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Jornalistas da agência Lusa, RTP e RDP expulsos da Guiné-Bissau: MNE quer explicações, empresas falam de “ataque à liberdade de expressão”

Assembleia Nacional Popular da Guiné-Bissau, a sede do parlamento guineense, em Bissau.
Assembleia Nacional Popular da Guiné-Bissau, a sede do parlamento guineense, em Bissau.
Danilo Vaz

Ministério dos Negócios Estrangeiros considera decisão do Governo guineense “altamente censurável e injustificável” e já convocou embaixador para pedir explicações. Direções de informação falam de um “ataque deliberado à liberdade de expressão”. Governo guineense diz que dá explicações este sábado

As delegações da agência Lusa, da RTP África e da RDP África foram expulsas da Guiné-Bissau.

Por decisão do Governo guineense, as suas emissões foram suspensas a partir desta sexta-feira e os representantes das delegações terão de deixar o país até terça-feira. Não foram avançadas razões para esta decisão.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) já repudiou a expulsão, que classificou de “altamente censurável e injustificável”, e vai pedir explicações ao Governo guineense.

Face à “gravidade desta medida”, o ministro dos Negócios Estrangeiros “convocou imediatamente” o embaixador da Guiné-Bissau em Lisboa para dar “explicações e esclarecimentos”, encontro que está agendado para sábado, lê-se num comunicado do MNE.

Mais tarde, no final de um encontro com a comunidade internacional, em Bissau, sobre as eleições gerais marcadas para 23 de novembro, o primeiro-ministro guineense, Braima Camará, questionado pelos jornalistas, passou a palavra ao ministro dos Negócios Estrangeiros da Guiné-Bissau.

Carlos Pinto Pereira confirmou que esta “é uma decisão do Governo”, mas disse também que não vai pronunciar-se sobre o assunto ainda nesta sexta-feira – “nas próximas horas tomará mais uma posição em termos de esclarecimentos sobre o assunto”, disse.

O ministro dos Negócios Estrangeiros confirmou também que Bissau tomou conhecimento do “comunicado publicado por Portugal”, referindo-se à posição do Governo português, e lamentou que o mesmo não tenha referido os fundamentos da decisão. “Mas, amanhã [sábado] com toda a certeza, iremos nos pronunciar um pouco mais sobre esse assunto”, indicou.

“Ataque deliberado à liberdade de expressão”

Numa nota de repúdio conjunta, as direções de informação dos três órgãos de comunicação – Lusa, RTP e RDP – também já reagiram, acusando o governo guineense de um “ataque deliberado à liberdade de expressão”.

“Tal decisão só se pode enquadrar no continuado propósito do governo da Guiné-Bissau de silenciar os jornalistas que cumprem a função de informar. Trata-se de uma acção discriminatória e selectiva, configurando um ataque deliberado à liberdade de expressão.”, lê-se no documento, assinado pelos diretores de informação Luísa Meireles (Lusa), Mário Galego (RDP) e Vítor Gonçalves (RTP), a que o Expresso teve acesso.

O comunicado acrescenta também que a expulsão dos jornalistas “é um atentado aos princípios fundamentais que norteiam a actividade jornalística” e que, por isso, viola a democracia e o estado de direito.

Presidente da Guiné-Bissau adia visita a Lisboa

Entretanto, o Presidente da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, adiou a visita prevista para a próxima segunda-feira à sede da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, em Lisboa, disse à Lusa fonte oficial da CPLP.

A Guiné-Bissau detém atualmente a presidência da CPLP, que assumiu na cimeira da organização em 18 de julho, na capital guineense.

Uma nota da CPLP informava que na visita – agora adiada – Sissoco tinha previsto ser recebido numa sessão solene pela secretária-executiva, embaixadora Maria de Fátima Jardim, e pelos representantes permanentes dos Estados-Membros junto da comunidade.

Nota: notícia atualizada às 17:22h com a nota de que o Presidente da Guiné-Bissau adiou a visita a Lisboa prevista para segunda-feira, e às 23h10 com as declarações do ministro dos Negócios Estrangeiros guineense.

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