Os 39 requerentes de asilo que tinham sido transferidos dos quartos de hotel onde viviam para o Bibby Stockholm, vão ser retirados da embarcação, após ter sido descoberta a bordo presença de legionela. A infeção com esta bactéria pode causar graves problemas pulmonares. Não há notícias de contágio, para já, mas os requerentes de asilo não vão voltar para os hotéis onde estavam, uma vez que esses locais estão agora a ser testados. A legionela, que causa a chamada doença do legionário, está normalmente presente na água.
Neste momento, segundo a Sky News, o ministro da Imigração, Robert Jenrick, está em reuniões com autoridades sanitárias de Dorset, distrito do sul de Inglaterra ao qual pertence o porto de Portland, onde o barco está ancorado.
Um porta-voz do Ministério do Interior disse, citado pelo jornal “The Guardian”, que as amostras recolhidas no sistema de abastecimento de água no Bibby Stockholm revelaram níveis de concentração de bactérias que obrigam a uma investigação mais aprofundada. “Como medida de precaução, todos os 39 requerentes de asilo que chegaram ao navio esta semana estão a ser desembarcados, enquanto se conduzem outros testes. Nenhum indivíduo a bordo apresentou sintomas de doença do legionário, e os requerentes de asilo estão a receber aconselhamento e apoio adequados”. Não há “nenhuma indicação direta de risco” para a restante população de Portland.
A transferência de requerentes de asilo para o Bibby Stockholm, todos eles homens e todos nos últimos estágios dos seus processos, tem sido bastante criticada por advogados de direitos humanos e ativistas pró-imigração. Alguns dos homens que receberam as cartas a informá-los da mudança não aceitaram deixar os seus quartos, apesar de o ministro da Imigração ter dito na quarta-feira que quem se recusasse a ser transferido podia perder o apoio do Estado ao seu processo de asilo. O Expresso tentou entender junto da tutela em que é que essa perda se materializa realmente - se é apenas o corte da ajuda semanal que recebem ou se pode incluir represálias como a suspensão do processo de asilo - mas não obtivemos resposta.
O problema com o Bibby Stockholm não é a falta de condições de habitabilidade mínimas. Este barco já foi utilizado outras vezes como alojamento temporário de trabalhadores sazonais e requerentes de asilo, e outros barcos semelhantes também, em vários países da Europa. O problema é que alguns dos requerentes de asilo que estão em hotéis à espera de receber proteção no Reino Unido, têm problemas de mobilidade, problemas de saúde mental, alguns são portadores de deficiência ou apresentam traumas por causa da viagem de barco no Canal da Mancha, o trecho de mar que separa a costa norte de França e o sul do Reino Unido.
“Armadilha potencialmente mortal”
A capacidade original do Bibby Stockholm é de 222 pessoas, mas os quartos foram modificados para poderem albergar até 500 pessoas, o número de requerentes de asilo que o Governo britânico desejaria já ter transferido. Se algum dia vierem a viver 500 pessoas no barco, aí sim, as autoridades já avisaram que é possível que surjam surtos muito difíceis de controlar. O sindicato dos bombeiros também já classificou o barco como uma “armadilha potencialmente mortal”, uma vez que os corredores são estreitos e as saídas de emergência estão feitas para as tais 222 pessoas, não para mais do dobro.
O primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, diz que a passagem de pessoas de hotéis para barcos é uma forma de poupar dinheiro aos contribuintes, mas é uma poupança pequena.
Os valores que se conhecem, por serem contratos públicos, e os que foram sendo revelados por jornais como “The Times” mostram que o custo total para um ano de utilização do Bibby Stockholm é de 18.565.500 libras (cerca de 20 milhões de euros), valor que, dividido por dias (365) e por número máximo de ocupantes (500), dá cerca de 102 libras por cabeça (118 euros).
Atualmente, o preço total que o Estado paga para alojar os 50 mil requerentes de asilo que estão em hotéis está nos 5,6 milhões de libras por dia (6,5 milhões de euros), segundo a página de verificação de factos Full Fact. Este número, dividido pelas pessoas que vivem em hotéis, fica nos 112 libras por pessoa (130 euros), uma poupança de 10 libras (11,5 euros).
Os analistas que se debruçam sobre o tema dizem que a verdadeira poupança acontecerá no dia em que os serviços de análise de casos de asilo comecem a processar decisões de forma mais rápida, de forma a que quem tem direito a essa proteção consiga os documentos que lhe permitem trabalhar e ser menos dependente do Estado. O problema dos que não têm direito a asilo permanece, porque não existem acordos de extradição com muitos dos países de onde chegam estas pessoas, mas, em média, 75% dos que pedem asilo conseguem-no, pelo que o problema seria, pelo menos, menor - e assim, também, o dinheiro dispendido em hotéis.