Guerra no Médio Oriente

Cosgrave não é o único debaixo de fogo por falar da guerra: posição pró-Palestina, anti-Israel ou silêncio estão a “condenar" empresas

Paddy Cosgrave
Paddy Cosgrave
Ramsey Cardy

Depois da Web Summit, também na Starbucks eclodiu um grande conflito entre a direção e os trabalhadores. Nos EUA, estão também a ser negadas oportunidades de trabalho por causa de publicações nas redes sociais. Em causa, a posição adotada quanto à guerra entre Israel e o Hamas, que está a deixar os representantes das grandes empresas sob fortes críticas

Paddy Cosgrave não foi o único diretor executivo a enfrentar problemas na sua organização após manifestar algumas ideias no contexto da guerra entre Israel e Hamas. Cosgrave demitiu-se das funções na Web Summit no sábado, poucos dias depois de ter divulgado uma longa mensagem denunciando os ataques do Hamas e pedindo desculpa pelo momento do seu primeiro ‘tweet’, em que defendendia que os crimes de guerra eram crimes de guerra “mesmo quando cometidos por aliados". O cocriador da PayPal David Marcus chegou a referir que “nunca mais” participaria em nenhum dos eventos do cofundador da Web Summit. Ainda assim, empresas como a Google, Meta, a alemã Siemens e a produtora norte-americana de chips Intel começaram a retirar-se em catadupa.

De acordo com a AP, outra das empresas que registaram conflitos internos por causa de posições em relação à guerra de Israel contra o Hamas foi a Starbucks. A multinacional norte-americana acusou um sindicato (Starbucks Workers United) que representa cerca de nove mil baristas em mais de 360 lojas dos EUA de prejudicarem a marca e colocarem colegas de trabalho em perigo por causa um ‘tweet’ pró-Palestina. O conteúdo na rede social “X” - com as palavras “Solidariedade com a Palestina” - foi publicado pelo Starbucks Workers United dois dias após os ataques do Hamas. A publicação foi retirada 40 minutos depois, mas, segundo a empresa, mais de mil reclamações foram apresentadas. A Starbucks também alega que foram cometidos atos de vandalismo e irromperam “confrontos inflamados” depois daquela intervenção online. A empresa multinacional avançou com uma ação judicial para impedir que o Starbucks Workers United usasse o seu nome e um logótipo semelhante. O sindicato respondeu com outro processo alegando que a Starbucks difamou o Starbucks Workers United ao sugerir que os seus membros apoiam o terrorismo, e publicou uma mensagem mais longa referindo a “ocupação” de Israel e as “ameaças de genocídio que os palestinianos enfrentam”.

Muitas empresas dos Estados Unidos mantêm com Israel fortes laços de proximidade, especialmente grandes tecnológicas e consultoras. Ativistas dos direitos do mundo islâmico têm reivindicado que muitas organizações estão a menosprezar o sofrimento vivido em Gaza - sujeita a ataques aéreos israelitas - e que têm criado um ambiente hostil e de medo para os trabalhadores, inviabilizando assim as manifestações pró-Palestina. Por outro lado, alguns grupos judaicos têm sido críticos de empresas que demoram a reagir ou censuram parcamente os ataques do Hamas a 7 de outubro.

Para várias empresas, contudo, foi claro que postura deveriam adotar. Representantes da J.P Morgan Chase & Co. (empresa de serviços financeiros), do banco de investimentos Goldman Sachs, da Google e da Meta foram rápidos a condenar as ações do Hamas, expressando solidariedade com o povo de Israel através de declarações públicas e publicações nas redes sociaiss, e prometendo milhões de dólares em ajuda humanitária e proteção para os funcionários em Israel.

Albert Bourla, diretor executivo da Pfizer, referiu, no LinkedIn e numa carta aos funcionários, que tem conversado frequentemente com amigos e familiares que se encontram em Israel e expressou horror em relação aos relatos de “civis mortos a sangue frio, reféns e pessoas torturadas.” Em seguida, a farmacêutica anunciou uma campanha de ajuda humanitária.

Jonathan Neman, que lidera a cadeia de restaurantes Sweetgreen, foi um dos vários líderes empresariais que prometeram nunca contratar estudantes de Harvard que pertencessem a grupos que assinaram uma declaração culpando Israel pela violência. Na mesma linha, a Winston & Strawn, escritório de advogados com dimensão internacional, rejeitou contratar um estudante da Universidade de Nova Iorque que escreveu numa publicação da Ordem dos Advogados para estudantes que Israel era inteiramente culpado pelo derramamento de sangue. O Conselho de Relações Americano-Islâmicas, que advoga pelos direitos civis dos muçulmanos, denunciou as ações contra os estudantes e as declarações de líderes empresariais dos EUA que “carecem de qualquer simpatia para com os civis palestinianos”.

De acordo com a organização, essa abordagem coloca “os palestinianos e aqueles que apoiam os direitos humanos palestinianos isolados nos seus locais de trabalho e com medo de possíveis represálias".

A diretora-executiva da empresa de tecnologia Accenture, Julie Sweet, resolveu dividir uma doação de 3 milhões de dólares entre os serviços de emergência Magen David Adom, de Israel, e a Cruz Vermelha Palestiniana.

Outras empresas, que se mantiveram discretas quanto ao tema, estão debaixo de ferozes críticas. A AP aponta que Allison Grinberg-Funes, uma cidadã judia, escreveu no LinkedIn que ficou desapontada com o fracasso dos seus colegas em contactá-la imediatamente após os ataques do Hamas, e por a sua empregadora, a Liberty Mutual, não ter condenado publicamente os ataques.

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