Guerra no Médio Oriente

África do Sul volta a Haia para tentar travar ofensiva de Israel em Rafah, Telavive envia reforços (guerra, dia 212)

Tribunal Internacional de Justiça, em Haia
Tribunal Internacional de Justiça, em Haia
Anadolu

No primeiro de dois dias de audiências no principal tribunal da ONU, Pretória instou os juízes a ordenar um cessar-fogo imediato em Rafah, descrevendo a operação israelita na cidade como a “última fase da destruição de Gaza e do povo palestiniano”. O apelo coincidiu com o anúncio por parte de Israel de que vai enviar mais tropas para aquele território palestiniano para “desgastar o Hamas”

Maria Monteiro

Jornalista

A África do Sul instou, esta quinta-feira, os juízes do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) a ordenar um cessar-fogo imediato em Rafah, cidade no sul da Faixa de Gaza que tem estado no centro das operações militares israelitas na última semana e onde estavam refugiados mais de 1,4 milhões de palestinianos obrigados a abandonar as suas casas ao longo de sete meses de guerra.

“Ao atacar Rafah, Israel está a atacar o 'último refúgio' em Gaza e a única área restante da Faixa de Gaza que ainda não foi totalmente destruída por Israel”, lê-se no requerimento apresentado e citado pela agência Lusa. “Como principal centro da ajuda humanitária a Gaza, se Rafah cair, Gaza também cairá”, argumentou a África do Sul.

Esta é a quarta vez que Pretória pede à mais alta instância judicial da ONU medidas de emergência para travar a ação militar israelita na Palestina, no âmbito de um processo iniciado em janeiro por África do Sul contra Israel, tendo por base a alegação de que a ação militar ordenada por Benjamin Netanyahu na guerra contra o Hamas constitui genocídio, lembra a Al Jazeera.

"A África do Sul esperava, na sua anterior comparência neste tribunal, pôr termo a este processo de genocídio, a fim de preservar a Palestina e o seu povo", declarou Vusimuzi Madonsela, o representante de Pretória, perante os juízes. “Em vez disso, o genocídio de Israel prosseguiu a bom ritmo e acaba de atingir um novo e horrível nível”, vincou. Vaughan Lowe, um dos advogados da África do Sul, considerou que a ação israelita em Rafah “é a última fase da destruição de Gaza e do povo palestiniano”.

Segundo a Lusa, no novo recurso ao TIJ, Pretória solicita a implementação de três novas medidas urgentes: Israel deve “retirar [as suas tropas] e cessar imediatamente a sua ofensiva militar” em Rafah, “adotar todas as medidas eficazes” para permitir “o acesso sem obstáculos” de trabalhadores humanitários, jornalistas e investigadores a Gaza e apresentar relatórios sobre as ações executadas para dar resposta às ordens judiciais referidas.

Em janeiro, aquando da ação judicial interposta por Pretória contra Israel, acusado de violar a Convenção das Nações Unidas sobre o Genocídio, de 1948, o TIJ ordenou a Israel que fizesse tudo o que fosse preciso para evitar qualquer ato de genocídio e permitir a entrada de ajuda humanitária na Faixa de Gaza, mas não chegou a requerer um cessar-fogo. Nesse sentido, a África do Sul pretende que os juízes voltem a tomar uma posição.

Na sexta-feira, Israel terá oportunidade de responder às acusações, tendo previamente assinalado o seu empenho “inabalável” na aplicação do direito internacional e classificado a queixa sul-africana como “totalmente infundada” e “moralmente repugnante”.

Note-se que as ordens do TIJ, criado para resolver conflitos entre os países, são juridicamente vinculativas, mas o tribunal não tem meios para fazê-las cumprir – exemplo disso foi a ordem dada à Rússia, em março de 2022, para pôr fim à invasão da Ucrânia.

O apelo da África do Sul coincidiu com o anúncio, por parte de Israel, de que serão enviados reforços para a incursão terrestre em Rafah. “Esta operação vai continuar com a entrada de forças adicionais [na zona]”, informou em comunicado o ministro da Defesa, Yoav Gallant, acrescentando que “vários túneis na área foram destruídos” pelas forças israelitas e que “outros túneis serão destruídos em breve”.

Argumentando que “o Hamas não é uma organização se que possa reagrupar”, já que “não tem tropas de reserva (...) reservas de abastecimento” e “capacidade para tratar” os seus combatentes, o governante afirmou que as manobras israelitas estão a “desgastar” o grupo.

OUTRAS NOTÍCIAS QUE MARCARAM O DIA

⇒ Os EUA ancoraram, esta quarta-feira, um cais flutuante temporário numa praia de Gaza para aumentar a entrega de ajuda humanitária, avançou a Reuters. O plano para a construção da estrutura tinha sido anunciado pelo Presidente Joe Biden em março, altura em que as organizações humanitárias suplicaram a Israel que melhorasse o acesso dos abastecimentos de ajuda humanitária por terra. A instalação do cais flutuante abrirá mais uma rota para a entrega de bens essenciais, por via marítima, que Washington espera poder abrandar a crise humanitária que predomina no território.

⇒ Os Houthis, grupo rebelde iemenita que, a par do libanês Hezbollah, tem levado a cabo vários ataques contra Israel em solidariedade com a resistência palestiniana, anunciaram, num discurso transmitido pela televisão, que qualquer navio que se dirija a Israel e que esteja dentro do alcance das suas capacidades militares será atingido. Os ataques dos houthis a embarcações com ligações a Israel ou destinados a apoiar a sua defesa têm acontecido desde os primeiros dias da guerra, mas até agora eram limitados ao Mar Vermelho.

⇒ A Liga Árabe, formada por 22 países, pediu o envio de “forças de proteção internacional e de manutenção da paz das Nações Unidas para os territórios palestinianos ocupados” até que seja implementada a solução dos dois Estados. De acordo com a Lusa, a Declaração do Bahrein encoraja ainda os membros da organização a “tomar medidas imediatas e a comunicarem com os seus homólogos de todo o mundo para os instar a reconhecerem rapidamente o Estado da Palestina".

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