António Costa achou a dada altura que a água não passaria duas vezes por baixo da mesma ponte. Depois de ter recusado em 2019 a presidência do Conselho Europeu, precisou de cinco anos (um mandato na Europa) para que a oportunidade voltasse a aparecer. Apesar de já não ser primeiro-ministro – até agora o presidente foi sempre escolhido entre os que estavam na sala – de não ser o seu partido no Governo e de não ter um papel passado pela justiça a inocentá-lo oficialmente, o ex-primeiro-ministro viu as condições (quase) ideais para alcançar o cargo europeu com que sonhava há algum tempo.
Começou a trabalhar nesse caminho antes de ter saído de São Bento. Queria ter o apoio do seu sucessor, na hora em que a questão se colocasse. Antes das eleições legislativas tratou de falar, com todo o secretismo, com quem poderia ocupar a cadeira em São Bento. Três meses passados, na noite eleitoral das europeias, ficou claro por revelação do próprio que a primeira conversa com Luís Montenegro tinha começado ainda antes das legislativas e que tinham voltado a falar no assunto quando este foi empossado primeiro-ministro. “Nunca aceitaria ser presidente do Conselho Europeu sem o apoio do Governo meu país. Poderia ser, mas nunca aceitaria", disse nessa noite na CMTV. Sabia que tinha o apoio e que podia contar com o trabalho ativo do agora primeiro-ministro para a sua candidatura. Foi Montenegro quem revelou que tinha comunicado à sua família europeia que iria apoiar António Costa.
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: lvalente@expresso.impresa.pt