Guerra no Médio Oriente

Israel aprova plano para intensificar guerra em Gaza: é “para salvar Netanyahu e o seu governo” e uma forma de “sacrificar reféns”

Israel aprova plano para intensificar guerra em Gaza: é “para salvar Netanyahu e o seu governo” e uma forma de “sacrificar reféns”
HAITHAM IMAD

O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu afirmou que o plano marca a passagem das “incursões para o método da ocupação do território e da sua permanência”. Ao mesmo tempo que esta proposta foi aprovada, também foi permitido, de novo, o acesso ao conclave da ajuda humanitária

Ministros israelitas concordaram em intensificar a guerra contra o Hamas em Gaza, um plano que inclui conquistar mais território no enclave palestiniano sitiado e convocar dezenas de milhares de soldados da reserva, revelou hoje uma autoridade à agência noticiosa Associated Press (AP).

O plano, que a autoridade avançou que seria gradual, pode marcar uma escalada significativa nos combates em Gaza, que foram retomados em meados de março, depois de Israel e o Hamas não terem conseguido chegar a acordo sobre a possível extensão da trégua de oito semanas.

No domingo, o chefe do Estado-Maior Militar de Israel, Tenente-General Eyal Zamir, já tinha dito que o exército estava a convocar dezenas de milhares de soldados da reserva. Avançou ainda que Israel "operaria em áreas adicionais" em Gaza e continuaria a atacar a infraestruturas militares.

"O gabinete decidiu ontem [domingo] à noite expandir a operação militar dentro de Gaza, não para manter a segurança de Israel, mas para salvar Netanyahu e o seu governo extremista", denunciou Yair Golan, líder dos democratas progressistas, na rede social X.

Hoje o jornal Ahronot noticiou que a expansão das operações em Gaza passa pela ocupação de mais território no enclave e pela deslocação forçada da sua população para sul, onde o exército já ocupou uma grande parte do território ao apoderar-se da cidade de Rafah. A "zona humanitária" de Mawasi (sul), que o exército descreveu como segura para os deslocados, deixou de ser considerada como tal por Israel a 18 de março.

"Estamos a passar do método das incursões para o método da ocupação do território e da sua permanência", declarou o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu durante a reunião, cita o jornal Ahronot.

Esta proposta já foi criticada pelo Fórum das Famílias, uma associação de familiares dos reféns mantidos pelo Hamas em Gaza, que acusou o Governo israelita de pretender sacrificar os sequestrados. Este plano merece o nome de "plano Smotrich-Netanyahu" porque "sacrifica reféns", segundo um comunicado do Fórum, referindo-se à influência do ministro das Finanças (extrema-direita), Bezalel Smotrich, no Governo do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu.

"Esta manhã, o Governo admitiu que está a preferi tomar o território em vez de resgatar os reféns, contrariando os desejos de mais de 70% da população", acrescentou a nota da associação.

Também a diplomacia da União Europeia pediu hoje a Israel contenção. "A União Europeia está preocupada com o prolongamento destas operações em Gaza, que conduzirão a mais vítimas e a mais sofrimento para a população palestiniana", afirmou o porta-voz da Comissão Europeia para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, Anouar El Anouni.

Questionado na conferência de imprensa diária da instituição, em Bruxelas, sobre o novo plano aprovado pelo governo israelita, o responsável instou também Israel a "levantar o bloqueio a Gaza para que a ajuda humanitária possa ser amplamente distribuída, pois a população palestiniana já sofreu o suficiente nos últimos anos e que é tempo de pôr fim à violência e ao sofrimento". "A negociação é o único método, a única forma de avançar para o regresso dos reféns e para o fim de todas as hostilidades", adiantou Anouar El Anouni.

Israel volta a permitir a entrada de ajuda humanitária em Gaza

Este plano surge no mesmo dia em que o gabinete de segurança de Israel, responsável pelo curso da ofensiva em Gaza, aprovou um plano para retomar o acesso de ajuda humanitária que está completamente bloqueado desde 2 de março, informa a imprensa nacional. Este é o maior bloqueio de Israel no enclave desde o início da ofensiva.

De acordo com o diário Yediot Ahronot, alguns ministros opuseram-se à ideia de permitir que alimentos, remédios e outros bens essenciais voltassem a ser distribuídos no território palestiniano após um bloqueio de mais de dois meses.

O ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben Gvir, conhecido por ser ultranacionalista, disse durante a reunião que "não há necessidade de introduzir ajuda [em Gaza]" e que "os armazéns de alimentos do Hamas devem ser bombardeados", provocando o que a imprensa local descreveu como uma discussão acalorada com o chefe do Estado-Maior do Exército, Eyal Zamir.

"[Essa posição] coloca-nos em perigo. O direito internacional existe e vincula-nos. Não podemos matar a Faixa de Gaza de fome. As suas declarações são perigosas", terá dito o chefe do exército, segundo a emissora israelita Canal 12.

Paralelamente, a agência noticiosa AFP dá conta de que o gabinete político de segurança israelita aprovou a possibilidade de "distribuição humanitária, se necessário" na Faixa de Gaza.

Face a esta notícia, o Hamas acusou Israel de usar a ajuda humanitária como meio de "chantagem política" e de ser responsável pela "deterioração da catástrofe humanitária" na Faixa de Gaza. "Rejeitamos o uso de ajuda humanitária como meio de chantagem política", disse em comunicado, acrescentando que “a obstrução contínua à entrada de ajuda” tornou Israel "totalmente responsável pelo agravamento da catástrofe humanitária" no território palestiniano.

Já no domingo, as agências da ONU e organizações não-governamentais (ONG) que trabalham na Faixa de Gaza tinham rejeitado o plano de ajuda humanitária norte-americano e de Israel, alegando que "viola os princípios humanitários fundamentais" e deixará muita gente sem ajuda.

Segundo os representantes das organizações, Israel tenciona encerrar os sistemas de distribuição de ajuda existentes, que são geridos pela ONU e pelos seus parceiros, passando os fornecimentos a ser feitos por centros de distribuição israelitas "sob condições militares israelitas".

Entretanto, e devido à crescente falta de ajuda humanitária, um bebé de quatro meses morreu hoje de desnutrição na Faixa de Gaza, noticiou a imprensa local. O bebé foi identificado pelos meios de comunicação palestinianos como Yusef al-Najjar.

O Ministério da Saúde da Faixa de Gaza, controlado pelo Hamas, declarou que a desnutrição aguda se agravou entre as crianças devido à "política sistemática" do Governo israelita de "matar à fome mais de dois milhões de pessoas", durante uma conferência de imprensa.

As autoridades de Gaza alertaram que uma criança morre a cada 40 minutos no enclave palestiniano devido aos constantes bombardeamentos das tropas israelitas e pediram às organizações humanitárias que "salvem as crianças de Gaza". Um total de 32 pessoas morreu nas últimas 24 horas vítimas de ataques israelitas, indicaram dados do Ministério da Saúde.

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