste modo, ao longo destes anos (e sem contar com o dividendo do exercício de 2019), a Unitel recebeu cerca de 850 milhões de dólares - mais de 65% do que aquilo que pagou", afirma, na carta.
"O banco em que entrei em 2008 é um banco muito diferente que deixo neste início de 2020: o número de clientes quase quadruplicou, passando de menos de 600.000 para mais de 2.100.000; a rede de distribuição quase duplicou, passando de cerca de 111 para quase 197 pontos de atendimento; o número de colaboradores passou de menos de 1.600 para mais de 2.700", afirma Mário Leite Silva.
Mário Leite Silva é um dos facilitadores portugueses dos negócios de Isabel dos Santos que envolvem esquemas financeiros suspeitos, revelados na investigação jornalística conhecida como 'Luanda Leaks'.
A Procuradoria-Geral da República anunciou na quarta-feira que Isabel dos Santos foi constituída arguida por alegada má gestão e desvio de fundos durante a sua passagem pela Sonangol, tal como alguns cidadãos portugueses, entre os quais Mário Leite da Silva.
O português, braço direito da filha do ex-Presidente angolano José Eduardo dos Santos assumiu o cargo de presidente do BFA em janeiro de 2017, após a assinatura do acordo de compra de 2% do BFA pela Unitel, sendo eleito para o triénio 2017-2019.
O gestor foi também alvo, tal como Isabel dos Santos e o seu marido, Sindika Dokolo, do arresto preventivo de participações em empresas e contas bancárias decidido em dezembro pelo Tribunal Provincial de Luanda.
O 'Luanda Leaks' detalha esquemas financeiros da empresária angolana e do marido que lhes terão permitido desviar dinheiro do erário público angolano, utilizando paraísos fiscais, alegações que Isabel dos Santos considera "completamente infundadas".
Mário Leite da Silva substituiu Fernando Ulrich em 5 de janeiro de 2017, logo após o Banco Português de Investimento (BPI) concretizar a venda de 2% do BFA à Unitel, passando a operadora angolana a controlar o banco.
"Em consequência da concretização desta transmissão, as participações do Banco BPI e da Unitel no BFA passaram a ser de, respetivamente, 48,1% e de 51,9%", lê-se na informação enviada pelo BPI em 05 de janeiro de 2017 à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).
Notícia atualizada às 11h26
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