Guerra no Médio Oriente

Israel inicia terceiro assalto a Khan Yunis, mata 14 civis, dois dos quais jornalistas e provoca novo êxodo: o dia 308.º de guerra

Uma equipa de resgate conduz operações de busca após os ataques israelitas em Khan Yunis
Uma equipa de resgate conduz operações de busca após os ataques israelitas em Khan Yunis
Doaa Albaz/Anadolu

As tropas israelitas iniciaram a terceira incursão em Khan Yunis, onde os aviões atingiram 30 alvos do Hamas e procuram túneis e infraestruturas utilizadas pelo grupo. O último ataque à cidade no sul da Faixa de Gaza, em julho, deixou-a totalmente arrasada

Um ataque militar israelita na Faixa de Gaza matou esta sexta-feira 14 civis, dois dos quais jornalistas. Os cadáveres e uma quantidade indeterminada de feridos foram transportados para o complexo médico Nasser, em Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza, depois de bombardeamentos israelitas sobre várias partes da cidade, informou a agência noticiosa palestiniana Wafa.

Em comunicado, o Hamas identificou dois jornalistas entre os mortos: "O criminoso exército de ocupação sionista matou dois jornalistas palestinianos, Tamim Muamar e Abdallah al-Susi, juntamente com vários membros das suas famílias, nos ataques na cidade de Khan Yunis".

Cinco civis foram mortos, entre as quais Muamar, que trabalhava para a Palestine Voice Radio e Palestine TV, e outros ficaram feridos quando a casa da família do jornalista foi atacada, no centro de Khan Yunis, detalhou a Wafa.

Alegando a presença de milicianos, as tropas de Israel iniciaram esta madrugada uma nova incursão em Khan Yunis. A ordem de retirada da população emitida pelos israelitas originou num novo êxodo de palestinianos dos já devastados distritos leste de Khan Yunis, para onde muitos civis tinham acabado de regressar há menos de duas semanas, após a última incursão israelita na cidade, em julho.

Segundo a agência da ONU para a coordenação de assuntos humanitários [OCHA, na sigla em Inglês], cerca de 200 mil pessoas foram retiradas de Khan Yunis entre 22 e 27 de julho, durante a última incursão terrestre do Exército israelita, que deixou grande parte da cidade totalmente arrasada.

Os habitantes são obrigados a deslocar-se para uma zona dita humanitária, em Mawasi, que está cada vez mais reduzida e que, em todo o caso, já foi alvo de bombardeamentos e onde centenas de milhares de palestinianos se acumulam em um emaranhado de tendas e com condições de subsistência paupérrimas.

O levantamento de vítimas, feito há 24 horas pelo Ministério da Saúde da Faixa de Gaza, quantificava os mortos em 39.699, dos quais 167 jornalistas e profissionais do setor, e 91.722 feridos. A grande maioria destas vítimas respeita a mulheres e crianças.

A estes números acrescem dez mil desaparecidos sob os escombros e 1,9 milhões de deslocados, que sobrevivem sem condições, por entre uma destruição generalizada, o colapso dos hospitais, os surtos de epidemias, a fome e a falta de água potável, alimentos e medicamentos.

OUTRAS NOTÍCIAS QUE MARCARAM O DIA:

⇒ Um ataque de 'drone', atribuído a Israel, matou Samer al Hajj, líder do Hamas no campo de refugiados de Ain el Helu, no Líbano, quando viajava na cidade de Sidon, localizada a mais de 50 quilómetros da fronteira com Israel, informou a agência de notícias estatal libanesa.

⇒ O Exército israelita divulgou imagens de um túnel de vários andares, com cerca de três quilómetros de comprimento, encontrado por militares na Faixa de Gaza e que afirma ter sido usado por militantes do Hamas. Também acrescentaram que os seus aviões atingiram 30 alvos do Hamas, e que as tropas procuram túneis e outras infraestruturas nesta terceira ofensiva na cidade de Khan Yunis.

⇒ A Guarda Revolucionária iraniana reforçou a sua força naval com milhares de mísseis de cruzeiro e 'drones' (aeronaves não-tripuladas), num contexto de tensão no Médio Oriente. Numa cerimónia presidida pelo comandante-supremo da Guarda Revolucionária, o major-general Hossein Salami, foram adicionados 2.640 sistemas de mísseis, 'drones' e outros equipamentos à força naval daquela unidade militar de elite, informou a agência noticiosa Tasnim.

Portugal, Espanha, Alemanha e França reúnem-se para demonstrar o apoio à mediação dos Estados Unidos, Qatar e Egito para alcançar um acordo de cessar-fogo e libertação dos reféns, numa altura em que os EUA garantiram estar na reta final. "O Governo português apoia convicta e ativamente o apelo conjunto do Presidente dos EUA, do Presidente do Egito e do Emir do Qatar para finalizar as negociações do acordo de cessar-fogo no conflito de Gaza", afirma o Ministério dos Negócios Estrangeiros numa publicação na rede social X.

⇒ Quatro ataques atribuídos aos rebeldes xiitas iemenitas Huthis visaram um petroleiro de bandeira da Libéria no Estreito de Bab el-Mandeb, na estratégica região do Mar Vermelho, anunciaram duas agências marítimas.

⇒ O Líbano advertiu que "não existe margem para mais demoras" e exortou à conclusão de um acordo de cessar-fogo em Gaza na reunião prevista para 15 de agosto, enquanto planeia apresentar uma proposta paralela, que não revelou.

⇒O alto-comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Turk, manifestou-se "chocado" pelas declarações do ministro das Finanças israelita de extrema-direita, Bezalel Smotrich, que admitiu matar à fome os habitantes da Faixa de Gaza. “Provocar a fome a civis como método de guerra é um crime de guerra", declarou o seu porta-voz, Jeremy Laurence, ao sublinhar que "esta declaração pública arrisca-se a incitar que se cometam outros crimes atrozes".

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