Exclusivo

Guerra no Médio Oriente

Mahmoud Mushtaha, jornalista de Gaza: “Fui testemunha do genocídio, as crónicas que escrevi são o meu depoimento”

Mahmoud Mushtaha vive no Reino Unido
Mahmoud Mushtaha vive no Reino Unido
D.R.

Do Reino Unido, onde se refugiou após ter coberto a guerra na Faixa de Gaza, o jornalista Mahmoud Mushtaha conta como assumiu a profissão como forma de assegurar que a verdade não é abafada. Critica o Ocidente, as nações árabes e a imprensa israelita pelo papel que têm tido

De uma Gaza reduzida a escombros, o jornalista Mahmoud W. Mushtaha contou durante mais de um ano a mais extrema experiência de aniquilação humana. Os seus textos arrepiantes que mostram a destruição não bastam para pôr travão ao desastre. É preciso algo mais. Por exemplo, mobilizar a opinião pública com histórias do terreno que comuniquem verdades que Israel tenta ocultar, com ajuda do Ocidente. “Fui testemunha do genocídio e as crónicas são o meu depoimento”, afirma ao Expresso. Aos 23 anos, este licenciado em Filologia inglesa está agora a salvo no Reino Unido, onde acaba de publicar o livro “Sobreviver ao genocídio em Gaza” (editora Escritos Contextatarios). É uma seleção de reportagens publicadas na revista espanhola “CTXT”, todos repletos de angústias e sofrimentos, que dão a conhecer a trajetória de sobrevivência de um povo assediado pela barbárie, sem moralismos, mas com toda a crueza.

Na introdução ao seu livro, escreve que os horrores que viveu desafiam a compreensão humana. Sentem-se abandonados pelo mundo?
Gaza não foi simplesmente abandonada pelo mundo. Foi traída e sacrificada. O genocídio não foi apenas obra dos mísseis e bombas israelitas, mas também dos governos, instituições e meios de comunicação que o permitiram e justificaram. Muitos países ocidentais não são espectadores passivos do que está a acontecer. São participantes ativos. Os Estados Unidos e o Reino Unido, em particular, continuam a armar Israel enquanto nós cavamos valas comuns, arrasam os nossos hospitais e deixam crianças morrer à fome sob um assédio deliberado. Essa cumplicidade não se limita à cobertura militar e diplomática. Há uma propaganda desumanizadora que justifica as matanças. Os meios de comunicação ocidentais desempenharam um papel fundamental em tudo isto quando nós, jornalistas palestinianos, estávamos no terreno, a arriscar a vida. Muitos morreram a tentar documentar o horror, ao mesmo tempo que o seu trabalho era desconsiderado, distorcido ou diretamente ignorado. A traição de que falo não se limita ao Ocidente.

Já é Subscritor?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para continuar a ler

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

Comentários
Já é Subscritor?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate