A morte de três filhos do líder do Hamas num ataque e a recusa britânica de parar venda de armas a Israel: foi assim o 187º. dia de guerra
Ismail Haniyeh
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Joe Biden diz discordar da abordagem de Israel à guerra, depois de Benjamin Netanyahu ter reafirmado a promessa de prosseguir com a invasão de Rafah. David Cameron garante que a exportação de armas para Israel vai continuar. Num ataque aéreo, morreram três dos filhos do líder político do Hamas. Eis os destaques do 187º. dia de guerra no Médio Oriente
O Hamas já foi “derrotado” militarmente, mas os seus remanescentes permanecerão durante anos em Gaza. A convicção foi manifestada pelo ministro do Gabinete de Guerra de Israel Benny Gantz. que os seus remanescentes permanecerão na Faixa de Gaza durante anos. “Do ponto de vista militar, o Hamas está derrotado. Os seus combatentes foram eliminados ou estão escondidos.” Mas a derrota total sobre o grupo palestiniano levará mais tempo, sustentou o governante sem pasta, prevendo que os israelitas que hoje frequentam a escola combaterão a milícia no futuro.
Confiante de que as capacidades da milícia palestiniana estão "enfraquecidas", Gantz afirmou que a vitória total chegará "passo a passo". O ministro também avisou que Israel "não vai parar" e que as suas tropas vão finalmente entrar na cidade de Rafah: “Onde quer que haja alvos terroristas, as FDI [Forças de Defesa de Israel] lá estarão”.
Horas antes, tinha sido tornada pública uma entrevista de Joe Biden à “Univision”, um canal norte-americano de língua espanhola, na qual o Presidente dos EUA disse que o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, está a cometer um “erro” em Gaza. “Acho que o que ele está a fazer é um erro. Não concordo com a sua abordagem.” Foram as palavras de Biden, depois de, na semana passada, ter alertado que o apoio contínuo dos EUA à guerra dependia de Israel permitir a entrada de mais alimentos e medicamentos.
Paulo Rangel, ministro português dos Negócios Estrangeiros
A entrevista de uma hora foi gravada na quarta-feira passada, dias depois de ataques militares israelitas que resultaram na morte de sete trabalhadores humanitários da World Central Kitchen. Biden definiu como “ultrajante” o acontecimento, e apelou a uma pausa nas hostilidades. “O que peço é apenas um cessar-fogo, e que os israelitas permitam durante as próximas seis, oito semanas, acesso total a todos os alimentos e medicamentos que entram no país", declarou o chefe de Estado norte-americano.
Já David Cameron confirmou, nesta quarta-feira, que o Governo do Reino Unido não suspenderá as exportações de armas para Israel, após a morte dos sete trabalhadores humanitários na semana passada. Cameron insiste que o Reino Unido continua a agir dentro do direito internacional, e disse que reviu os pareceres jurídicos mais recentes sobre a situação no terreno. Os governantes britânicos têm, apesar disso, “graves preocupações” quanto ao acesso humanitário em Gaza, garantiu Cameron.
As negociações para um cessar-fogo podem ter-se complicado, depois de o líder supremo do grupo islamita Hamas, Ismail Haniyeh, ter acusado Israel de matar três dos seus filhos num ataque aéreo na Faixa de Gaza, motivado por um "espírito de vingança e assassínio". Hazem, Ameer e Mohammed Haniyeh foram mortos, juntamente com outros membros da família, no ataque perto do campo de refugiados de Shati, na cidade de Gaza. "Qualquer pessoa que acredite que atacar os meus filhos levará o Hamas a mudar de posição está a delirar", replicou o líder do movimento que se tornou o Hamas no final da década de 1980.
Ismail Haniyeh é hoje considerado o líder geral do grupo guerrilheiro. Foi preso em 1989 pelos israelitas, tendo depois, em 1992, passado algum tempo, entre Israel e o Líbano. De regresso a Gaza, em 1997, foi encarregado do gabinete de Ahmed Yassin - um dos fundadores do Hamas e seu líder espiritual -, que foi morto num ataque de helicóptero israelita em 2004. O episódio aumentou a influência de Ismail Haniyeh, que acabou por ser eleito primeiro-ministro palestiniano pelo seu Presidente e líder do grupo rival Fatah, Mahmoud Abbas, quando o Hamas conquistou o maior número de assentos nas eleições de 2006.
Um ano depois, porém, eclodiram os combates entre o Hamas e o Fatah, acabando com a expulsão do Fatah de Gaza. Os territórios palestinianos entre a faixa controlada pelo Hamas e a Cisjordânia, liderada pela Autoridade Palestina, foram separados. Foi o que catapultou Haniyeh ao estatuto de “líder de facto do Hamas na Faixa de Gaza” entre 2007 e 2017, onde permaneceu até ser sucedido por Yahya Sinwar. Hoje, no Catar, onde reside, atua como interlocutor político entre o Hamas, o Catar, o Irão e outras potências internacionais.
⇒ As forças hutis do Iémen anunciaram que atacaram quatro navios no golfo de Aden, incluindo um navio de guerra norte-americano, mas os EUA até agora não reagiram a qualquer ataque. O porta-voz militar huthi, Yahya Sarea, disse num discurso transmitido pela televisão que as forças navais rebeldes levaram a cabo durante a manhã desta quarta-feira quatro operações contra "dois navios israelitas", um navio "norte-americano" e um navio de guerra também dos EUA.
⇒ Pelo menos três palestinianos ficaram feridos, depois de terem sido baleados num ataque de colonos judeus perto da cidade de Ramallah, na Cisjordânia, informou o Crescente Vermelho Palestiniano. "As equipas de ambulância do Crescente Vermelho Palestiniano transferiram três pessoas que foram baleadas e feridas num ataque de colonos na cidade de Burqa, perto de Ramallah", disse a organização numa breve mensagem na conta da rede social X.
⇒ O ministro dos Negócios Estrangeiros israelita, Israel Katz, afirmou que Israel irá reagir a qualquer ataque realizado por parte do Irão, após as ameaças realizadas pelo líder supremo iraniano, ayatollah Ali Khamenei. "Se o Irão atacar a partir do seu próprio território, Israel responderá e atacará o Irão", declarou Katz na rede social X, garantindo que haverá retaliação por qualquer ofensiva em solo israelita.