Se a situação se agravar, Portugal tem um plano de retirada de cidadãos portugueses que, num espaço de horas, pode ser accionado. Para já, informou o ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, em entrevista à RTP, houve portugueses que já saíram e outros que informaram que querem continuar na Ucrânia. O ministro garante que em cima da mesa não está uma resposta militar da NATO a uma eventual agressão da Rússia à Ucrânia.
Com o intensificar da tensão nestes últimos dois dias na região de Donbas, na Ucrânia, entre as forças oficiais da Ucrânia e as forças separatistas apoiadas pela Rússia, o ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros quis esclarecer a posição portuguesa (e da NATO): “Uma agressão da Rússia à Ucrânia não significa uma agressão da Rússia à NATO”, disse. Contudo, acrescentou, “a NATO defende a sua fronteira” e por isso uma agressão russa “desencadeará uma resposta imediata em sanções económicas nunca vistas”, disse. “Não se trata de uma reposta militar, mas económica”, garantiu.
Isto não significa que não haja apoio bilateral de vários estados à Ucrânia. Aliás, os Estados Unidos têm dito que não deixarão de ajudar a Ucrânia, como Putin pede. “Terão toda a nossa solidariedade política”, disse Santos Silva à RTP. Um apoio que se traduzirá em “sanções económicas devastadoras” à Rússia.
Isto acontece porque a Ucrânia não faz parte da NATO e, como tal, não é possível acionar o Artigo 5 da Aliança Atlântica que diz que uma ofensiva contra um membro da NATO é um ataque a todos os membros restantes e por isso desencadeia uma ofensiva coletiva.
Na Conferência de Segurança que decorre até hoje em Munique, os líderes da NATO deram a entender que uma guerra na Ucrânia está cada vez mais próxima. Kamala Harris, vice-presidente norte-americana, disse que os EUA estão cientes que Putin “já tomou a sua decisão. Ponto final” e Boris Johnson, primeiro-ministro britânico, disse que Putin se prepara para a “maior guerra na Europa desde 1945”. Charles Michel, presidente do Conselho Europeu, afirmou ainda que a via diplomática está a chegar ao fim: “Não podemos oferecer eternamente um ramo de oliveira enquanto a Rússia faz testes de mísseis e continua a reunir tropas na fronteira ucraniana”.
Augusto Santos Silva ainda acredita na via diplomática – “a Rússia não está sob ameaça de ninguém”, disse – sobretudo depois das conversas que o presidente francês Emmanuel Macron manteve já hoje, primeiro com Putin, depois com Volodymyr Zelensky, presidente ucraniano. “Estamos mais perto, infelizmente, do que estávamos há dias atrás [de um conflito], mas não é irreversível e inevitável. Ainda há uma janela política que deve ser aproveitada”, disse na mesma entrevista.
Embaixada portuguesa mantém-se em Kiev
A “consequência lógica do agravamento do que se passa na Ucrânia” é a preparação da Embaixada Portuguesa em Kiev para o caso de ser necessário retirar cidadãos portugueses do país. Por isso, garantiu Santos Silva, está preparado há semanas um “plano de retirada” que pode ser accionado, caso haja uma interrupção dos voos comerciais para aquele país.
Os portugueses “serão sempre apoiados”, disse Santos Silva, apesar da situação ser “difícil”. O plano de retirada tem “uma prontidão de horas”.
Para já, e ao contrário de outros países europeus, a embaixada portuguesa continua a funcionar em Kiev, onde se mantém o embaixador. E houve um reforço da embaixada, com pessoal com competências operacionais.
Por agora, permanecem apenas três portugueses na região mais problemática, Donbas, e os restantes estão a ser contactados. Augusto Santos Silva deixa de novo a recomendação para que os portugueses abandonem o país, mas diz que muitos têm dupla nacionalidade e portanto sentem que estão em casa, e para que se mantenham à distância de um telefonema ou de um email da embaixada.
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