Tal como prenunciado, em várias ocasiões, pelo ministro da Defesa de Israel, as tropas israelitas continuam a intensificar as manobras militares em Rafah, cidade no sul do enclave palestiniano que, desde 6 de maio, se tornou no centro da ofensiva israelita em Gaza e de onde terão fugido cerca de 900 mil pessoas do 1,4 milhão que ali se tinha refugiado.
Esta quinta-feira, o exército israelita avançou no sudeste de Rafah, aproximou-se do distrito de Yibna, no oeste da cidade, e continuou as manobras em três subúrbios do leste, segundo disseram alguns residentes à Reuters.
Durante uma visita à costa de Gaza, Yoav Gallant voltou a afirmar que Israel está empenhado nas suas operações militares em Rafah. “Esta ação vai continuar, com mais forças terrestres, mais forças aéreas, e vamos atingir os nossos objetivos”, declarou, citado pela Al Jazeera.
Também no norte, as forças de Telavive têm levado a cabo vários ataques aéreos e terrestres, nomeadamente um assalto à cidade de Jenin, na Cisjordânia ocupada, que durou dois dias. “Cada vez que eles vêm a Jenin, ela é destruída”, disse à AFP Fayza Abu Qutna, 60 anos, que reside ali há décadas. “Vivemos na tristeza, vivemos na miséria.”
Igualmente grave tem sido o cerco ao Hospital Al-Awda, iniciado a 19 de maio. As instalações têm sido sucessivamente visadas pelo exército israelita e vários médicos prometeram ficar com os pacientes que se encontram presos lá dentro até que seja possível uma evacuação em segurança, relatou Tareq Abu Azzoum, da Al Jazeera.
Ao mesmo tempo que Israel expande a sua área de combates, o Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) prepara-se para anunciar a sua decisão sobre o pedido efetuado pela África do Sul àquela instância judicial para ordenar um cessar-fogo imediato em Rafah. O requerimento foi efetuado a 16 de maio por representantes de Pretória, que solicitaram ao TIJ que intervenha naquela que considera ser “a última fase da destruição de Gaza e do povo palestiniano”.
Recorde-se que a África do Sul iniciou, em janeiro, um processo contra Israel tendo por base a alegação de que a ação militar coordenada por Benjamin Netanyahu para combater o Hamas constitui genocídio, violando a Convenção das Nações Unidas sobre o Genocídio, de 1948.
A tomada de posição do TIJ está a causar alguma apreensão no seio do Governo israelita, segundo relataram vários “altos funcionários” ao jornal israelita ‘Haaretz’. “A principal preocupação em Israel é que o tribunal – que há alguns meses o obrigou a aumentar a entrada de ajuda humanitária em Gaza, mas não emitiu uma ordem para parar a guerra – possa adotar desta vez uma posição mais dura, potencialmente expondo-o a sanções internacionais”.
OUTRAS NOTÍCIAS QUE MARCARAM O DIA:
⇒ O Gabinete de Guerra de Israel vai retomar as negociações com o Hamas com vista ao regresso dos reféns, paradas desde 10 de maio, após uma tentativa de acordo no Cairo que Israel recusou, anunciou aquela estrutura em comunicado citado pela Lusa. A decisão surge depois de o Egito ter ameaçado “retirar-se completamente da mediação no conflito”, devido a acusações de ter feito uma má gestão da última ronda de conversações, de acordo com o jornal ‘The Times of Israel’.
⇒ Israel repreendeu, esta quinta-feira, Espanha, Irlanda e Noruega, através dos embaixadores dos três países em Telavive, por terem anunciado, na quarta-feira, que vão reconhecer o Estado da Palestina a 28 de maio. “Haverá consequências graves para as relações com estes países na sequência da sua decisão”, afirmou Oren Marmorstein, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros israelita, num comunicado divulgado após o encontro com os representantes das três nações.
⇒ A secretária do Tesouro dos EUA disse temer “uma crise humanitária” caso Israel leve avante a ameaça de negar aos bancos palestinianos o acesso ao seu próprio sistema bancário, impedindo transações essenciais na Cisjordânia ocupada. “Estes canais bancários são essenciais para as transações que permitem a importação de cerca de 8.000 milhões de dólares (7.370 milhões de euros) de Israel, incluindo eletricidade, água, combustível e alimentos, e facilitam cerca de dois mil milhões de dólares (1.840 milhões de euros) de exportações por ano, das quais os palestinianos dependem para a sua subsistência”, advertiu Janet Yellen, citada pela Lusa.
⇒ A coordenadora do Bloco de Esquerda (BE), Mariana Mortágua, apelou esta quinta-feira ao ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, que quebre “o silêncio relativamente ao mandado do Tribunal Penal Internacional (TPI)”, que tem como alvo Benjamin Netanyahu, a par do seu ministro da Defesa e de três líderes do Hamas, noticiou a Lusa. Para a líder bloquista, Portugal deve seguir o caminho trilhado por França e Alemanha, que já expressaram o seu apoio ao TPI e ao seu mandado de captura, sendo obrigados a deter o chefe do Governo israelita se este se deslocar a um dos dois países. “Não devemos exigir menos em Portugal”, rematou.