União Europeia

Von der Leyen, em busca da reeleição, critica Orbán e sublinha Estado de Direito: “A democracia é o nosso tesouro comum”

Von der Leyen, em busca da reeleição, critica Orbán e sublinha Estado de Direito: “A democracia é o nosso tesouro comum”
Octav Ganea/Reuters

"Ninguém quer a paz mais do que o povo da Ucrânia, uma paz justa e duradoura para um país livre e independente e a Europa estará ao lado da Ucrânia durante o tempo que for necessário, esta é a nossa mensagem", vincou a presidente da Comissão Europeia em Estrasburgo

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, que tenta hoje ser reeleita pelo Parlamento Europeu, voltou a criticar a deslocação do primeiro-ministro húngaro a Moscovo, falando numa "missão de apaziguamento" e não de paz.

"A Rússia está a contar que a Europa e o Ocidente se tornem brandos e alguns na Europa estão a alinhar. Há duas semanas, um primeiro-ministro da União Europeia [UE] deslocou-se a Moscovo. Esta chamada missão de paz não passou de uma missão de apaziguamento, tratou-se de uma missão de apaziguamento puro e simples", disse Ursula von der Leyen.

Intervindo perante os eurodeputados na sessão plenária, na cidade francesa de Estrasburgo, a líder do executivo comunitário, que tenta hoje ser reconduzida no cargo por mais cinco anos, criticou a deslocação de Viktor Orbán a Moscovo no início do mês, ocasião na qual se encontrou com o Presidente russo, Vladimir Putin, quando a Hungria assume a presidência rotativa da UE este semestre.

O primeiro-ministro húngaro justificou a visita no âmbito de uma missão de paz.

"Apenas dois dias depois [desta visita], os jatos de Putin apontaram os seus mísseis a um hospital pediátrico e a uma maternidade em Kiev [na Ucrânia], e todos nós vimos as imagens de crianças cobertas de sangue, vimos as mães a tentarem pôr em segurança jovens doentes com cancro", acrescentou Ursula von der Leyen.

Segundo a líder do executivo comunitário, "esse ataque [russo] não foi um erro", mas sim "uma mensagem, uma mensagem arrepiante, do Kremlin para todos", quando se assinalam dois anos e meio da invasão russa da Ucrânia.

"Por isso, senhores deputados, a nossa resposta tem de ser igualmente clara: ninguém quer a paz mais do que o povo da Ucrânia, uma paz justa e duradoura para um país livre e independente e a Europa estará ao lado da Ucrânia durante o tempo que for necessário, esta é a nossa mensagem", vincou.

Neste discurso para apresentar a sua visão para uma eventual reeleição, Ursula von der Leyen adiantou: "Temos de investir mais na nossa segurança e defesa. A Rússia continua na ofensiva no leste da Ucrânia e está a apostar numa guerra de desgaste, em tornar o próximo inverno mais rigoroso do que o anterior".

“Respeito pelo Estado de Direito continuará a nortear fundos europeus”

Ursula von der Leyen garantiu também que irá manter o princípio do "respeito pelo Estado de direito como obrigação para os fundos" comunitários, garantindo que será intensificado o trabalho na "defesa de todos os aspetos da democracia" e o "Estado de direito e a luta contra a corrupção estarão no centro".

"Manter-nos-emos fiéis a um princípio muito claro no nosso orçamento. O respeito pelo Estado de direito é uma obrigação para os fundos da União Europeia, no presente orçamento e no futuro", garantiu.

Serão ainda protegidos, segundo Von der Leyen, os media e a sociedade civil.

"A democracia é o nosso tesouro comum. É o fórum no qual as nossas diferenças e desacordos podem ser expressas", afirmou aos eurodeputados, notando como as "democracias estão ameaçadas", exemplificando com a "guerra sem tréguas em solo europeu, na Ucrânia", resultado da invasão russa em fevereiro de 2022.

Destacando o trabalho dos serviços e dos jornalistas em "descobrir casos de espionagem, ciberataques, corrupção e desinformação por parte de atores estrangeiros, em particular os russos e chineses", a alemã afirmou a necessidade de impedir interferências nos processos democráticos, "minando-os e, em última análise, destruindo-os".

"Se me derem a vossa confiança hoje, a Comissão irá propor um Escudo Europeu para a Democracia", anunciou Von der Leyen, garantindo que a "UE precisa de uma estrutura própria para combater a manipulação e a interferência de informações estrangeiras". Esta estrutura vai integrar "conhecimentos especializados" vai estabelecer "ligação e coordenação com as agências nacionais existentes", uma vez que as "capacidades de informação e deteção devem ser reforçadas, juntamente com a capacidade de atuar e impor sanções", defendeu.

"É urgente dotar a União Europeia de poderosos instrumentos de ciberdefesa, de impor a transparência do financiamento estrangeiro da nossa vida pública como uma regra comum, mas também garantir um quadro de informação fiável", argumentou a presidente da Comissão Europeia.

Assim, a Europa deve apoiar uma "imprensa independente, continuar a garantir o respeito das regras pelos gigantes digitais e continuar a incentivar ainda mais os programas de literacia mediática".

"A sociedade civil tem de ser mais apoiada e defendida", concluiu.

Comissão vai ter vice-presidente para competitividade e indústrias verdes

A candidata à presidência da Comissão Europeia anunciou ainda que, se for eleita, nomeará um vice-presidente para coordenar a competitividade e prosperidade, assente em menos burocracia e num novo pacto industrial e 'verde'.

Em Estrasburgo, a alemã defendeu uma Europa que apoie as empresas, mas também as pessoas, acrescentando a necessidade de "aprofundar o mercado" e "reduzir a burocracia" para que haja "mais confiança, melhor execução". Destacando a aposta que deve ser feita nas empresas, Von der Leyen também sublinhou a importância da aposta já feita em tecnologia e energias limpas, como no hidrogénio limpo, com a Europa a investir mais do que "os EUA e a China em conjunto".

"Nos últimos anos, concluímos com parceiros mundiais 35 novos acordos sobre tecnologia limpa, hidrogénio e matérias-primas críticas", acrescentou a alemão, referindo que será para continuar o Pacto Ecológico Europeu e assim alcançar os objetivos traçados para 2030 e 2050.

"Apresentarei um novo pacto industrial limpo nos primeiros 100 dias do próximo mandato", anunciou ainda, notando que a Europa está a "descarbonizar e a industrializar-se ao mesmo tempo".

Assim, os investimentos terão sempre uma base verde porque a economia próspera que defende é também uma questão de "justiça intergeracional" dados os objetivos para mitigar as alterações climáticas.

Von der Leyen recordou que no primeiro semestre deste ano metade da produção de eletricidade teve origem em energias renováveis e os "investimentos em tecnologias limpas na Europa mais do que triplicaram neste mandato".

O novo acordo industrial limpo também ajudará a reduzir as faturas de energia, indicou a responsável, recordando a "chantagem" do presidente russo, Vladimir Putin, ao cortar o "acesso aos combustíveis fósseis". "Mas resistimos juntos. Investimos maciçamente em energias renováveis baratas produzidas internamente. E isso permitiu-nos libertarmo-nos dos sujos combustíveis fósseis russos", concluiu.

[Notícia atualizada às 10h50]

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