Guerra no Médio Oriente

Autoridade Palestiniana pede o fim do envio de armas para Israel, Telavive anuncia novo pacote de ajuda militar dos EUA (dia 356º de guerra)

O Presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, discursa na perante a Assembleia Geral da ONU
O Presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, discursa na perante a Assembleia Geral da ONU
REUTERS/ Brendan McDermid

O Presidente da Autoridade Palestiniana instou os países da ONU a deixarem de fornecer armas a Israel. Enquanto, Telavive anunciou uma nova ajuda de 5,2 mil milhões de dólares, que irá reforçar os sistemas de defesa antiaérea, e junta-se aos mais de três mil milhões de dólares de assistência militar que Israel recebe anualmente no âmbito de um acordo de 10 anos com Washington, que entrou em vigor em 2019

O Presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, pediu esta quinta-feira nas Nações Unidas o fim do “genocídio” em Gaza e do envio de armamento para Israel. Durante o discurso advogou que Israel não “merece” ser membro da ONU por não respeitar as resoluções daquela organização.

“Parem o genocídio. Parem de enviar armas para Israel. (…) Parem de matar crianças e mulheres”, instou Abbas perante a Assembleia-Geral da ONU, quase um ano após o início da campanha militar israelita na Faixa de Gaza. “Esta loucura tem de parar. O mundo inteiro é responsável pelo que a nossa população está a sofrer em Gaza e na Cisjordânia”, acusou ainda.

O líder palestiniano, que foi recebido com aplausos da maioria dos presentes na Assembleia, atacou Israel durante o seu discurso, acusando mais uma vez Telavive de “ocupação” e “genocídio” nos territórios palestinianos.

A reação de Israel foi rápida, através do seu novo embaixador nas Nações Unidas. “Abbas falou durante 26 minutos sem pronunciar uma só vez a palavra 'Hamas'. Desde o massacre de 7 de outubro, Abbas não condenou o Hamas pelos seus crimes contra a humanidade”, atacou Danny Danon num comunicado. O diplomata israelita acusou a Autoridade Palestiniana, sob o comando de Abbas, de “pagar os salários dos terroristas que matam israelitas”.

O apelo de Autoridade Palestiniana surge no mesmo dia em que Israel anunciou novo pacote de ajuda militar norte-americana. O Ministério da Defesa israelita anunciou um novo pacote de ajuda norte-americano, no valor de 8,7 mil milhões de dólares (7,7 mil milhões de euros) “em apoio do esforço militar contínuo de Israel”.

As negociações entre Israel e os Estados Unidos foram concluídas em Washington e dizem respeito à libertação de 3,5 mil milhões de dólares (3,1 mil milhões de euros) para a compra de materiais e equipamentos de guerra, e 5,2 mil milhões de dólares (4,6 mil milhões de euros) destinados a sistemas de defesa antiaérea, incluindo a Cúpula de Ferro, de acordo com um comunicado do Ministério da Defesa.

Estados Unidos insistem em proposta de uma trégua no Líbano, enquanto ministros israelitas e Netanyahu rejeitam completamente a possibilidade

O secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, insistiu que a proposta de uma trégua de 21 dias na fronteira israelo-libanesa é a única forma de “encontrar uma solução diplomática” para o conflito entre Israel e o Hezbollah. Uma solução diplomática seria também “a melhor forma” de garantir que os libaneses e israelitas que tiveram de abandonar as suas casas perto da fronteira possam regressar.

O secretário de Estado sublinhou que a diplomacia apelou ainda a Israel para não cair na "armadilha" do Irão, aliado do Hezbollah no Líbano e do Hamas na Faixa de Gaza. O Governo iraniano está a tentar "mergulhar Israel em várias guerras de desgaste, seja no norte do Líbano, em Gaza ou noutros locais da região", disse em entrevista à estação televisiva MSNBC a partir de Nova Iorque, onde participa na 79.ª Assembleia-Geral da ONU.

O gabinete do primeiro-ministro israelita negou hoje relatos de que poderia aceitar a proposta de cessar-fogo e disse que os combates vão continuar. O gabinete de Netanyahu disse que o primeiro-ministro “deu instruções às Forças Armadas para continuarem os combates com toda a força e de acordo com os planos apresentados” e reiterou que “os combates em Gaza continuarão até que todos os objetivos da guerra sejam alcançados”.

Vários ministros israelitas recusaram também a proposta de cessar-fogo. O ministro dos Negócios Estrangeiros, Israel Katz, garantiu que continuarão “a lutar contra o grupo terrorista Hezbollah com toda a força até à vitória e ao regresso dos habitantes do norte às suas casas em segurança". Enquanto o ministro de extrema-direita israelita Itamar Ben Gvir ameaçou boicotar o trabalho do Governo se Israel aceitar um cessar-fogo temporário.

Por outro lado, o primeiro-ministro libanês, Nagib Mikati, desmentiu ter assinado um acordo de cessar-fogo para o Líbano depois de se ter reunido com o chefe da diplomacia norte-americana, Antony Blinken, com quem discutiu a proposta de uma trégua, noticiou a imprensa libanesa. O gabinete do primeiro-ministro libanês acrescentou que Mikati apenas acolheu imediatamente a iniciativa conjunta dos Estados Unidos e da França sobre uma proposta de cessar-fogo.

OUTRAS NOTÍCIAS QUE MARCARAM O DIA:

⇒ O Hezbollah declarou ter disparado 80 'rockets' sobre a cidade de Safed, no norte de Israel, em retaliação aos ataques israelitas ao Líbano. O grupo pró-iraniano reivindicou também o lançamento de rajadas de projéteis e de 'drones' contra várias povoações e alvos militares no norte de Israel.

⇒ Israel efetuou esta quinta-feira um total de 115 ataques aéreos no Líbano, provocando pelo menos 60 mortos no sul e leste do país, mas também num bairro de Beirute, segundo o Ministério da Saúde Pública libanês.

⇒ O Governo da Síria comprometeu-se a tomar as medidas necessárias para acolher e assistir todas as pessoas que atravessam a fronteira sírio-libanesa para fugir aos ataques de Israel, noticiou a agência síria Sana. Fontes da segurança síria disseram que mais de 22.000 pessoas, maioritariamente sírios, entraram na Síria desde segunda-feira. Por sua vez, o Governo libanês avançou hoje que mais de 31 mil pessoas atravessaram a fronteira sírio-libanesa nos últimos dois dias.

⇒ O exército israelita reivindicou a morte do chefe da unidade de 'drones' do Hezbollah, Mohammed Srour, num ataque em Beirute que as autoridades libanesas disseram ter provocado dois mortos e 15 feridos. Uma fonte próxima do grupo libanês tinha afirmado anteriormente que o comandante do Hezbollah tinha sido alvo de um ataque israelita, sem especificar se estava entre as vítimas.

⇒ Pelo menos 23 cidadãos sírios residentes no Líbano foram mortos na sequência de um ataque aéreo israelita que também fez oito feridos na quarta-feira, noticiou a agência noticiosa estatal libanesa. O ataque ocorreu perto da antiga cidade de Baalbek, no Vale de Bekaa, no leste do país, ao longo da fronteira com a Síria.

⇒ O Alto Representante da União para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança disse, em nome dos 27 Estado-membros, estar “extremamente preocupado” com as tensões militares entre Israel e o Hezbollah no Líbano, alertando que uma nova escalada “teria consequências dramáticas” na região. “Lamentamos o pesado preço pago pelos civis, incluindo crianças e pessoal das Nações Unidas e apelamos ao respeito do Direito Internacional Humanitário em todas as circunstâncias”, afirma Josep Borrell.

⇒ O comandante da Força Aérea israelita disse que as suas unidades estão a preparar-se para apoiar uma operação terrestre no Líbano, com vista a degradar o grupo xiita Hezbollah e interromper o abastecimento de armas do Irão.

⇒ Mais de 1.200 pessoas morreram e quase 5.800 ficaram feridas no Líbano desde o início dos confrontos entre Israel e o Hezbollah, em 8 de outubro de 2023, divulgou o Governo libanês. “Quanto aos deslocados, 52.900 pessoas estão agora alojadas em 360 abrigos, a maioria em instituições de ensino e escolas públicas”, disse Nasser Yassin, ministro do Ambiente libanês e coordenador do plano de emergência do Governo para lidar com o desastre.

⇒ O Exército israelita anunciou ter atacado na noite de quarta-feira 75 alvos militares do movimento Hezbollah no sul do Líbano e na região de Bekaa, no leste, “incluindo depósitos de munições, lançadores prontos a disparar (contra o território israelita), edifícios militares, terroristas e infraestruturas terroristas”, indicaram os militares de Israel em comunicado.

⇒ O Qatar, um dos mediadores da proposta de cessar-fogo em Gaza, disse desconhecer uma ligação direta entre as negociações para uma trégua na Faixa de Gaza e os esforços internacionais para um cessar-fogo entre Israel e o Hezbollah no Líbano. É “demasiado cedo” para falar de um “caminho de mediação formal” nas conversações entre Israel e o Hezbollah, afirmou disse o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros do Qatar, Majed al-Ansari, durante uma conferência de imprensa em Doha. Sublinhou ainda que “todos os canais de comunicação permanecem abertos” e que continuarão os esforços para atingir tréguas em Gaza.

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