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Guerra no Médio Oriente

“Mais violência e radicalização”: morte de Sinwar pode comparar-se à de bin Laden? É mesmo o início do fim da guerra? (377º. dia de guerra)

Poster com imagem de Yahya Sinwar numa rua em Beirute, no Líbano
Poster com imagem de Yahya Sinwar numa rua em Beirute, no Líbano
Chris McGrath

Os militares israelitas confirmaram que Yahya Sinwar, o líder do Hamas, foi morto na quarta-feira. O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, e Joe Biden concordam que este acontecimento é o ponto de viragem na guerra. Mas será assim? Os analistas explicam, no 377º. dia de guerra, quem era o homem que liderava o grupo palestiniano e os efeitos que a sua eliminação poderá provocar em todo o Médio Oriente

Israel “não vai parar a guerra”. As palavras do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, eram ansiadas desde que surgiram esta tarde as primeiras notícias de que o líder do Hamas, Yahya Sinwar, teria sido executado. Netanyahu não só confirmou a morte do mentor intelectual do 7 de Outubro, como avisou: “A tarefa que temos pela frente ainda não está concluída.”

O Hamas “sofreu um rude golpe”, e a morte de Sinwar será mesmo o “início do fim” da guerra, vincou o primeiro-ministro israelita. "Demonstramos hoje que é isto que acontece a todos aqueles que nos tentam prejudicar. E como as forças do bem podem sempre vencer as forças do mal e das trevas. A guerra ainda está em curso e é dispendiosa. Temos de manter-nos resilientes e firmes no terreno, continuar a lutar.”

A guerra não está terminada, e Netanyahu fez ainda referência aos combates em Rafa, em Gaza. Dirigindo-se às famílias dos reféns ainda retidos em Gaza, o líder israelita prometeu que o Estado hebraico prosseguirá com “todas as forças” até que as pessoas em cativeiro sejam levadas para casa. “É o nosso compromisso”, reafirmou. “Às queridas famílias de reféns, digo: este é um momento importante na guerra. Continuaremos em força até que todos os seus entes queridos, os nossos entes queridos, estejam em casa.”

De acordo com Netanyahu, a morte de Sinwar determina “o fim do governo maléfico" do Hamas. “Digo-vos de forma clara: o Hamas já não governará a Faixa de Gaza.”

Bruce Maddy-Weitzman, perito em estudos do Médio Oriente na Universidade de Telavive, discorda: “Não há dúvida de que a eliminação de Sinwar é um grande golpe para o Hamas. Ninguém entre os seus associados seniores que ainda estão em Gaza tem a sua experiência e capacidade de liderança. Mas isto não significa que a vitória completa e total sobre o Hamas seja iminente ou sequer alcançável. A liderança veterana do Hamas, sediada no Catar, irá provavelmente tentar assumir um papel mais importante para garantir a sobrevivência do Hamas.”

Ainda que este acontecimento possa abrir caminho a um acordo que libertaria os reféns e para a libertação dos prisioneiros do Hamas nas prisões israelitas, a possibilidade de os reféns poderem ser sumariamente executados por “homens do Hamas irritados com a morte do seu líder” também se coloca, salienta Bruce Maddy-Weitzman, em declarações ao Expresso. “Não é claro se Israel irá sequer procurar tal acordo. Portanto, a situação é fluída e incerta.”

O Fórum de Reféns e Famílias Desaparecidas, de Israel, reagiu, no entanto, saudando as autoridades israelitas pela execução do líder do grupo terrorista. Em comunicado, aquele fórum afirma que se “congratula com a eliminação de Yahya Sinwar e apela a aproveitar esta importante conquista para garantir o regresso dos reféns”.

Joe Biden foi mais longe, considerando mesmo que a morte de Yahya Sinwar é um acontecimento da mesma ordem de grandeza da eliminação de Osama bin Laden, em 2011, no Paquistão, onde se escondia. “Para os meus amigos israelitas, este é sem dúvida um dia de alívio e reminiscências, semelhante às cenas testemunhadas nos Estados Unidos depois de o Presidente Obama ter ordenado o ataque para matar Osama Bin Laden, em 2011”, comparou o Presidente norte-americano. Naquela data, a execução de bin Laden provocou um enfraquecimento da organização jihadista, que até hoje se debate com dificuldades para revigorar a estrutura.

Mas, para compreender a importância desta figura do Hamas para o conflito abrangente do Médio Oriente - e para aferir se a comparação fará sentido -, torna-se necessário conhecer o seu historial e os seus ideais.

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