Guerra no Médio Oriente

Internet praticamente desativada em Gaza: "É para evitar que o mundo saiba o que está a acontecer aos palestinianos e para os desumanizar"

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À medida que se somam os ataques aéreos israelitas contra a Faixa de Gaza, as telecomunicações e o funcionamento da internet ficam cada vez mais comprometidos. Leila Farsakh, analista palestiniana, diz ao Expresso que o objetivo é que o mundo não veja o sofrimento dos civis de Gaza. Pelo contrário, Israel quer investir no robustecimento da sua internet e está em conversações com a SpaceX, de Elon Musk

“É impossível ter empatia em relação ao que não vemos ou conhecemos. Como podemos relacionar-nos com essa realidade ou compreendê-la?”. Leila Farsakh, analista palestiniana de Ciência Política, refere-se desta forma à inacessibilidade dos palestinianos de Gaza a um sinal de internet cada vez mais raro e errático. Israel admitiu, nesta terça-feira, que está em conversações com a SpaceX, de Elon Musk, para que a empresa instale um satélite Starlink que ajude a reforçar as comunicações em tempo de guerra durante a incursão na Faixa de Gaza. As localidades que se situam ao longo da fronteira, mas do lado israelita, teriam assim sinal ininterrupto de internet. Por outro lado, o Ministério das Comunicações de Israel está a considerar o corte total do serviço de internet e de telefone em Gaza.

Além do cerco total anunciado pelo Ministério da Defesa, que impõe a interrupção do fornecimento de água, alimentos, luz, gás natural e eletricidade em Gaza, há 2,2 milhões de pessoas que viram o contacto com o mundo exterior comprometido. Ataques aéreos de Israel contra o Hamas visaram infraestruturas de telecomunicações. Na semana passada, foram destruídas duas das três principais linhas de comunicações móveis que ligam Gaza ao exterior, segundo as Nações Unidas. “Se houver mais algum dano, resultará numa interrupção completa dos serviços de comunicação”, alertou a Empresa de Telecomunicações da Palestina (PalTel), a maior empresa de telecomunicações a operar em Gaza. É essa, aliás, a única fornecedora que está a impedir o apagão total. Embora os nove fornecedores locais de serviços de internet de Gaza tenham parado de funcionar, a Paltel é o maior fornecedor palestiniano, com ligações na Faixa de Gaza e em toda a região.

A sede da operadora também ficou inviabilizada na sequência dos ataques aéreos. Dos cinco ou seis andares do edifício, restaram apenas dois, avança o site “POLITICO”. A escassez de energia também já começou a afetar o funcionamento das empresas responsáveis pela rede: a única central elétrica de Gaza parou de funcionar depois de ter ficado sem combustível. Têm sido utilizados, em vez disso, geradores que fornecem energia a edifícios e infraestruturas e permitem o carregamento de telemóveis e computadores dos civis palestinianos. As operadoras estão, também por isso, a ter dificuldades em reparar os danos.

Uma das operadoras de internet em Gaza, a Fusion, escreveu, após os ataques israelitas, na rede social Facebook: “As nossas equipas estão a trabalhar arduamente para alcançar e reparar a zona de colapso, apesar das condições difíceis e perigosas.”

O site “POLITICO” refere que, na segunda-feira, a conectividade no enclave caiu drasticamente, de uma média de 97% até ao ataque do Hamas a Israel, a 7 de outubro, para 58%. Os dados foram recolhidos pela empresa de monitorização da internet NetBlocks. De acordo com a CNN, a conectividade total na região está atualmente em 38,9%. O campo de refugiados de Nuseirat, atingido por ataques aéreos israelitas, foi um dos locais onde se registaram maiores danos.

Os fornecedores de internet palestinianos apenas oferecem serviços de rede 2G, bastante mais lento do que o 3G, e também mais vulnerável a ataques de segurança devido à fraca encriptação. De acordo com a ONU, alguns palestinianos que vivem perto da fronteira com Israel também conseguem captar sinal 3G ou 4G.

Para a analista palestiniana Leila Farsakh, “a razão pela qual Israel está a cortar os sinais da Internet é precisamente para evitar que o mundo saiba o que está a acontecer aos palestinianos em Gaza e para os desumanizar ainda mais”. Já Rex Brynen, investigador de Ciência Política, na Universidade de McGill, no Quebec, Canadá, diz ao Expresso que “Israel tem duas razões principais para bloquear o tráfego da Internet: tornar mais difícil a comunicação do Hamas e tornar mais difícil a reportagem dos jornalistas”. Os jornalistas que, por estes dias, têm tentado comunicar com as suas fontes habituais na Faixa de Gaza têm sentido grandes dificuldades.

Israel “desliga” internet em Gaza, mas quer reforçar o seu acesso

A “Bloomberg” avança, nesta terça-feira, que, em contrapartida, que Israel está em conversações com a empresa SpaceX, de Elon Musk, com o objetivo de robustecer a sua ligação à internet e as comunicações durante o ataque terrestre à Faixa de Gaza. De acordo com o Ministério das Telecomunicações israelita, as cidades que estão perto da linha da frente teriam, assim, serviço contínuo de internet e o Starlink serviria como uma solução de segurança caso a rede local falhe.

Israel quer ainda suspender na totalidade os serviços de internet e telefone em Gaza, além de proibir o funcionamento da “Al-Jazeera” no país, uma empresa de comunicação social com origem no Catar, mas que serve os propósitos da “propaganda do Hamas”, revela o ministério.

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