Líder da oposição israelita pede acordo para salvar restantes reféns, negociações prosseguem no Catar (guerra, dia 326)
Kaid Farhan al-Kadi, pertencente à minoria árabe beduína de Israel, é o oitavo refém resgatado
Exército de Israel/EPA
Yair Lapid congratulou as forças israelitas pelo resgate de um homem de 52 anos no sul da Faixa de Gaza, mas defendeu que as incursões militares no enclave palestiniano não são a solução para trazer os outros prisioneiros de volta. Entretanto, uma delegação de Telavive estará em Doha na quarta-feira para mais uma ronda negocial com os mediadores internacionais
O anúncio do resgate do oitavo refém que estava nas mãos do Hamas desde 7 de outubro mergulhou Israel num ambiente de celebração e deu a Benjamin Netanyahu material para refrear os ânimos dos familiares dos israelitas que permanecem em cativeiro, e que têm realizado diversos protestos contra o seu Executivo, queixando-se de “abandono” por parte do primeiro-ministro, que muitos dizem não estar verdadeiramente interessado num acordo para um cessar-fogo em Gaza.
Contudo, a “operação militar complexa” levada a cabo pelas Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) em conjunto com o serviço de segurança interna Shin Bet em Rafah, no sul da Faixa de Gaza, não é a melhor estratégia para recuperar os restantes reféns israelitas, de acordo com o líder da oposição.
Yair Lapid felicitou as forças israelitas pela intervenção que permitiu resgatar Kaid Farhan al-Qadi, um árabe beduíno de 52 anos, mas frisou que não é possível executar ações semelhantes para recuperar os mais de 100 prisioneiros na posse do Hamas.
“Não vamos conseguir resgatar 108 reféns em operações especiais. Eles não têm tempo. Temos de fazer um acordo e trazê-los de volta a casa, agora”, apelou Lapid numa publicação na rede social X.
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Também o Fórum das Famílias de Reféns e Desaparecidos, organização que representa os familiares dos israelitas sequestrados a 7 de outubro, aplaudiu o mais recente resgate, mas sublinhou a necessidade de um acordo de cessar-fogo para viabilizar a libertação dos restantes reféns, de acordo com a Lusa.
Esta é uma das questões centrais nas negociações neste momento, de acordo com o porta-voz da Segurança Nacional da Casa Branca. Na segunda-feira, John Kirby revelou que as conversações entre Israel e o Hamas estão a ficar “mais focadas” nos pormenores para a troca de reféns e prisioneiros. Segundo o alto responsável norte-americano, citado pela Lusa, estará em cima da mesa “uma possível troca de prisioneiros palestinianos detidos em Israel em contrapartida pela libertação de todos os reféns capturados pelo Hamas desde o ataque de 7 de outubro”.
Depois da última ronda de negociações, concluída sem sucesso a 25 de agosto, vários grupos de trabalho representantes das partes têm continuado a trabalhar no acordo no Cairo, estando as reuniões de alto nível suspensas por agora. Porém, as conversações envolvendo altos funcionários deverão ser retomadas na quarta-feira, avançou o Axios, com base em declarações de funcionários israelitas. A mesma informação foi adiantada pela Israeli Public Broadcasting Corporation.
Segundo o jornal digital, uma delegação israelita composta por “funcionários de alto nível” da Mossad (serviços secretos), do Shin Bet e das forças armadas viajarão até Doha, no Catar, para dar seguimento ao diálogo com responsáveis dos mediadores, EUA, Catar e Egito, “para colmatar as lacunas que ainda persistem” na proposta de cessar-fogo atual.
⇒ As autoridades israelitas aumentaram significativamente o número de ordens de evacuação emitidas no último mês, afirmou o porta-voz do Gabinete da ONU para os Assuntos Humanitários (OCHA, no acrónimo em inglês). Segundo Jen Laerke, citado pelo ‘The Guardian’, em agosto houve 16 ordens de evacuação no total, três só na sexta-feira passada, que afetaram oito mil pessoas. “Apenas 11% do território da Faixa de Gaza não está sob ordens de evacuação”, lamentou.
⇒ A ONU foi forçada a suspender grande parte das operações humanitárias na Faixa de Gaza devido às ordens de evacuação emitidas para Deir al-Balah, no centro do enclave palestiniano, escreveu o ‘The Guardian’. A cidade, que tinha previamente sido designada como “zona humanitária” por Israel, acolhia várias instalações frequentadas por funcionários da ONU, como quatro armazéns, o hospital de al-Aqsa e duas clínicas. Nos últimos dias, tem sido um alvo constante dos bombardeamentos israelitas, forçando milhares de palestinianos, muitos deles já deslocados, a fugir.
⇒ Colonos israelitas invadiram na noite passada a aldeia de Wadi Rahal, na Cisjordânia ocupada, noticiou a Al Jazeera. Desde o 7 de outubro que os ataques de colonos a territórios habitados por palestinianos se têm multiplicado, verificando-se igualmente um aumento da violência com que são conduzidos. Segundo a estação de televisão, isto deve-se a uma maior permissividade do Governo de Israel, nomeadamente do ministro ultraortodoxo Itamar Ben-Gvir, face à posse de armas por parte dos colonos.