União Europeia

Cemitério Mediterrâneo: 26 mil mortos em dez anos

Resgate de migrantes no mar Mediterrâneo
Resgate de migrantes no mar Mediterrâneo
REUTERS

Nos primeiros dois meses de 2023 já morreram 225 pessoas que tentavam chegar à Europa em busca de uma vida melhor. O naufrágio com maior número de vítimas de que há registo aconteceu há quase 10 anos com 368 mortes confirmadas. Desde então não há um único ano sem vítimas das frágeis e lotadas embarcações

O mar não devia ser assassino mas as condições em que os migrantes e refugiados viajam podem roubar-lhes a vida. Só em 2023 já perderam a vida 225 pessoas, o que inclui o naufrágio deste domingo ao largo de Crotone, passageiros que tinham embarcado na Turquia numa embarcação sem qualquer tipo de segurança.

Às 225 pessoas deste ano, juntam-se as 2.406 mortes de 2022.

Duas mil quatrocentas e seis pessoas que foram vítimas do sonho de quererem chegar à Europa em busca de uma vida melhor. As “vítimas das viagens de esperança”, como lhes chama Di Massimo Nesticò, numa crónica publicada na Ansa.

A Organização Internacional para as Migrações (OIM) criou em 2014 o projeto Migrantes desaparecidos, que inclui três rotas: Mediterrâneo Central, Ocidental e Oriental.

Mediterrâneo Central é a que mais vítimas faz, na travessia entre a Líbia ou Tunísia para Itália: Mais de 17 mil mortos e desaparecidos nos últimos nove anos.

Na rota Ocidental, perderam a vida 2300 pessoas, 1700 na rota Oriental. E estas são (apenas) as mortes de que há registo, estimando-se que o número pode ser muito maior porque os desaparecidos são muitos.

20% dos migrantes que chegam a Itália vêm da Turquia

O barco que naufragou este domingo saiu da Turquia: perto de 20% dos desembarques em Itália vêm daí. São embarcações maiores (mas nem por isso mais robustas) do que as que partem da Líbia ou da Tunísia.

O naufrágio que mais vítimas causou na rota central do Mediterrâneo aconteceu há quase dez anos, na madrugada de 3 de outubro de 2013: 368 mortos confirmados e cerca de vinte desaparecidos. O barco tinha saído da Líbia, nos anos confusos que se seguiram à guerra civil. Naufragou quando se estava a aproximar da ilha de Lampedusa.

Uma tragédia nunca vem só, e uma semana mais tarde, novo naufrágio com 200 pessoas a bordo, incluindo 60 crianças.

Os dois naufrágios levaram o governo de Enrico Letta a pôr em marcha a missão Mare Nostrum, que mobilizou meios de salvamento com navios e aviões. A Mare Nostrum seria depois substituída pela Triton, uma missão da União Europeia, a que se juntam as ações de várias ONG.

O Mediterrâneo continua a matar pessoas que o enfrentam em busca do sonho de uma vida melhor. A única vacina para esta pandemia é a criação de uma política de migração segura.

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