World Central Kitchen reage à investigação de Israel sobre mortes de funcionários: “As IDF não podem investigar os seus próprios falhanços”
Ahmed Zakot/Reuters
A organização não-governamental World Central Kitchen (WCK), que cozinha e entrega refeições em zonas afetadas por guerras ou desastres naturais, e que perdeu sete funcionários num ataque de Israel aos carros onde seguiam, pede uma investigação independente ao sucedido. As Forças de Defesa de Israel já afastaram as pessoas envolvidas no incidente, mas a WCK diz que não podem ser os próprias militares do país envolvido no ataque a alcançar conclusões fiáveis
Apesar de as Forças de Defesa de Israel (conhecidas pela sigla inglesa IDF) terem assumido responsabilidades pelos erros fatais que mataram sete funcionários da World Central Kitchen (WCK), esta organização não-governamental de apoio humanitário pede, num comunicado enviado às redações, que seja aberta uma investigação independente. A seu ver, “as IDF não podem, de forma credível, investigar os seus próprios falhanços”.
Esta manhã foi anunciado que Israel decidira afastar dois oficiais e emitir uma repreensão formal de comandantes superiores. O inquérito concluiu que as forças israelitas acreditaram estar a atacar membros do Hamas e não as carrinhas onde seguiam os voluntários.
Mesmo assim, conclui o inquérito, não foram seguidos os procedimentos normais para ataques a alvos legítimos. “O ataque aos veículos de ajuda é um erro grave resultante de uma falha grave devido a uma identificação incorreta, a erros na tomada de decisões e a um ataque contrário aos procedimentos operacionais”, afirmaram as IDF num comunicado divulgado esta sexta-feira e citado pela agência Reuters.
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A WCK admite que “o reconhecimento das responsabilidades e dos erros fatais” e a “ação disciplinar” conta os potenciais culpados são “passos na direção certa”. No entanto, esta “investigação preliminar também deixa claro que as IDF utilizaram força letal sem ter em conta os seus próprios protocolos, a cadeia de comando e as regras de atuação”, diz a ONE.
Mais: “As IDF reconheceram que as nossas equipas seguiram todos os procedimentos de comunicação adequados e o próprio vídeo das IDF não mostra qualquer motivo para disparar contra os nossos veículos e o nosso pessoal, que não transportava armas e não representava qualquer ameaça”.
Haverá mais fracassos
A morte dos sete trabalhadores humanitários, entre eles cidadãos britânicos, australianos e polacos, um canadiano com dupla nacionalidade americana e um colega palestiniano, provocou uma onda de indignação mundial. A WCK trabalha há mais de uma década em cenários de guerra ativos e em rescaldo, e em locais atingidos por desastres naturais, para entregar comida com alto valor nutritivo a populações deslocadas ou isoladas.
Pouco depois de se estabelecerem em Kharkiv, na Ucrânia, meses após o início da guerra na Ucrânia, a sua cozinha foi atacada por um míssil russo e uma pessoa morreu. O comunicado da organização relativo a Israel reforça que “sem uma mudança sistémica, haverá mais fracassos militares, mais pedidos de desculpa e mais famílias de luto”, referindo que “a causa principal do ataque injustificado contra o nosso comboio de veículos é a grave falta de alimentos em Gaza”.
Esta sexta-feira, Israel afirmou que iria abrir mais rotas de ajuda a Gaza, incluindo o posto fronteiriço de Erez, horas depois deo Presidente dos Estados Unidos ter telefonado ao primeiro-ministro israelita. Joe Biden anunciou a Benjamin Netanyahu que os Estados Unidos iriam reavaliar a sua política em relação a Israel se não tomasse medidas imediatas para resolver a situação humanitária e a segurança dos trabalhadores humanitários. O telefonema marca a primeira vez que Biden indicou estar disposto a reconsiderar o apoio.
A WCK exige a “criação de uma comissão independente para investigar”, porque “não basta simplesmente tentar evitar mais mortes humanitárias, que já se aproximam de 200, todos os civis têm de ser protegidos e todas as pessoas inocentes em Gaza têm de ser alimentadas”, disse o fundador da WCK, José Andrés, cozinheiro que é celebridade nos Estados Unidos. Criou um império de restaurantes cujos lucros ajudam a manter este projeto de assistência alimentar. Andrés reforçou ainda que “todos os reféns têm de ser libertados”.
O chef-celebridade José Andrés a cozinhar uma das suas famosas paellas gigantes
A diretora da WCK, Erin Gore, disse que as desculpas pela morte dos colegas não servem de muito, são “um conforto frio para as famílias das vítimas”. Israel, acrescenta, “precisa de tomar medidas concretas para garantir a segurança dos trabalhadores humanitários”.
As operações da WCK estão suspensas em Gaza. A organização tinha entrado na Faixa por mar, num navio humanitário, o Open Arms, com toneladas de comida pronta a distribuir e outros ingredientes para continuar a cozinhar no terreno. Neste momento, e em virtude do ataque, a sua ajuda não chega a quem de direito.