Parlamento Europeu alvo de buscas em caso de suposta interferência russa
EPA/JULIEN WARNAND
A casa e ambos os escritórios de um funcionário do Parlamento estão a ser investigados pelas autoridades. Investigação a alegada influência russa nas eleições europeias começou em abril após uma denúncia feita pela Chéquia
A polícia belga efetuou esta quarta-feira buscas na residência de um funcionário do Parlamento Europeu, bem como no seu escritório em Bruxelas, devido a suspeitas pelas autoridades de interferência russa.
Segundo o Ministério Público da Bélgica, citada pela Associated Press, o escritório do mesmo funcionário no Parlamento Europeu em Estrasburgo, em França, também foi alvo de investigação.
“As buscas fazem parte de um caso de interferência, corrupção passiva e pertença a uma organização criminosa, e estão relacionadas com indícios de interferência russa, em que membros do Parlamento Europeu foram abordados e pagos para promover propaganda russa através do site de notícias ‘Voice of Europe’”, explicaram as autoridades belgas, em comunicado.
O funcionário, acrescentam os procuradores, terá tido “um papel significativo” na presença russa na instituição europeia.
Segundo uma fonte próxima do caso, trata-se de um antigo assistente parlamentar do eurodeputado alemão Maximilian Krah, do partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD). De acordo com o Ministério Público belga, as buscas também decorriam na casa deste suspeito, Guillaume Pradoura, em Bruxelas.
Krah é atualmente assistente parlamentar do eurodeputado neerlandês Marcel de Graaff, membro do Fórum para a Democracia, um partido eurocético e conservador holandês.
Nathalie Loiseau é eurodeputada e está integrada no grupo político liberal Renovar a Europa
As operações surgem apenas dois dias depois de a União Europeia ter aprovado a imposição de sanções ao site ‘Voice of Europe’ e a dois empresários ligados à organização, depois de a Chéquia ter denunciado a plataforma como um meio de disseminação de propaganda do Kremlin pela Europa.
Em março, segundo a Reuters, a Chéquia apontou que um dos homens sancionados, Viktor Medvedchuk, é um antigo deputado ucraniano próximo do governo russo, que se exilou na Rússia em 2022 após uma troca de prisioneiros de guerra ucranianos. Kiev retirou-lhe entretanto a cidadania ucraniana.
O outro indivíduo sancionado, o cidadão israelita Artem Marchevskyi, foi acusado pelo governo checo de gerir o ‘Voice of Europe’ sob a direção de Medvedchuk.
A Bélgica começou a investigar suspeitas de ingerência russa nas instituições europeus em abril, no âmbito do escândalo “Russiagate” que tem abalado o Parlamento Europeu. Na altura, o primeiro-ministro belga, Alexander De Croo, assumiu que as autoridades nacionais iam investigar o caso devido à localização do Parlamento Europeu em Bruxelas.
Segundo o Politico, De Croo afirmou em abril que a Rússia abordou eurodeputados e “pagou” para que estes partilhassem e promovessem conteúdos do site. Para o chefe do Governo belga, os “objetivos de Moscovo são claros”, como “ajudar a eleger mais candidatos pró-russos para o Parlamento europeu e reforçar a narrativa pró-russa nessa instituição”.
Ministro da Defesa português diz que buscas testam robustez da instituição
O ministro da Defesa e ex-eurodeputado Nuno Melo considerou que as buscas no Parlamento Europeu são um teste à robustez da instituição, defendendo que se identifiquem e impeçam ingerências do Kremlin.
"Infelizmente, as tentativas de interferência russa, nomeadamente na dinâmica normal dos regimes democráticos, são permanentes e o PE é apenas mais um alvo", disse Nuno Melo, à margem de um fórum sobre defesa e segurança, no edifício do PE em Bruxelas, no qual participou na qualidade de ministro da Defesa.
Nuno Melo, que foi eurodeputado até há dois meses, considerou que o Parlamento Europeu "é uma instituição robusta", mas alertou para a intensificação das tentativas de ingerência "em momentos eleitorais", como as europeias daqui a menos de duas semanas.
Pedindo ações concretas para "identificar estas tentativas de interferência", o também presidente dos centristas portugueses advertiu que há partidos políticos "que jogam o jogo democrático em muitos países" do bloco europeu, mas que recebem financiamento da Rússia.