Hezbollah e o Irão estão “obrigados a ripostar” contra Israel, mas a expectativa de retaliação “faz parte do castigo”: o dia 305.º de guerra
O líder do Hezbollah no Líbano, Hassan Nasrallah, durante o discurso que foi transmitido na televisão
Chris McGrath/ Getty Images
Hezbollah garante que vai ripostar “sozinho ou no âmbito de uma resposta unificada” e diz que a expectativa de uma retaliação pelos ataques israelitas “faz parte do castigo, faz parte da resposta, faz parte da batalha" contra Israel. Por seu lado, o executivo do Líbano teme uma escalada da guerra e adverte que “agora e depois da extensão dos ataques israelitas no Iraque e em Teerão (...) a decisão já não é só libanesa”
O líder do Hezbollah no Líbano, Hassan Nasrallah, afirmou esta terça-feira que a sua formação xiita e o Irão estão “obrigados a ripostar” contra Israel “para além das consequências”, após os recentes assassinatos de dois dirigentes do Hamas e do Hezbollah.
O discurso do chefe da poderosa formação político-militar pró-iraniana, transmitido em direto pela televisão, surge num momento em que se intensificam os receios de um agravamento das tensões regionais entre o Irão e seus aliados, e Israel, e quando o sangrento conflito na Faixa de Gaza se prolonga há quase dez meses.
Hassan Nasrallah afirmou que o Hezbollah vai ripostar “sozinho ou no âmbito de uma resposta unificada de todo o eixo” da resistência, dirigido por Teerão e que agrupa os seus aliados na região, mas recusou referir se o eventual ataque do Irão e aliados contra Israel decorrerá em simultâneo. O chefe do Hezbollah afirmou que "a expectativa israelita [de um ataque], que se prolonga há uma semana, faz parte do castigo, faz parte da resposta, faz parte da batalha".
Pouco antes do início do discurso de Nasrallah, a aviação israelita efetuou por duas vezes manobras de intimidação nos céus de Beirute e em diversas regiões libanesas ao ultrapassar a barreira do som, com o ruído supersónico a provocar o pânico entre a população, indicou a agência noticiosa AFP. Uma fonte da segurança libanesa também indicou que seis combatentes do Hezbollah foram mortos em dois ataques israelitas no sul do Líbano.
Ainda esta terça-feira, o lançamento de 'drones' e mais de 30 foguetes por parte do Hezbollah fez 19 feridos no norte de Israel, segundo as autoridades israelitas.
Líbano pede maior apoio árabe para evitar escalada
O ministro dos Negócios Estrangeiros libanês, Abdullah Bou Habib, apelou a um maior apoio económico e político árabe ao seu país, perante um possível prolongamento da guerra no Médio Oriente.
Numa conferência de imprensa no Cairo, ao lado do seu homólogo egípcio, Badr Abdelatty, Bou Habibi pediu que o Egito "continue a apoiar o Líbano no que está por vir", especialmente ao agir como um 'guarda-chuva' de proteção árabe para o Líbano "face aos planos agressivos de Israel para prolongar a guerra". Defendeu ainda que alcançar uma trégua em Gaza será "o primeiro passo para proteger toda a região das repercussões de uma guerra abrangente".
"Quando Israel bombardeava apenas o Líbano, falámos com o Hezbollah para uma resposta que não levasse a uma guerra, mas agora e depois da extensão dos ataques israelitas no Iraque e em Teerão (...) a decisão já não é só libanesa", argumentou o ministro libanês.
Por seu lado, o ministro dos Negócios Estrangeiros egípcio reafirmou o apoio e solidariedade do seu país para com o Líbano e assegurou que o Cairo não poupará esforços e "continuará a trabalhar com os seus parceiros regionais e internacionais para travar a escalada". Abdelatty condenou a "política de assassínios" e a "falta de respeito pela soberania dos países".
Depois de alertar que "esta política só levará a mais violência, e a um possível descontrolo da situação", Abdelatty garantiu que o Cairo continuará os seus "intensos contactos" com os Estados Unidos e o Qatar -- outros mediadores na guerra de Gaza -- "para evitar uma guerra regional".
OUTRAS NOTÍCIAS QUE MARCARAM O DIA:
⇒ O Hamas anunciou que o seu chefe em Gaza, Yahya Sinwar, foi designado como novo líder político do movimento, uma semana após o assassínio em Teerão do seu antecessor, Ismail Haniyeh.
Yahya Sinwar, novo líder político do Hamas
REUTERS/ Mohammed Salem
⇒ O Presidente norte-americano, Joe Biden, apelou ao rei da Jordânia Abdullah II para coordenar os esforços para "reduzir as tensões" no Médio Oriente. Biden, que se reuniu com uma equipa de Segurança Nacional na sala de crise da Casa Branca, agradeceu a Abdullah II a sua amizade e sublinhou que os Estados Unidos consideram a Jordânia um parceiro e um principal aliado para promover a paz e a segurança no Médio Oriente.
⇒ Biden também analisou com o seu homólogo egípcio, Abdel Fattah al-Sisi, e com o emir do Qatar, Tamim Bin Hamad al Thani, os esforços para "baixar as tensões" no Médio Oriente e reconheceu o papel especial de ambos na tentativa de mediação entre as partes para atingir um acordo de cessar-fogo em Gaza, bem como a "urgência" de avançar e concluir um processo de negociações "o mais rapidamente possível".
⇒ Sete israelitas ficaram feridos, um deles gravemente, pelo impacto de estilhaços numa localidade próxima de Nahariya, no norte do país, após a queda de um míssil israelita que falhou na interceção de um 'drone' disparado pelo Hezbollah. Fontes israelitas referiram que o aparelho não tripulado disparado pelo grupo xiita libanês tinha como alvo uma base militar na zona.
⇒ Pelo menos nove palestinianos e quatro libaneses morreram nas últimas 24 horas em vários ataques do exército de Israel na Cisjordânia ocupada e no sul do Líbano, de acordo com o Crescente Vermelho Palestiniano e o Ministério da Saúde palestiniano em Ramallah, tutelado pela Autoridade Palestiniana. Por seu lado, o exército israelita declarou ter efetuado ataques aéreos contra "células terroristas armadas" na região de Jenin, sem fornecer qualquer informação sobre o número de mortos.
⇒ O alto representante da União Europeia (UE) para os Negócios Estrangeiros e de Segurança, Josep Borrell, alertou que o aumento da tensão está a deixar o Médio Oriente à beira de uma "guerra de proporções desconhecidas". Numa mensagem publicada na rede social X, Borrell pediu um cessar-fogo imediato em Gaza e que se evite uma catástrofe.
⇒ O exército israelita reclamou a autoria da morte de cerca de 45 alegados militantes palestinianos nas últimas 24 horas na Faixa de Gaza, incluindo um comandante do Hamas. Em comunicado, o exército de Israel descreve que o comandante, identificado como Mohamed Mahasneh, supervisionava principalmente o transporte de material militar por mar, mas também estava envolvido no tráfico através de túneis e passagens de fronteira.
⇒ O secretário de Estado, Antony Blinken, garantiu que os Estados Unidos estão a fazer tudo para evitar o risco de confronto militar entre o Irão e Israel, desde o assassínio do líder do Hamas, Ismail Haniyeh, atribuído às forças israelitas. "A escalada não é do interesse de ninguém. Só pode levar a mais conflitos, violência e insegurança. É por isso crucial que quebremos este ciclo conseguindo um cessar-fogo em Gaza", apelou o chefe da diplomacia norte-americana, em declarações aos jornalistas.
⇒ "Cinco soldados norte-americanos e dois funcionários ficaram feridos no ataque, durante o qual dois 'rockets' atingiram a base aérea Al-Assad", no Iraque, disse um responsável da defesa norte-americana, dias depois de quatro combatentes iraquianos pró-Irão terem sido mortos. O Pentágono atribuiu o ataque às "milícias alinhadas com o Irão". Face ao ataque, o secretário da Defesa norte-americano, Lloyd Austin, e o seu homólogo israelita, Yoav Gallant, concordaram, durante uma entrevista telefónica, que se tratava de uma "escalada perigosa".
⇒ A última pessoa desaparecida em Israel após o ataque do Hamas, em 7 de outubro, foi confirmada como morta após uma "extensa investigação", revelaram as forças israelitas. "Os representantes das Forças Armadas de Israel (IDF) informaram oficialmente a família de Bilha Yinon que ela já não está viva", referiram as forças israelitas, em comunicado divulgado na rede social Telegram. Detalharam ainda as IDF, acrescentando que a morte ocorreu no dia no ataque do Hamas contra Israel.
⇒ O exército iraquiano condenou o "imprudente" ataque com foguetes que na segunda-feira à noite atingiu a base aérea de Ain al-Assad, que abriga conselheiros militares dos Estados Unidos. Num comunicado, o exército advertiu que este tipo de ação "pode aumentar a tensão" no Oriente Médio num momento de risco de escalada regional. O ataque foi reivindicado pelo al-Thawrayun, um grupo com ligações ao porta-estandarte da Resistência Islâmica no Iraque, a poderosa milícia pró-iraniana Kataib Hezbollah.
⇒ O exército israelita anunciou estarem suspensas as operações na totalidade da rota de apoio humanitário no extremo sudeste da Faixa de Gaza, após um ataque com mísseis antitanque contra os soldados que estavam próximos dessa via. Um oficial médico e um paramédico ficaram gravemente feridos no ataque, confirmaram à agência noticiosa EFE as forças armadas, que, em comunicado, referem vários feridos "em diferentes graus", tendo todos sido levados para um hospital.
⇒ O porta-voz do Departamento de Estado, Matthew Miller, frisou que "é importante que todas as partes tomem medidas nos próximos dias para evitar a escalada e acalmar as tensões”. Miller não confirmou se os Estados Unidos têm informações de que o ataque iraniano poderá ocorrer nas próximas 24 horas e limitou-se a dizer que tal agressão não deveria ocorrer.