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Guerra no Médio Oriente

“Uma guerra com Israel não tem apoio popular no Irão”, diz o opositor Taghi Rahmani, marido de Narges Mohammadi, Nobel da Paz em 2023

Taghi Rahmani vive exilado em França com os filhos gémeos adolescentes
Taghi Rahmani vive exilado em França com os filhos gémeos adolescentes
Gorka Castillo

Ativista pelos direitos humanos, preso durante anos, como agora sucede à sua mulher, Taghi Rahmani escolheu deixar o Irão com os seus filhos. Nesta entrevista, enquanto promove o livro da Nobel da Paz do ano passado, fala da guerra em curso e dos desejos de liberdade no seu país

Há uma característica comum às vidas do intelectual iraniano Taghi Rahmani e da sua mulher, Narges Mohammadi, galardoada com o prémio Nobel da Paz, no ano passado, graças à sua luta a favor das mulheres iranianas. A palavra ‘prisão’ repete-se nas suas biografias. Taghi passou 14 anos nos calabouços do regime islamita. Narges está há 13 na cadeia de Evin, uma das mais sinistras do país.

Há oito anos, Rahmani partiu para o exílio em Paris com os seus dois filhos gémeos, Kiana e Ali. Desde então, não voltaram a ver a mãe. Há dois anos que “não ouvem a sua voz”. Narges Mohammadi não tem autorização para lhes telefonar. Taghi Rahmani acaba de visitar Espanha para apresentar o livro que a Nobel da Paz escreveu — “Tortura Branca. Entrevistas com mulheres iranianas encarceradas” — e participar num ato organizado pela Amnistia Internacional e outras associações humanitárias, em memória do segundo aniversário dos protestos gerados pela morte de Yina Mahsa Amini sob custódia policial. Esta jovem curda fora detida em Teerão por ter o véu islâmico mal colocado.

A poeta Forugh Farrokhzad ousou desafiar os estereótipos sobre a mulher no Irão do xá e volta hoje a inspirar quem combate a ultraconservadora República Islâmica. As mulheres são a vanguarda mobilizadora do país?
Farrokhzad é uma inspiração para todos. Foi das poucas poetisas que falaram dos sentimentos da mulher nas suas obras, quando muito poucas pessoas se atreviam a fazê-lo em público. Deu-lhes voz. Hoje, os artigos sobre a sua figura voltam a estar presentes em jornais, revistas de literatura e no âmbito universitário. O regime não entende os motivos da sua inspiração e do seguimento por muitas iranianas, que fazem parte do movimento revolucionário ‘Mulher, Vida, Liberdade’. São a referência da luta contra um regime que impõe normas e leis medievais. Note-se que estudar, para as iranianas, é a única forma de sair de casa, onde o regime quer confiná-las. A sociedade mudou muito nos últimos anos. A mulher é a vanguarda opositora no Irão.

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