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Médio Oriente

“Estar aqui é ver as portas do céu abertas para todos”: reportagem no Iraque, na maior peregrinação anual do mundo

Monira Kourani, libanesa xiita, devota do imã Husein, que veio pela primeira vez a Karbala cumprir o sonho da sua vida de ver o tumulo do imã
Monira Kourani, libanesa xiita, devota do imã Husein, que veio pela primeira vez a Karbala cumprir o sonho da sua vida de ver o tumulo do imã
André Dias Nobre

Há 1344 anos, um homem foi morto numa batalha desigual na cidade de Karbala, hoje no sul do Iraque, a 100 quilómetros de Bagdade. Chamava-se Husein bin Ali, era neto do profeta Maomé e não tinha nenhum poder sobrenatural. Lutava pela liberdade de praticar livremente a sua religião e é até hoje a figura mais venerada do Islão xiita, um revolucionário do passado que move milhões no presente. Este ano, as celebrações de Arbaeen, que marcam os 40 dias após a morte de Husein em 680 d.C, trouxeram mais 21 milhões ao Iraque. Há quem tema que toda esta força possa ser mobilizada contra o Ocidente numa guerra generalizada no Médio Oriente

Ana França (texto) e André Dias Nobre (retrato), em Karbala

Monira saiu cedo do quarto. Ainda não eram 3h. Não precisa de dormir muito durante os três dias mais importantes da sua vida religiosa. Não vai perdê-los. Veste-se em silêncio, cobre-se com várias camadas de sedas negras que lhe esfumam as formas e sai. Lá fora ouvem-se cânticos e tambores. Passam bandeiras com o rosto do imã Husein.

Por volta das 9h regressa com um ar preocupado, não tira os olhos do telefone. “O meu filho estava em casa dos avós, no sul, agora mesmo durante o ataque, disse que foi o mais violento de que se lembra.”

O filho mais velho, este que está a relatar-lhe o rescaldo do ataque “preventivo” de Israel contra as posições da milícia libanesa xiita do Hezbollah, é ele mesmo soldado desta milícia, tal como o marido. Não puderam vir com ela porque a guerra pode alastrar a qualquer momento e eles podem ser mobilizados.

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