Reino Unido

Rishi Sunak marca legislativas antecipadas para 4 de julho, tentando conter queda do seu Partido Conservador nas sondagens

Ensopado sob chuva torrencial, Rishi Sunak anunciou ao país que há eleições legislativas no próximo dia 4 de julho
Ensopado sob chuva torrencial, Rishi Sunak anunciou ao país que há eleições legislativas no próximo dia 4 de julho
Lucy North/PA Images/Getty Images

Primeiro-ministro antecipa ato eleitoral que estava previsto para o outono. Rishi Sunak fez o anúncio após Conselho de Ministros para o qual convocou todo o Governo, levando mesmo alguns dos seus membros a cancelar viagens e entrevistas televisivas. Ideia do governante será aproveitar números positivos da inflação e início das deportações de migrantes para o Ruanda

Rishi Sunak marca legislativas antecipadas para 4 de julho, tentando conter queda do seu Partido Conservador nas sondagens

Pedro Cordeiro

Editor da Secção Internacional

O Reino Unido vai a votos no próximo dia 4 de julho, escrevem esta quarta-feira os principais títulos da comunicação social britânica — das emissoras BBC e Sky News aos jornais “The Guardian” e “The Telegraph”. As eleições gerais, que servem para eleger os 650 membros da Câmara dos Comuns, foram antecipadas pelo primeiro-ministro Rishi Sunak numa altura em que o seu Partido Conservador está bem atrás da oposição trabalhista nas sondagens.

Os estudos de opinião deste mês dão 40 a 47% das intenções de voto ao Partido Trabalhista, a maior força da oposição, e 18 a 27% aos conservadores de Sunak. Nas eleições locais do início do mês, o partido governante teve um péssimo resultado.

As legislativas teriam de acontecer até janeiro de 2025, e o primeiro-ministro prometera nos últimos meses que se realizariam na segunda metade de 2024. Assim, honra a sua palavra, embora se julgasse que planeava agendar a ida às urnas para o outono.

Bons ventos económicos

Após um Conselho de Ministros, Sunak lembrou que nos últimos cinco anos o Reino Unido “enfrentou o tempo mais desafiante” desde a II Guerra Mundial. Afirmou ter sido elevado a primeiro-ministro para “repor a estabilidade económica” (após o efémero consultado de Liz Truss). Como tal, defende, a escolha é entre continuar nesse caminho ou passar o testemunho aos trabalhistas, a quem acusa de não terem plano. O povo terá de “decidir se quer construir sobre o progresso já feito ou arriscar-se a recuar até à casa de partida sem plano nem certeza”.

A imprensa britânica foi formando, ao longo do dia, a convicção de que vinha aí convocatória eleitoral, lendo os sinais. O ministro das Finanças, Jeremy Hunt, cancelou uma entrevista televisiva; o dos Negócios Estrangeiros, David Cameron, encurtou uma viagem à Albânia. Horas depois, Sunak anunciava ter já pedido ao rei Carlos III a dissolução do Parlamento, prontamente concedida.

O anúncio — feito à porta da residência oficial do governante, em Downing Street, sob chuva torrencial e, a agravar um quadro pouco auspicioso para Sunak, com alguém nas redondezas a fazer passar em alto volume a canção “Things can only get better”, da banda D:Ream, hino de campanha do trabalhista Tony Blair no triunfo eleitoral de 1997 — surge num dia em que as estatísticas oficiais dão conta de uma descida da inflação, que o conservador assegura ter “voltado ao normal”.

Keir Starmer promete mudança

O chefe do Executivo defendeu no debate parlamentar semanal, antes de reunir os ministros, que isto mostra que o seu “plano está a funcionar”, e que a melhoria dos indicadores se deve às “decisões difíceis” tomadas pela sua equipa. Sunak quererá aproveitar o ímpeto da economia para contrariar as tendências de voto. Ao mesmo tempo, o Governo conseguiu nos últimos dias, após longas querelas judiciais, começar a cumprir a promessa de deportar para o Ruanda migrantes candidatos a asilo.

O líder do Partido Trabalhista não tardou a publicar um vídeo nas redes sociais a pedir “Mudança”. Keir Starmer afirma que após 14 anos de governos dos tories (com os primeiros-ministros David Cameron, Theresa May, Boris Johnson, Liz Truss e Rishi Sunak), “nada parece funcionar”. E assegura que o Reino Unido, um país “grande e orgulhoso”, merece melhor.

Após a ida de Sunak ao Palácio de Buckingham, a legislatura será suspensa no próximo dia 24 (sexta-feira), ocorrendo a dissolução do Parlamento na quinta-feira, 30. Os deputados eleitos a 4 de julho tomarão posse no dia 9 desse mês, estando a abertura solene prevista para o dia 17, na presença do monarca.

Escândalo do sangue “não pode voltar a acontecer”

O debate parlamentar abordou ainda o escândalo do sangue contaminado recentemente divulgado. Nos anos 70 e 80, milhares de pessoas contraíram sida, hepatite e outras doenças ao receberem transfusões de sangue. O Governo de então, chefiado por Margaret Thatcher, não terá dado à opinião pública toda a informação para se proteger.

Sunak aceitou ter-se tratado de um “escândalo horroroso” e defendeu que “nada deste tipo pode voltar a acontecer”. O Governo irá apreciar as recomendações da comissão que elaborou um relatório sobre o assunto.

A sessão parlamentar ficou marcada, logo no início, pelo comovente regresso aos trabalhos do deputado Craig Mackinlay. Ausente desde setembro por ter sofrido uma septicemia, o conservador que representa o círculo eleitoral de Thanet Sul esteve à beira da morte, e sobreviveu após terem-lhe sido amputados os quatro membros.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: pcordeiro@expresso.impresa.pt

Comentários
Já é Subscritor?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate