Comissão Europeia defende parceria UE-China: “Não querem um mundo que cancela a China, é a segunda economia do mundo”
Friends of Europe
Perante as mudanças geopolíticas da atualidade, o objetivo da União Europeia passa por "evitar dependências perigosas". Mas apesar de reconhecer a existência de dependências e uma relação “complexa” com a China, a diretora-geral adjunta do Comércio da Comissão Europeia entende que este parceiro comercial não deve ser colocado de parte
“Tentamos manter a abertura da nossa economia enquanto procuramos assegurar que evitamos dependências que podem ser perigosas.” Foi assim que Maria Martin-Prat, diretora-geral adjunta do Comércio da Comissão Europeia, descreveu esta terça-feira a resposta da União Europeia (UE) às mudanças geopolíticas que o mundo enfrenta atualmente.
Descrevendo que a UE passou de um modelo económico baseado na eficiência e passou para um modelo com base na resiliência, Martin-Prat comentou que as relações económicas exigem agora que se faça uma avaliação dos riscos em caso de dependências de territórios que “as poderiam usar como arma”. Em causa estão, por exemplo, matérias-primas críticas ou tecnologias como semicondutores.
As declarações foram proferidas num evento organizado pelo think tank ‘Friends of Europe’, intitulado “A recuperação económica da Europa e o futuro do comércio e economia europeia”, onde a relação com a China foi um dos focos. Quando Valdis Dombrovskis, vice-presidente executivo da Comissão Europeia, se deslocou à China em setembro, disse que as relações entre a UE e a China precisavam de ser “reequilibradas para serem mutuamente benéficas”. Meses antes, a presidente da Comissão, Ursula Von der Leyen, acusou Pequim de aumentar políticas de desinformação e coerção económica, e defendeu que - não sendo do interesse da Europa uma separação da China - deveria haver um foco na redução de riscos.
A China é um parceiro comercial que a diretora-geral adjunta do Comércio da Comissão Europeia descreve como “complicado” e “importante”, reconhecendo a existência de dependências às quais se pretende responder através de diversificação. “Não é confortável ter dependências que chegam ou superam os 95% em fornecimentos críticos, seja com a China ou qualquer outro país. E também é correto dizer que temos uma relação complexa com a China porque os nossos negócios enfrentam um ambiente em que é difícil entrar no mercado, funcionar no mercado e um modelo económico que a nosso ver cria distorções nas condições de concorrência que frequentemente nos forçam a reagir”, declarou.
Dados da Comissão Europeia mostram que no ano passado o comércio bilateral de bens entre a China e a União Europeia (UE) aumentou 23% para um volume recorde de 857 mil milhões de euros. As trocas comerciais que motivaram esta variação deveram-se sobretudo ao aumento das importações da China: aumentaram 32%, quando as exportações de bens europeus cresceram apenas 3,1%. A China é o principal parceiro comercial da UE nas importações, com um volume que excede as importações combinadas dos Estados Unidos e do Reino Unido.
Ainda assim, ao longo dos últimos anos registaram-se vários pontos de tensão entre as duas partes a nível político. Entre elas as violações de direitos humanos em Xinjiang, a invasão da Ucrânia pela Rússia sem uma condenação direta da China, as limitações ao uso da aplicação chinesa TikTok em instituições governamentais e a investigação formal que a Comissão Europeia lançou à China por alegadas ajudas ilegais ao fabrico de carros elétricos.
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Apesar do alerta para as dificuldades de operação de empresas europeias no mercado chinês, Maria Martin-Prat procurou distanciar-se de questões políticas. Perante uma intervenção sobre o crescente autoritarismo no país asiático, respondeu dizendo que se mantém “afastada do termo semelhantes (‘like-minded’) e ainda mais longe do termo democracias”. Uma postura que justificou acrescentando que o mundo será um local “ainda menos seguro” se a União Europeia apenas realizar trocas comerciais com zonas semelhantes.
E frisou o interesse em que a Europa se relacione com a China. “Precisamente porque são 1,4 mil milhões de pessoas e a segunda economia do mundo. Não querem um mundo que cancela a China, nem sequer é uma possibilidade”, afirmou.