1.
No último terço do seu mandato à frente da Sonangol, até novembro de 2017, Isabel dos Santos fez com que a petrolífera estatal angolana para a qual tinha sido nomeada pelo pai, o então Presidente de Angola, transferisse mais de 100 milhões de dólares de fundos públicos para uma empresa no offshore do Dubai.
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Mais: daquele montante, cerca de 57 milhões de dólares foram pagos em três transferências executadas já depois de a empresária angolana ter sido demitida da petrolífera por um decreto do então recém-eleito Presidente, João Lourenço.
3.
Justificadas como pagamento de serviços de consultoria à Sonangol, as transferências foram feitas para uma companhia offshore, a Matter Business Solutions, controlada pelo principal advogado de Isabel dos Santos – um português, sócio de um dos principais escritórios de advogados em Lisboa.
4.
A Matter Business Solutions tinha como principal gestor de negócios e como diretora duas pessoas próximas da empresária que a representam em importantes empresas de que é acionista em Portugal.
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Se quiser saber quem são os portugueses envolvidos nesta ligação Sonangol-Matter, clique aqui.
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Nenhum desses representantes de Isabel dos Santos assume a ligação à Matter Business Solutions, mas documentos identificados pela investigação Expresso/ICIJ provam essa ligação.
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O ICIJ é o Consórcio Internacional de Jornalismo de Investigação de que o Expresso faz parte. Inclui jornais internacionais como o "Le Monde", "The New York Times", "The Guardian", "Süddeutsche Zeitung", BBC, entre outros. Se quiser conhecer o consórcio e os detalhes de como a investigação foi feita, entre por aqui.
8.
Voltando à história: as transferências feitas após a demissão de Isabel dos Santos da Sonangol foram assinadas por uma CEO da subsidiária britânica que nunca foi oficialmente designada para o cargo. “Não cheguei a sentar-me no gabinete”, contou ao ICIJ, acrescentando: “Não imaginava que tinham ido para a frente com esse documento. Os advogados disseram que não iria funcionar… eu não tinha tomado posse”.
9.
Para que assinasse esse documento, a anterior presidente da subsidiária foi despedida. Por email.
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As ordens de transferência foram suportadas por um conjunto de 63 faturas que apresentam informação muito escassa sobre os serviços de consultoria que terão sido prestados à petrolífera, levantando dúvidas sobre o controlo e verificação dessas despesas pela empresa pública angolana. A investigação Expresso/ICIJ explica porquê.
11.
O Eurobic, em Lisboa, banco de que Isabel dos Santos é acionista, foi o veículo das transferências. Há nestes documentos registo de como a conta da Sonangol no Eurobic em Lisboa foi esvaziada em menos de 24 horas – no dia a seguir à demissão da empresária da Sonangol.
12.
O contrato de 10 de novembro de 2017, em nome da Matter e da Sonangol, refere-se à subcontratação de consultoras internacionais, uma consultora portuguesa e outro escritório de advogados português (todas identificadas nesta investigação). As faturas, no entanto, não fazem alusão a essas consultoras subcontratadas e ao trabalho que terá sido feito.
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O acordo assinado pela Sonangol UK obrigava a que a petrolífera não podia exigir nem à Matter nem às consultoras subcontratadas provas dos serviços prestados. Mesmo sendo uma empresa pública angolana.
14.
A ligação entre a gestão da Sonangol do tempo de Isabel dos Santos e empresas do universo empresarial da empresária remonta aos meses que antecederam a sua posse. E começou a formalizar-se ainda antes da posse. Ao caso, com a Wise Intelligence Solutions, empresa sediada em Malta e propriedade de Isabel dos Santos (com 99%, porque o marido possui 1% do capital social).
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Esta empresa ficaria encarregada da operação de reestruturação da Sonangol. Isabel dos Santos argumentou que esta tinha larga experiência nessas operações, mas tinha apenas cinco anos e existência – e pouco know-how.
16.
A Matter, para onde foram transferidas as verbas, revela-se uma derivação no Dubai (um paraíso fiscal mais resguardado) da empresa que Isabel dos Santos tinha sediada em Malta. A operação é também descrita, com documentação, nesta investigação. Explicando-se por que razão ela foi feita: evitar a aparência de um conflito de interesses da empresária.
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O Luanda Leaks mostra como Isabel dos Santos utilizava o seu império empresarial. Esse império é visível neste mapa interativo.
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Se quiser conhecer como Isabel dos Santos construiu esse império, o caminho é por aqui.
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